21 de setembro de 2015 | 01h20
RIO - O anúncio de Elton John e Rod Stewart na mesma noite é algo que não deve ser visto de novo tão cedo por aqui. E, mesmo no formato compacto para caberem em festivas como o Rock in Rio, o que eles fazem pode salvar as piores noites. Elton subiu com sua festa baile, sem ousadias. Quando quer se desafiar, ele usa os discos, não os shows. Sua voz ganhou o corpo da idade que lhe tirou das alturas, mas lhe deu um chão que nunca teve. E assim, valorizado pelo som das caixas cheio de brilho, cantou tudo o que um fã imagina, exatamente nesta ordem: The Bitch is Back, Bernie and the Jets, Candle in the Wind, Levon, Tiny Dancer, Philadelphia Freedom, Goodbye Yellow Brick Road. Antes de Rocket Man, elevou o suspense com um longo passeio pelo piano, solitário, até cair nos primeiros acordes reconhecíveis. Não fez nada do que não tenha feito nos últimos 30 anos e fez tudo.
Antes dele, Seal cantou quase que de forma decorativa para a grande parte do público, que aproveitava para circular, comer e ir ao banheiro. Mostrou músicas do disco novo, Seal 7, mas só ganhou atenção quando reviu canções já vitoriosas, como Kiss of the Rose.
TEMPO REAL: Rock in Rio 2015
Herbert não é mais o mesmo em muitos sentidos e, milagrosamente, o mesmo em outros. Seu solo de guitarra em Caleidoscópio segue com seu poder incendiário juvenil que, não raro, é abafado pela serenidade dos cinquentões. Sua voz em Meu Erro e em várias outras ganha um vibrato lento no grave. O homem que saía do anonimato diante das 250 mil pessoas em 1985 tinha peito para puxar as orelhas dos fãs que haviam acabado de vaiar amigos seus. O mesmo Herbert de agora, um sobrevivente que teve de se reconstruir por dentro e por fora depois de perder a mulher e parte de seus movimentos físicos em um acidente de helicóptero, em 2001. Noites como a deste domingo dizem a ele que tudo valeu a pena.
Sua primeira música, ao lado do baixista Bi Ribeiro e do baterista João Barone, foi Vital e Sua Moto, com o solo intacto e raivoso. Herbert tem o magnetismo que faz os fãs ficarem com ele até o fim. Escolheu depois fazer Inútil, do Ultraje a Rigor, talvez pelo grau de atualidade de sua letra. “A gente não sabemos escolher presidente...”, começa assim. A última música do show foi Que País é Este?. “Estamos aqui lutando por um País melhor. O Brasil pode dar certo. Vamos acreditar”, disse Barone, antes do sucesso da Legião Urbana.
O primeiro final de semana de Rock in Rio desenhou um arco de trás para frente sobre uma história de 30 anos do rock pop no País. Ver o Queen sem Freddie Mercury na sexta foi o primeiro choque que dividiu seus fãs ao meio. Uma parte aceitava o jogo de memórias afetivas que o guitarrista Brian May propunha. A outra passou a atacar Lambert nas redes sociais como se ele fosse um impostor incapaz, usando para isso desde sua sexualidade sugestiva até sua impostação exacerbada. Lambert canta muito e tem uma luz natural, um carisma que não se produz em American Idols. E isso lhe trará sempre problemas. Os fãs da banda, mesmo os que não gostam dele, devem agradecê-lo por possibilitar que o Brasil veja no mínimo Brian May e o baterista Roger Taylor juntos, como em um sonho, quando estão ainda em plena forma.
O Rock in Rio tem de quinta a domingo para viver seus últimos flashback. E, em 2017, quando não houver mais a bandeira dos 30 anos? Vão trazer o Metallica de novo? Não, precisam de um tempo para se livrar do trauma.
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.