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Crítica: 'Madame X' é um disco tão complexo que só uma artista como Madonna poderia fazer dar certo

O álbum, que chegou às plataformas digitais nesta sexta, 14, traz uma combinação de temas, sons, texturas e atmosferas que poderiam não dar certo; mas o resultado é surpreendente

Por Adriana Del Ré
Atualização:

A princípio, a audição dispersa de algumas faixas do novo álbum de Madonna, Madame X, pode causar estranhamento. Isso aconteceu desde que os singles começaram a ser lançados pouco a pouco. No entanto, ao ouvir o disco completo, com 15 faixas na edição deluxe, lançado nas plataformas digitais nesta sexta, 14, pela Universal Music, tudo parece fazer sentido. Existe um conceito, mesmo que muitos tenham a sensação que a cantora esteja atirando para todos os lados. Ela não está.

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É que, no novo trabalho, Madonna faz uma incursão por diversos temas, ritmos, parcerias musicais e texturas acústicas e eletrônicas. Mas existe uma narrativa dentro dessa propulsão de informações. E a cada faixa, ela se aprofunda nessa complexidade de uma maneira comovente, criativa, inquieta. Algo que só uma artista como Madonna consegue fazer sem perder o controle das coisas. Afinal, são muitos caminhos sonoros, muitos cenários num mesmo trabalho. Outro fator interessante, além da coerência toda dentro dessa complexidade, é a figura de seu novo alter ego, Madame X, conectando todas as músicas.

Madame X, o disco, começa com a festiva Medellín, num irresistível dueto dela com o cantor colombiano Maluma, já bastante conhecida dos fãs. Foi o primeiro single lançado pela popstar que, dias depois, ganhou também clipe, um artifício audiovisual que Madonna usa como ferramenta a seu favor desde os anos 1980. O dueto da cantora e Maluma se repete em Bitch, I’m Loca, mas não com a mesma força de Medellín.

Madonna, como Madame X, fez show com Maluma no Billboard Music Awards 2019, em abril. Foto: Mario Anzuoni/Reuters 

Medellín é música para pista, assim como o funk português Faz Gostoso, que ela canta com a brasileira Anitta. O funk come solto enquanto o refrão da música martela “Ele faz tão gostoso/Ele faz tão gostoso/Ele não quer compromisso e na minha casa é perigoso/Ele faz tão gostoso/Ele faz tão gostoso/Ele sabe que eu sou casada e ainda amo meu amor/Ele faz tão gostoso”. Difícil não sair dançando. E dá-lhe Madonna cantando em inglês e também em português de Portugal. 

Aliás, Madame X é um álbum bilingue – ou trilíngue se levarmos em conta algumas palavras cantadas pela artista em espanhol. Madonna canta em português em muitas faixas. Talvez essa seja sua homenagem pessoal a Portugal, para onde se mudou com a família para investir na carreira do filho David Banda como jogador profissional. Alguns artistas vivem em outras partes do mundo e não se impregnam por aquele ambiente. Isso definitivamente não aconteceu com Madonna. Ela mergulhou fundo naquele universo, por isso os vários sotaques e sonoridades. 

É interessante ouvir Madonna se esforçando para usar a acentuação portuguesa em letras como a de Crazy (“Você me põe tão louca/ Você pensa que eu sou louca” e “Eu te amo/ Mas não deixo você me destruir”) além da já citada Faz Gostoso e Killers Who Are Partying ("O mundo é selvagem, o caminho é solitário"). 

God Control, a terceira faixa, começa eloquente, muito em diálogo com a canção anterior, Dark Ballet, a ópera impactante de Madonna sobre Joana Darc. São várias camadas na mesma música: piano marcante, coro, depois atmosfera anos 1970 e elementos eletrônicos. Uma propulsão de informações sonoras distribuídas dentro da canção como em capítulos. Já Batuka traz uma percussão forte, como num ritual africano, Madonna é acompanhada por coro. Esse é o clima que perspassa toda a canção, que segue para um final ao som de violinos.

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Madame X é uma grande epopeia de Madonna – e também uma conquista que só uma artista do status dela conseguiria realizar sem se perder no meio do caminho. Traz uma combinação de sons, texturas e atmosferas que poderiam não dar certo, mas o resultado é surpreendente.

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