Davi Moraes rouba a cena de Caetano com discrição

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Por Agencia Estado
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Davi Moraes está, como diriam os antigos, na flor da idade. No entanto, já acumula cerca de 20 anos de atividade artística. Coisa de quem antes mesmo da adolescência já tocava cavaquinho e debutava como guitarrista no palco do primeiro Rock in Rio ao lado de Armandinho e, de seu pai, Moraes Moreira. "Isso foi muito marcante para mim", diz ele em entrevista concedida, por telefone, de sua casa no bairro carioca da Urca. Após um longo período de colaboração com a cantora e ex-namorada Marisa Monte, trabalhos com Arto Lindsay, incontáveis horas em cima de trios elétricos e viagens pelo mundo, o músico burila, despreocupado, seu primeiro disco-solo e brilha nos shows de lançamento do CD Noites do Norte, de Caetano Veloso. Quem o viu na banda de Marisa Monte até o ano passado e nas noites com Caetano sabe. A despeito dos indefectíveis turbantes e faixas no cabelo, o multiinstrumentista rouba a cena com a discrição dos sábios. Como está a produção do seu primeiro álbum? Davi Moraes - Estou mixando. Acho que 80% do disco estão prontos. Eu havia dado uma parada por conta do convite do Caetano, ensaiamos o Noites do Norte durante uns dois meses, estreamos e agora já posso voltar a tratar das mixagens. Mas já se tem idéia do que será o álbum? Não tenho nada definido ainda, quando terminar a mixagem é claro que ele terá uma outra sonoridade. O que sei é que o ponto mais forte é o da percussão baiana. Ela sempre teve grande importância para mim. São canções em que as guitarras se encontram com o lado percussivo tribal. Como você aparece no álbum, tocando guitarra e bateria? Estou tocando de tudo um pouco e, o mais importante, recebo grandes amigos como (os percussionistas) Orlando Costa, Leonardo Reis e Peu Meurray. Pessoas com as quais toquei quando fazia parte da banda da Marisa Monte. Há outras participações? Sim. O Arnaldo Antunes, por exemplo, assina duas faixas comigo. Imaginou e Na Massa. Fale um pouco mais dessa parceria, desde quando vocês se conhecem? Conheci o Arnaldo quando fomos gravar com o Arto Lindsay a faixa Sem Você (presente na compilação Onda Sonora-Red Hot and Lisbon). Houve uma interação grande e pensamos em um dia gravar outra coisa juntos. Ele tem uma noção de ritmo incrível. Fiz as músicas e mandei para ele. Eu achava impossível colocar letra naquelas levadas e o Arnaldo encaixou melodias surpreendentes nas canções que têm toda uma levada de suingue percussivo. Recentemente você excursionou com Arto Lindsay pelos EUA e pelo Japão. Tenho tocado com o Lindsay há uns quatro anos. Ele tem muito daquele experimentalismo nova-iorquino mesclado à música brasileira. Sempre trocamos bastante referências. Em uma das turnês, acabei descobrindo o trabalho de um companheiro de banda, o DJ Spooky (que esteve no Brasil em 99 por conta do Festival de Hip-Hop Dulôco). A maneira com que ele constrói a música é totalmente diferente. Essa foi a sua introdução ao universo da música eletrônica? Sim, na verdade estou tendo mais contato com esse tipo de música agora. O engraçado é que dia desses estava gravando uma guitarra e percebi uma influência das batidas eletrônicas no meu jeito de tocar. Numa entrevista, o músico Lucas Santtana (descrito pelo New York Times como alguém que conhece bem suas coordenadas culturais) disse fazer parte da primeira geração a fazer música pop baiana pós-Carlinhos Brown. Você se considera parte dessa geração? Ah! Com certeza. O Brown foi uma das pessoas que melhor fizeram a mistura de coisas tipicamente baianas com as informações do mundo globalizado. Entendo bem quando o Lucas define nossa geração dessa maneira. Participo do disco dele (Eletro Bem Dodô) e ele também aparece no meu. A mistura de informações também é a grande característica do trabalho do Lucas. Gosto muito dos trabalhos dele com feras como Marcos Ribas e Chico Neves. E como tem sido as "Noites do Norte"? Aceitei o convite do Caetano na mesma hora. Aquelas são canções que adoro e acrescentar algo a elas me pareceu ótimo. Caetano é muito favorável a novas idéias. Há um espaço enorme para participação de todos os músicos. Sem contar a possibilidade de trabalhar com o Pedro Sá (baixista), com o Jaquinho (Jaques Morelenbaum, cello), com todo o pessoal da banda. É uma família que no decorrer dos shows vai se entrosando cada vez mais.

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