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Dio, 64 anos, mesmo prazer no palco

Por Agencia Estado
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Aos 64 anos, completados na última segunda-feira, e meio século de carreira, era natural que já Dio estivesse ao menos pensando em se aposentar. Não por causa da idade, mas pela colaboração que já deu ao rock pesado. Mas o baixinho parece que não cansa. Brinca com a idade (?Acho que estou ficando velho, né??), está metido em vários projetos e percorre o mundo numa turnê que chega ao Brasil neste semana. Ronnie James Dio, 1,63 m de altura, é um dos expoentes máximos do heavy metal. Desde 1957 na ativa, foi vocalista do cultuado Rainbow, ao lado do lendário guitarrista Ritchie Blackmore, quando o instrumentista deixou o Deep Purple. Logo em seguida, pegou um tremendo abacaxi: substituir Ozzy Osbourne no Black Sabbath. Não só o fez, como o fez muito bem. Deixou sua marca na biografia da banda, gravando quatro discos, três deles clássicos. Depois, resolveu seguir carreira solo. Lançou, em 1983, seu primeiro e melhor trabalho solo, Holy Diver, que agora serve de base para a nova turnê. Em entrevista ao Estado, Dio se revelou o oposto do que aparenta nas fotos. Ao contrário do ar malvado, o músico é atencioso e simpático. Pediu desculpas pelo atraso de dez minutos na entrevista e se referiu ao interlocutor a todo momento de ?kid?. Na conversa, detalhou seus novos projetos, que inclui um filme com Jack Black e uma parceria com o guitarrista Tony Iommi, do Black Sabbath, deu sua opinião sobre a venda de músicas na internet e falou de futebol. ?Acho que vocês devem estar bem tristes?, disse ele, que torcia pela Itália e deve estar bem feliz com a vitória da Azzurra. Seu aniversário é na segunda (a entrevista foi feita na sexta, dia 7)? Você está fazendo 64 anos. Meus parabéns. Sim, 64. Obrigado. Acho que estou ficando velho, né? Como você se sente estando de volta ao Brasil? Como é tocar por aqui? É sempre muito bom tocar no Brasil. Muita diversão. As pessoas aproveitam o show, há muitos interessados em metal por aí. É bom poder dividir esse momento com o público brasileiro. Você toca desde 1957. Ainda consegue sentir o mesmo prazer que antes quando sai em turnê, quando sobe num palco ou hoje já é apenas mais um trabalho ? Não, não, de maneira alguma. Nunca se tornou apenas um trabalho, nunca encarei dessa maneira. Para mim, nunca foi um trabalho tocar, sair em turnê e compor, nunca foi uma obrigação. Existe muito prazer, muita paixão, muita vontade de dividir com os fãs o que eu estou fazendo, o que eu estou procurando e descobrindo. Você está compondo um novo álbum ou está só em turnê? As duas coisas. Além da turnê, estou começando a escrever um novo álbum. Também estou compondo com Tony Iommi (guitarrista do Black Sabbath) para um conjunto de CDs que vai se chamar Black Sabbath: The Dio Years. Já escrevemos uma música e vamos compor uma segunda. Vou ter mais uma participação especial no trabalho, sabe? Havia rumores de que você voltaria a tocar com o Black Sabbath... Acho que é por causa da parceria com Tony para esse material especial. Mas não acho que seja possível eu voltar a tocar com o Black Sabbath. Não se trata de uma volta da banda, e sim de um trabalho comemorativo apenas. Eu adoro gravar com Tony, adoro compor com ele, é um músico genial. Fico orgulhoso de poder participar deste projeto com o Black Sabbath. Afinal, não tocamos juntos há 14 anos (depois de sua saída oficial da banda, Dio gravou um álbum com o conjunto em 92, chamado Dehumanizer). Você é um mito. Tocou com o Rainbow, com o Black Sabbath, lançou um álbum que é referência até