David Bowie, representante máximo da reinvenção no pop, criou um personagem para sua morte
Músico inglês, que morreu aos 69 anos, era um devastador tornado de revoluções culturais atingindo pequenas e indefesas ilhas do Caribe.
Por Pedro Antunes
Atualização:
A música nunca foi a única expressão artística de David Bowie. Figura de distintas personalidades dentro de si, o inglês que morreu aos 69 anos se travestia a cada álbum, cada descoberta, a cada novo empreendimento. A música estava ali, como figura central, responsável por carregar o talento dele ao redor do Globo, mas Bowie fazia girar toda a máquina cultural. A questão nunca foi incluir uma guitarra ali, acertar o verso acolá e manter o topete bem ajeitado. Bowie era conceito no estado puro, a ideia vinha antes mesmo da criação da arte.
Inverter a ordem das coisas, ao posicionar o conceito a frente da ideia de deixar a arte fluir livremente em estado bruto, o inglês percorreu um caminho perigoso, pelo qual muitos caíram pelo caminho. Não para David Robert Jones, aquele garoto de Brixton, no sul de Londres. Para ele, trocar de pele, transmutar-se para dentro de outra persona sempre pareceu ser fácil demais. Ele queria ganhar o mundo. E chegar às estrelas.
15 fatos sobre David Bowie que você precisa saber
1 / 215 fatos sobre David Bowie que você precisa saber
David Bowie
O rosto de David Bowie aparece na capa de todos os seus discos, exceto na versão britânica de 'The Buddha Of Suburbia', de 1993, que é também a trilha... Foto: Getty ImagesMais
David Bowie
Escrita pelo jornalista e crítico musical Paul Morley, a biografia 'The Age Of Bowie' deve ser lançada ainda em 2016. O livro revê o auge da carreira ... Foto: Mick Rock/DivulgaçãoMais
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David Bowie era um devastador tornado de revoluções culturais atingindo pequenas e indefesas ilhas do Caribe. Força da natureza capaz de não deixar uma estrutura intacta. Levou o homem para o espaço sideral, quando o sonho da humanidade era ser capaz de pisar em solo lunar com Space Oddity, seu primeiro grande single. Aos poucos, foi caminhando em direção ao rock junkie, andrógino, livre, à passos largos para persona que muito consideram ser a sua mais relevante criação, Ziggy Stardust. O caminho de cinco anos entre o disco de estreia, que levava o nome de Bowie, de 1967, até a estreia de Stardust e a banda Spiders from Mars, já era o suficiente para consagrar qualquer artista – e fazer os acomodados acionarem o piloto automático. Em meia década, Bowie assolou o mundo com a apocalíptica The Man Who Sold The Word (1970) e mostrou a trinca: Life on Mars, Changes e Oh! You Pretty Things (de Hunky Dory, de 1971).
O espaço, a fronteira final para David Bowie. Desde que cantou a desventura de Major Tom, em Space Oddity, Bowie nunca mais deixou de olhar para as estrelas. Ali, buscou as respostas para sua personalidade roqueira definitiva. Incorporou Ziggy Stardust e sacudiu o mundo pós-Beatles, pós-hippies, quando a cultura do paz e amor começava a ruir e o mundo deixava as flores para trás. As apresentações acompanhado da Spiders From Mars se tornaram míticas, mas Bowie pôs fim a vida de Ziggy, e criou para si Aladdin Sane, personagem que dá nome ao seu próximo disco.
David Bowie no Brasil
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David Bowie no Brasil
O cantor David Bowie concede entrevista no Hotel Sheraton do Rio de Janeiro em 29/10/1997 Foto: OTAVIO MAGALHAES/ESTADÃO
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Show de David Bowie em São Paulo em 23/09/1990 Foto: CESAR DINIZ/ESTADÃO
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Show do cantor inglês David Bowie em 1990 em São Paulo Foto: LUIZ ALONSO/ESTADÃO
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Show do cantor David Bowie no Rio de Janeiro em 21/09/1990 Foto: MONICA ZARATTINI/ESTADÃO
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Show de David Bowie na casa de espetaculos Olympia durante turnêem setembro de 1990 emSao Paulo Foto: MAURILO CLARETO/ESTADÃO
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David Bowie durante a passagem do som para seu show no palco montado na Praça da Apoteose no sambódromo do Rio em 20/09/1990 Foto: MONICA ZARATTINI/ESTADÃO
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Show do cantor David Bowie em São Paulo em novembro de 1997 Foto: ROBSON FERNANDJES / ESTADÃO
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Outra imagem do cantor David Bowie em show de 1997 em São Paulo Foto: ROBSON FERNANDJES / ESTADÃO
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Show de David Bowie em 1997 em São Paulo Foto: ROBSON FERNANDJES / ESTADÃO
Desde então, de tempos em tempos, novos personagens nasceram e morreram através dos conceitos de Bowie. O inglês chancelou o funk e a disco music com seu The Thin White Duke, experimentou e exagerou no uso de cocaína, ajudou a criar a mística em torno de Berlim como capital europeia da música nos anos 1970, foi capaz de sobreviver à implacável década seguinte com hits dançantes, quando até os Stones sucumbiram.
Se despediu, aos 69 anos, ao flertar com o jazz experimental para o qual mundo não estava preparado para ouvir. De tão genial, criou um novo personagem para sucumbir perante a morte. Morreu como Blackstar. A figura de Bowie, afinal, é eterna.
