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Curumin, com o disco 'Boca', reflete sobre o mundo fragmentado

Músico paulistano chega aos 40 anos, lança o quarto disco, ‘Boca’, e reflete sobre o mundo contemporâneo

Por Pedro Antunes
Atualização:

Entre risos, Luciano Nakata Albuquerque, o Curumin, pede: “Não vá me colocar como nova geração, ein?”. Com 40 anos, o músico lança seu quarto disco de uma carreira solo erguida sem muita pressa, estética fixa ou qualquer cabresto. É baterista e canta – e já faz isso há pelo menos 15 anos, quando estreou com o disco Achados e Perdidos, lançado e elogiado nos Estados Unidos três anos depois. 

Curumin Foto: Ava Rocha

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Curumin, de fato, não é da “nova” geração. É de uma turma que chegou e tomou de assalto a música independente nacional. Largou as fórmulas do patriarcado bossa-tropicalista, reergueu os malditos da MPB e, enfim, encontrou o som próprio. Desses, e inclua aí o trio Metá Metá, passe por Karina Buhr, Tulipa Ruiz e Marcelo Jeneci, entre tantos outros nomes a surgir no início dos anos 2000, Curumin constrói seu caminho entre seus discos solos, lançados aos poucos, e o trabalho de produtor e multi-instrumentista. Chega nesta quinta-feira, 25, o quarto trabalho de estúdio do paulistano, Boca, realizado com o auxílio do edital Natura Musical. 

“Tenho ouvido muito a música brasileira feita agora”, explica o músico. “De Rico Dalasam, Ava Rocha, Siba, Karina Buhr, Bayana System, e percebia que existia algo provocativo ali. Algo de que a canção não precisa mais ser canção.” Nesse contexto, Boca é um disco antagonista à canção.

Criado a partir do trio formado por Curumin e dois baixistas, Zé Nigro e Lucas Martins, o disco tomou forma em sessões de estúdio espalhadas ao longo do ano de 2016. Gravada a primeira camada de som, voz, bateria, baixo e guitarra (revezada entre Nigro e Martins), o trio passou a cavar buracos no som, criar espaços e silêncios e buscar novas sonoridades, com teclados, rhodes, programações e vozes de participações – a lista de convidados tem Rico Dalasam, Russo Passapusso (do Baiana System), Indee Styla, Andreia Dias, Anelis Assumpção e Iara Rennó.

“Nada disso, contudo, é deliberado. Gosto da ideia de seguir pelo instinto.” 

O título do disco foi sugestão de Ava Rocha, também responsável por assinar a arte da capa do álbum, e reúne as questões abordadas por Curumin nas suas letras. “Ela percebeu isso, com esse olhar de fora, antes mesmo de mim”, conta. A “boca” é “gosto, é sexual”, explica o músico. Mais também, e ainda mais inconscientemente, Curumin traz em Boca uma reflexão sobre a linguagem e sobre a comunicação – e, principalmente, ruído existente atualmente.

Canta sobre falas escusas (na música Boca Pequena), mentiras (em Boca de Groselha). A feitura de Boca reflete a fragmentação da vida moderna, tal qual a ideia de se dividir a própria vida em vídeos de 15 segundos no Instagram. “Estamos picotando a nossa vida em pequenos momentos”, ele avalia. 

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