hoje. Você sente a pressão quanto começa a compor um novo disco? Eu acho que isso não influencia no meu trabalho. Até porque não sinto a obrigação de ter de fazer um trabalho melhor do que o outro. Não penso que o álbum que estou compondo tem de ser melhor ou pior do que Holy Diver ou do que The Last in Line, por exemplo. Penso apenas em compor uma música de qualidade, fazer o que eu tenho de fazer. Acho que, mais do que tudo, a música tem de ser de qualidade. Esse álbum novo já tem data para sair ou nome? Não, ainda não. Não chegamos a esse ponto ainda. Tem muita coisa para fazer antes. Você está envolvido em outros projetos, não é mesmo? Acabei de gravar uma participação no disco novo do Queensryche, Operation: Mindcrime 2. Também participei de um filme com Jack Black, Tenacious D, The Pick of Destiny, e vai estrear em novembro aqui nos Estados Unidos. Pude representar a mim mesmo. O que você acha da troca de músicas livremente pela internet? Você é a favor ou contra? Por um lado, eu acho errado. Afinal, as gravadoras investem muito tempo e dinheiro na produção dos álbuns, na contratação dos artistas, na gravação. Então, deste ponto de vista, não é correto essa troca livre . Por outro lado, temos de ser realistas e saber que vai ser difícil conter esse tipo de coisa. Então, me desculpa, mas o que eu tenho a dizer a esse respeito é que não vou me preocupar com isso. Quero me preocupar apenas com a minha música, em fazer música de qualidade, sem pensar em dinheiro. Não vou dizer que não quero o dinheiro. Se o dinheiro vier, ótimo, mas esse não é o que importa para mim. O dinheiro vai ser uma conseqüência. Haverá alguma surpresa para os seus shows no Brasil? Basicamente vai ser o mesmo set list da turnê, que é baseado no álbum Holy Diver Live. Vamos tocar canções dos álbuns que eu gravei com o Sabbath, como Heaven and Hell, e com o Rainbow. Além, é claro, das músicas mais conhecidas, como Holy Diver e The Last in Line. O que você está ouvindo agora? Há alguma banda em especial que você goste ou recomende? Na verdade, não. Estou ouvindo as bandas de sempre. Quando estou compondo, não gosto de ouvir muita música para não roubar, inconscientemente, a melodia ou algo assim. Eu não recomendaria nada. Recomendaria que a pessoa ouça o que ela gosta e só. Mas o que você ouve quando não está compondo ou fazendo turnê? Vejo programas de esportes na TV. Ouço apenas muita música clássica, para relaxar. E o que você conhece da música brasileira? Gosta da música brasileira? Claro! Adoro Getz/Gilberto, de 63 (álbum que reuniu João Gilberto, Stan Getz e Tom Jobim). Adoro Tom Jobim, Astrud Gilberto e das músicas clássicas, como Garota de Ipanema. Conheço também o Sepultura. Você sabe que o baterista Iggor Cavalera deixou o Sepultura? Fiquei sabendo, sim. Agora estão sem os irmãos, o guitarrista e o baterista (o guitarrista Max Cavalera já havia saído da banda, em 97). Falando em esportes, o que vc achou do desempenho do Brasil na Copa do Mundo? Acho que vocês devem estar bem tristes. Eu sou Itália (ele é descendente de italianos; a entrevista foi feita antes da final). Acho que o Brasil tem um excelente time, mas a Copa do Mundo é assim. Principalmente porque um único jogo decide tudo. Eu não imaginava que os Estados Unidos fossem mais longe do que realmente foram. Acho que Portugal fez uma excelente Copa. A Ucrânia também foi muito bem. A Inglaterra é outra seleção que jogou bem. Enfim, gostaria que a Itália fosse campeã e que o vice fosse o Brasil. Serviço: Dio. Credicard Hall (7.000 lugares). Av. Nações Unidas, 17.955, 6846-6000. Sexta-feira, 22h. R$ 80 a R$ 200

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