David Bowie: discografia completa e comentada, do glam ao jazz
1 / 26David Bowie: discografia completa e comentada, do glam ao jazz
The Man Who Sold the World (1970)
Embora o disco anterior seja considerado pelo próprio Bowie um marco para seu início de carreira, foi com este álbum (lançado na Inglaterra no ano seg... Foto: ReproduçãoMais
David Bowie em quatro momentos
Morto aos 69 anos, oCamaleão do Rockhavia acabado de lançar o álbum 'Blackstar', mostrando uma face mais experimental, vanguardista. Trata-se do seu 2... Foto: MontagemMais
David Bowie (1967)
Estreia solo de Bowie. Ali, o músico mostrava a base do que viria a seguir, seu primeiro grande sucesso. Ouça: Love You till Tuesday Foto: Reprodução
David Bowie (1969)
Este, sim, é o primeiro passo do britânico para o estrelado. O álbum, também chamado de Space Oddity, trazia na canção homônima, a força motriz de Bow... Foto: ReproduçãoMais
Hunky Dory (1971)
Estouro ambicioso de Bowie, quando a persona glam que viria a seguir, Ziggy Stardust, começa a nascer. Ouça as mágicas: Life on Mars, Changes e Oh! Yo... Foto: ReproduçãoMais
The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars (1972)
Um dos principais discos da década de 1970, quando o mundo pós-Beatles ainda lidava com o fim da cultura hippie. Bowie criou esse personagem título qu... Foto: ReproduçãoMais
Aladdin Sane (1973)
Bowie “matou” Ziggy Stardust e retornou como o personagem título deste álbum, outro ícone da carreira, traduzido por ele como “Ziggy vai para a Améric... Foto: ReproduçãoMais
Pin Ups (1973)
Um álbum de covers, o último acompanhado pela banda Spiders From Mars. O disco é cheio de nostalgia sessentista. Ouça: Sorrow Foto: Reprodução
Diamond Dogs (1974)
Inspirado no livro 1984, de George Orwell, Bowie pincela em canções um mundo apocalíptico. Ouça: Rebel Rebel, Diamond Dogs e 1984 Foto: Reprodução
Young Americans (1975)
A obsessão de Bowie pelo soul, funk e pela disco music enfim foi escancarada neste álbum. O artista deixou o rock de lado e partiu para um mergulho pr... Foto: ReproduçãoMais
Station to Station (1976)
Nesse mergulho no funk e disco, Bowie também se afundou na dependência de cocaína, como o último grande personagem da sua carreira, o Thin White Duke.... Foto: ReproduçãoMais
Low (1977)
Bowie vai para Berlim, mergulhar num encontro de música eletrônica, influenciado por bandas como Kraftwerk. Com canções clássicas, tal qual Sound and ... Foto: ReproduçãoMais
Heroes (1977)
Segundo capítulo da trilogia de Berlim. Considerado outro dos melhores discos da carreira do camaleão. Mostra um Bowie inspirado na composição das can... Foto: ReproduçãoMais
Lodger (1979)
Terceira parte da “fase Berlim”, o álbum é mais acessível que os dois anteriores, mais pop, por assim dizer. É um dos discos subestimados da carreira ... Foto: ReproduçãoMais
Scary Monsters (And Super Creeps) (1980)
Embora a trilogia de Berlim seja marcante para a carreira de Bowie – a partir da perspectiva contemporânea –, ela não foi tão bem sucedida comercialme... Foto: ReproduçãoMais
Let's Dance (1983)
“Vamos dançar?”, sugere Bowie no título do seu 15.º disco, co-produzido por ninguém menos do que Nile Rodgers, guitarrista do Chic e uma unanimidade a... Foto: ReproduçãoMais
Tonight (1984)
O álbum levou 5 semanas para ser gravado, algo que para Bowie era tempo demais. Ele não gravou instrumentos no disco e seguiu na linha sonora do álbum... Foto: ReproduçãoMais
Never Let Me Down (1987)
Um retorno ao rock. Assim Bowie descreveu o disco durante o seu lançamento – a capacidade de perceber o ambiente que o circulava se mostra claro aqui,... Foto: ReproduçãoMais
Black Tie White Noise (1992)
Depois de iniciar a década de 1990 comandando sua banda de hard rock chamada Tin Machine. É o retorno de Bowie à velha forma. Começava o que a BBC cha... Foto: ReproduçãoMais
Outside (1995)
O britânico volta a trabalhar com o produtor Brian Eno, seu parceiro durante o período em Berlim dos anos 1970. De volta ao estúdio, Bowie criou o per... Foto: ReproduçãoMais
Earthling (1997)
O disco, inspirado pela recém-nascida cultura de drum and bass e música eletrônica industrial, marcou o retorno de Bowie à produção dos próprios álbun... Foto: ReproduçãoMais
'Hours...' (1999)
O álbum dividiu críticas, mas era inegável que Bowie havia chegado a um nível de maturidade e segurança com o qual tinha domínio completo de si como a... Foto: ReproduçãoMais
Heathen (2002)
A gestação desse disco teve início em 2001, mas foi diretamente afetada, tematicamente, pelos atentados às Torres Gêmeas, em Nova York, em 11 de setem... Foto: ReproduçãoMais
Reality (2003)
O último disco de Bowie antes da pausa para cuidar a saúde. Há uma simplicidade marcante neste trabalho, algo proposital. O músico disse, na época, qu... Foto: ReproduçãoMais
The Next Day (2013)
Grande retorno de Bowie. Um disco que foi lançado de forma tão surpreendente que até sua equipe der assessoria de imprensa foi pega desprevenida com o... Foto: ReproduçãoMais
Blackstar (2016)
Último disco de Bowie. Uma pérola jazzística, inovadora, reveladora. Quando ninguém poderia imaginar Bowie se transformando, ele o fez. Um álbum sombr... Foto: ReproduçãoMais