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Dave Holland comemora 60 anos com show no Ibirapuera

Músico que já ganhou três prêmios no Grammy apresenta série de apresentações no País, promovendo o novo disco, "Critical Mass"

Por Agencia Estado
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Dizem que a santíssima trindade do contrabaixo acústico no jazz, hoje em dia, incluiria necessariamente os nomes de Charlie Haden, Ron Carter e do inglês Dave Holland. A boa notícia: Holland, que foi influenciado por Carter (e por Charles Mingus, Scott LaFaro, Jimmy Garrison e Gary Peacock) inicia nesta sexta-feira série de shows no Auditório Ibirapuera, em São Paulo, às 20h30. O músico faz aniversário no domingo. Completa no palco seus 60 anos, em plena ebulição das eleições no Brasil. "Uma das coisas que estão acontecendo comigo enquanto envelheço", disse Holland, "é que estou pensando mais e mais sobre como usar a totalidade de minha experiência como músico. Uma vez, Sam Rivers disse algo que permaneceu comigo: ?Não deixe nada de fora, use tudo?. Isso se tornou uma espécie de mantra para mim ao longo dos anos, enquanto tento construir um veículo que me leve a utilizar o espectro total, incluindo a tradição, o que implica tocar o blues, e que inclui tocar improvisando livremente. Amo toda essa música, e tenho um desejo de reconciliar todas essas áreas, torná-las relevantes, esperançosamente, em um contexto contemporâneo, como se fosse uma só música." Ele já tocou no Brasil duas vezes: em 2001, no Chivas Jazz Festival, veio com um quinteto; em 2004, voltou para o TIM Festival com uma big band. E agora está de volta ao País promovendo um novo disco, "Critical Mass" (selo Sunny Side), gravado com Chris Potter (saxofone), Robin Eubanks (trombone), Steve Nelson (vibrafone, no lugar que geralmente é de um pianista) e Nate Smith (bateria, substituindo o velho parceiro Billy Kilson). "Tenho sorte de ter comigo músicos que não são somente grandes solistas e músicos de ensemble, mas também compositores" diz Holland. "Isso adiciona outra dimensão à contribuição de cada um e ao desenvolvimento da música, e também da perspectiva que temos do que a banda pode fazer." Holland já ganhou três prêmios Grammy: em 1999, pelo disco "Like Minds", com Gary Burton, Chick Corea, Pat Metheny, Roy Haynes ; em 2002, por "What Goes Around", com sua big band; e em 2005, pelo disco "Overtime". "Sempre penso na criatividade como um estado mental. Não é tanto sobre o que você faz, mas como você faz. Todos nós na banda nos divertimos com diferentes abordagens para a música e diferentes maneiras de pensá-la. Isso é algo que eu certamente gosto na minha carreira, ter a chance de trabalhar com muitas pessoas e ver a música de diferentes pontos de vista. Nessa altura da minha vida, estou realmente interessado em juntar todas as experiências e, é claro, experimentar novas. E manter-me em crescimento, manter a música indo em frente, de um jeito gradativo. É o jeito que eu vejo. É ir de turnê em turnê e dia após dia." A biografia do baixista inglês inclui um curioso encontro histórico com um dos grandes instrumentistas brasileiros, o percussionista Airto Moreira. Em 1967, no famoso festival hippie da Ilha de Wight, Moreira e Dave Holland estavam na banda que acompanhava o mítico trompetista Miles Davis, além de Chick Corea, Wayne Shorter e Jack DeJohnette. Holland entrou para o quinteto de Miles Davis quando tinha apenas 21 anos. Ele já era um habitué do lendário clube de jazz londrino Ronnie Scott?s, e já tinha tocado com mitos como Coleman Hawkins, Ben Webster e Joe Henderson. Em julho de 1968, Miles Davis visitou o clube, e ouviu Dave tocando, e imediatamente o convidou para juntar-se à sua banda. Holland mudou-se para Nova York algumas semanas depois e durante os próximos dois anos acompanhou Miles em turnês. Com o trompetista, tocou e gravou discos importantes, como "Bitches Brew" (Columbia/Legacy, 1979), "In a Silent Way" (Columbia/Legacy, 1969), "Black Beauty" (Columbia/Legacy, 1970), entre outros. Nascido em Wolverhampton, Inglaterra, em 1º de outubro de 1946, Dave Holland teve uma formação erudita. Estudou com James E. Merritt, que foi o principal baixista da London Philharmonic Orchestra e professor da Guildhall School of Music & Drama. Por recomendação de Merritt, em 1964 ele entrou na Guildhall School e em breve conseguiria uma bolsa de estudos integral na instituição. Mas logo foi se enturmando no mundo do jazz de Londres, e sua vocação foi ficando mais clara. Em 1966, ele começou a tocar com músicos como John Surman, John McLaughlin, Evan Parker Kenny Wheeler, John Taylor, Chris MacGregor e outros que atuavam em Londres. Um dos seus maiores objetivos parece ser o de manter uma banda que toca e grava junta, alcançando uma progressão de objetivos e de crescimento coletivo. "Cresci em uma época em que havia grandes grupos, como a banda de Duke Ellington, a qual em alguns casos tinha gente que podia tocar junta por 40 ou 50 anos E outras banda que eu admirei, como os grupos de Miles e os de Coltrane e Art Blakey". "Muitas das grandes bandas, em geral, se mantinham juntas por um grande período de tempo, o suficiente para desenvolver a música e explorar seu potencial. Nós seguimos essas coisas. Você verá no próximo disco, verá o que será o nosso próximo episódio. É como ler um livro e querer saber o que acontece no próximo capítulo. Tipo: OK, aonde isso vai levar agora?", ele afirmou, em entrevista ao site "All about Jazz". Depois do arrepiante encontro do acordeonista francês Richard Galliano com Hamilton de Holanda e Yamandú Costa, é a vez de Dave Holland encantar o Ibirapuera. Dave Holland Quintet. Auditório Ibirapuera (800 lug.). Avenida Pedro Álvares Cabral, s/n.º, portão 2 do Parque do Ibirapuera, (11) 5908-4299. De amanhã a dom., 20h30. R$ 30

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