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Debate com Zuenir Ventura e ‘Terra em Transe’ dão início à mostra ‘50 anos de 1968'

Jornalista Zuenir será centro do bate-papo que começa às 19h, antes do longa de Glauber; mostra será no Conjunto Nacional

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

A Mostra 50 anos de 1968 começa hoje com Terra em Transe, um filme de 1967. Mas ninguém se preocupe com a cronologia exata, pois Glauber Rocha foi premonitório ao pressentir, com ao menos um ano de antecedência, o clima febril que viria em seguida – o chamado “ano que não terminou”. Aliás, a expressão é título do livro reportagem de Zuenir Ventura, cuja primeira edição foi lançada em 1988, quando o ano mítico comemorava seus 20 aninhos. O próprio Zuenir será centro do bate-papo que às 19h antecede a exibição do longa de Glauber no Cinearte Petrobrás. A mostra acontece no tradicional cinema do Conjunto Nacional, que agora recebe patrocínio da empresa petrolífera e a incorpora a seu nome. A projeção começa às 20h30. 

Terra em Transe Foto: Arquivo/Estadão

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Depois de Terra em Transe, serão exibidos outros longas que expressam “o espírito de 68”, como Acossado, de Jean-Luc Godard, A Primeira Noite de um Homem, de Mike Nichols, e o recente No Intenso Agora, de João Moreira Salles. As exibições serão sempre às 19h, com ingresso gratuito. A programação da segunda semana da mostra será divulgada na próxima segunda-feira. 

Em Terra em Transe vemos um país imaginário – Eldorado – que tem tudo a ver com o Brasil. E também com outros países reais da América Latina. Porfírio Diaz, Fuentes, Vieira: o tirano de vocação civilizatória, o capitalista inescrupuloso, o populista. E mais o intelectual dividido, Paulo Martins (Jardel Filho), o povo, a esquerda, a direita. Toda a geleia geral de uma sociedade febril, desordenada e polarizada, numa estética escrachada e carnavalizada. Terra em Transe prefigurava não apenas 68, mas a própria Tropicália, que incorporaria o escracho em sua poética. O filme diz tudo sobre o Brasil de então e o país de hoje. É coisa de gênio.

Com Acossado, Jean-Luc Godard meio que inaugura a estética cinematográfica dos sixties. Contrapondo-se ao cinema pesadão e literário dominante na França, os garotos da nouvelle vague (Godard era o mais ousado) propõe uma linguagem muito livre para narrar um amor bandido entre Jean-Paul Belmondo e Jean Seberg. Câmera na mão, cortes bruscos, montagem assimétrica – para dizer que uma época de maior instabilidade havia chegado. 

E de maior liberdade também, como expressa o romance entre o rapaz (Dustin Hoffman) e uma senhora de mais idade, Mrs. Robinson (Anne Bancroft) em A Primeira Noite de um Homem, de Mike Nichols.  Completa a primeira parte da mostra o belo No Intenso Agora. Uma narrativa que incorpora material doméstico (sobre a viagem da mãe do diretor à China) a imagens de arquivo sobre o maio de 68 francês, a repressão à Primavera de Praga e o ano de 1968 no Brasil, transe que culmina com o AI-5 e o acirramento da ditadura.

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