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Depois de conquistar o mundo, querem o Brasil

Com trabalho consolidado no exterior, DJs brasileiros querem convencer mercado fonográfico interno da qualidade de sua música. O Estadao.com.br reuniu alguns dos principais DJs da cena atual para discutir a atual situação do pop eletrônico nacional, com reportagem de Rodrigo Savazoni

Por Agencia Estado
Atualização:

Não é de hoje que o pop brasileiro recebe influências de música eletrônica. Do inícios dos anos 70 com os Mutantes, passando pelos 80 do pós-punk inglês, sempre existiram artistas que flertaram com o gênero. No entanto, nesta década de 90, uma espécie de frenesi se espelhou em nosso cenário pop. De Daniela Mercury a Barão Vermelho, do rock ao samba, todos estão usando batidas e colagens eletrônicas em suas músicas. Por trás e paralelamente a esta onda, uma outra cena se formou. A dos produtores e DJs brasileiros, que após conquistar o velho mundo e as casas noturnas de São Paulo, estão se organizando para também conquistar o mercado fonográfico nacional. Na sede da gravadora Trama, o Estadao.com.br conversou com cinco dos principais DJs desta cena. Sentados à mesa, Xerxes, Ramilson Maia, Anderson Soares, Guilherme Lopes e Jr. Deep debateram os mais variados temas. Entre eles, o que há de diferente no trabalho dos brasileiros (que acabou por conquistar o público e os artistas ingleses), a dificuldade de atingir o mercado interno na mesma proporção em que atingem o externo e, principalmente, as origens e o futuro deste movimento que desponta no início do novo milênio. Xerxes, Ramilson, Anderson, Guilherme e Júnior, que cresceram em frente à uma mesa de som, colocando os colegas para dançar, hoje fazem parte do Sambaloco Records, selo da gravadora Trama que se tornou sinônimo de música pop eletrônica brasileira. Além deles, outros nomes importantes integram o catálogo da gravadora paulistana, como Marky (o maior DJ de drum´n´bass brasileiro), DJ Patife e Bruno-e. Bate-estaca - Criado em Julho de 99, o selo surgiu para mostrar como os DJs brasileiros fazem samba. Neste último ano, seus integrantes vibraram com o crescimento da cena de música pop eletrônica no Brasil, que ganhou dois grande festivais (Tribos Eletrônicas e Skol Beats) e reconhecimento por parte da mídia especializada. Porém, adotaram uma filosofia de resguardo. Não querem transformar um trabalho que lhes tomou grande parte da vida em algo descartável. "A gente ainda está no estágio de popularização da música eletrônica", afirma Bruno. "Ainda precisamos lutar contra o desgaste do termo música dance, que devido à explosão do euro-dance (ritmo que misturava músicas pop bem comerciais com bate-estaca) virou sinônimo de música ruim, comercial". Foram seis lançamentos do Sambaloco até agora: Sarau, do projeto Xrs Land (Xerxes), É Música, do Ram Science (Ramilson Maia), Discurso, de Bruno-e, The Sound of Drum ´n Bass, DJ Patife, e as coletâneas Sambaloco Compilation 1 e Progressive 1 Underground Compilation. Em Breve, Marky, lança seu novo álbum, o primeiro pelo selo, Anderson Soares põe no mercado House Essentials e os irmãos Guilherme Lopes e Júnior Deep lançam o projeto Drumagick. Samba do DJ - Há cerca de quatro meses o selo foi citado na revista Wax, um dos principais magazines britânicos de música eletrônica pop. Na matéria, de seis páginas, os repórteres do Reino Unido descrevem o que faz dos produtores da SambaLoco nomes importantes internacionalmente: a música brasileira que anexam em suas composições. Sem exceção, os produtores do SambaLoco defendem o uso de elementos brasileiros. "Eu diria que as pessoas esperam muito do Brasil quando se trata de música popular. Sempre olham para cá procurando algo de novo. No caso do Sambaloco, tivemos atenção porque somos os primeiros a nos organizar em torno de uma estrutura sólida", explica Bruno-e, fundador e atual diretor artístico do selo. Bruno não esconde que privilegia os produtores tipicamente brasileiros, porém não impõe essa estética para os músicos. A liberdade de compor é outra das marcas do selo. A idéia é estar sempre em sintonia com a cena do País: "Não queremos aplicar o golpe da Carmen Miranda e do Pelé. Não queremos reafirmar os estereótipos", explica. "Somos considerados lá fora pelo fato de eles gostarem do jeito que programamos as batidas. Não precisamos colocar um abacaxi na cabeça.", emenda.

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