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Crítica: Nada de rotineiro na volta de Neschling

Maestro se apresentou pela primeira vez na Sala São Paulo após a polêmca demissão em 2009

Por João Marcos Coelho - O Estado de S.Paulo
Atualização:

Três anos e oito meses após sua explosiva demissão da Osesp, o maestro John Neschling voltou a ocupar o pódio da Sala São Paulo anteontem, em concerto da temporada 2012 da Sociedade de Cultura Artística. Regeu a Orchestra della Svizzera Italiana, substituindo o russo Alexander Vedernikov. E o que seria apenas um concerto entre outros transformou-se, de repente, em um verdadeiro acontecimento. A eletricidade pairava no ar, nos momentos que antecederam a entrada do maestro, aplaudidíssimo antes mesmo de chegar ao pódio. Já em seu lugar, colocou a mão direita no coração para expressar seu sentimento pela plateia. A adrenalina baixou bastante, no entanto, durante o concerto em si. A orquestra, que não tem sido brilhante ao participar dos festivais liderados por Martha Argerich em Lugano, é apenas mediana e o repertório não era particularmente desafiador. O curto poema sinfônico Pastoral de Verão, de Arthur Honegger, não chegou a entusiasmar, apesar do esforço de Neschling para arrancar sutilezas que os músicos talvez não estivessem dispostos a realizar. Depois de um intervalo de dois anos do tsunami de execuções dos concertos de Chopin a propósito do seu bicentenário de nascimento, em 2010, foi até interessante assistir ao segundo (cronologicamente o primeiro) com o vietnamita Dan Thai Son. As notas estavam todas lá, a orquestra encarregou-se sem dificuldade de sua parte, no geral bastante simples. Faltou, porém, o que sobrou no extra de Son, uma mazurca muito bem tocada, que pôs a nu a diferença entre uma execução burocrática e outra luminosa. As coisas andaram melhor na sexta sinfonia de Schubert que ocupou a segunda parte. Um pouco por causa do evidente parentesco com o melodismo italiano, outro tanto pela influência de Beethoven, o fato é que esta sinfonia pouco tocada tem graça, elegância e “punch”. Esses dois fatores levaram Neschling a sentir-se mais à vontade. É um repertório mais afim ao seu temperamento. Sua regência descontraiu-se. E o concerto terminaria apenas bem-sucedido, com todo mundo satisfeito, palco e plateia. Mas este não foi, decididamente, um concerto rotineiro. Afinal, o idealizador e “construtor” da Osesp e da Sala São Paulo retornava. Na primeira volta para agradecer aos aplausos, ele pôs fogo nos músicos suíços, atacando uma abertura de Rossini que colocou o público em êxtase. E em seguida, num segundo extra, incendiou de vez a atmosfera com uma leitura fogosa da abertura das Bodas de Fígaro, de Mozart. No segundo retorno ao palco para os aplausos, pediu para falar. Em tom tranquilo e emocionado, disse: - Eu estava com saudades de tocar nesta sala. O público respondeu em coro: - Nós também! Alguém gritou “Volta”. Neschling sorriu. E completou: - E como a gente costumava fazer muita música brasileira aqui, eu queria tocar agora um Ponteio do Guarnieri. Avaliação: Ótimo

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