Discos dos anos 1960 marcam redescoberta de Brigitte Bardot

Compilação de seus maiores sucessos como cantora vira cult para novas gerações e alavanca trilhas de seus filmes

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Por Antonio Gonçalves Filho
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Brigitte Bardot não voltou a filmar ou gravar discos nos últimos 40 anos, mas, surpreendentemente, é a bola da vez nos ouvidos da nova geração. Prestes a completar 80 anos em setembro, Brigitte virou cult nas festas dos garotos. Seus discos voltaram às lojas e um CD em particular, The Best of Bardot (importado), é um sucesso de vendas. Vale lembrar que Brigitte canta nele até uma canção em português, Maria Ninguém, bossa nova composta por Carlos Lyra, que a atriz deve ter aprendido no verão de 1964, ao passar sua primeira temporada em Búzios, ao lado do playboy marroquino Bob Zagury.

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Bardot não era totalmente ignorante em música (ela estudou dança no Conservatório de Paris), a despeito da irregularidade do disco, que mistura duetos pop com outro namorado, o compositor Serge Gainsbourg (Bonnie and Clyde e a erótica Je T’Aime... Moi Non Plus), declarações de amor a motocicletas (Harley Davidson) e reminiscências da vida reclusa em sua mansão na praia de Saint-Tropez, após anunciar, em 1973, o fim da carreira (La Madrague, recentemente regravada por Loana).

Talvez o sucesso do disco se explique pela nostalgia de uma época revolucionária, que ouviu, chocada, em 1969, o registro de dois amantes simulando o gozo do ato sexual (Je T’Aime... Moi Non Plus, de Gainsbourg). Gainsbourg gravou a escandalosa canção primeiro com Bardot, em 1967, mas foi com a amante inglesa Jane Birkin, dois anos depois, que a música se tornou popular (a versão com BB só seria lançada em 1986). Outra razão nostálgica: o discurso feminista de autonomia na canção Harley Davidson ("Je n’ai besoin de personne/en Harley Davidson/Que m’importe de mourir/ en Harley Davidson").

Talvez, como diz a letra da referida canção, ela não precisasse mesmo de ninguém, montada, soberana, numa Harley Davidson, ou até mesmo não se importasse de morrer sobre a motocicleta, conforme o verso final, mas o fato é que tudo virava marketing no mundo musical de Bardot. Desde os cabelos cuidadosamente despenteados ao short de couro preto – justo como a necessidade –, o visual das capas dos discos de BB importava mais que o conteúdo. Em seu disco de maior apelo popular, Brigitte Bardot Show (1968), a atriz surge nua, provocante, embrulhada apenas em papel pardo, como se fosse um presente. E lá dentro o ouvinte encontrava novamente a devoradora de homens cantando a pífia Harley Davidson, ou revelando ter encontrado o próprio diabo morando num prédio de 100 metros de altura em Carnaby Street (Le Diable est Anglais).

O grande apelo das canções de BB, além da melodia rudimentar e do ritmo pop, é a letra, fácil de decorar, martelando na cabeça do ouvinte até que ele perca o senso crítico e vá para a pista dançar ao som de Oh! Qu’il Est Villain. Os Beatles foram os primeiros a perceber que essa mistura dava samba – perdão, rock. Lennon e McCartney eram fascinados por Bardot. Até cogitaram fazer um musical com ela. Não deu certo, mas BB apareceu cantando em vários de seus filmes, de Viva Maria (dirigida por Louis Malle) a Boulevard do Rum, em que ela, inesquecível, canta Plaisir d’Amour sentada num barril de rum, à deriva no oceano.

Acompanhando o revival Bardot, as duas trilhas foram relançadas na Europa em edições limitadas. Assim como Marilyn Monroe e Marlene Dietrich, ela virou item de colecionador. A série francesa Écoutez le Cinéma dedicou a ela o relançamento de outras (lindas) trilhas de seus filmes, O Repouso do Guerreiro e Le Mépris ( O Desprezo).

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