Criminal D faz rap suingado e positivo

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Por Agencia Estado
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Dançarino de break, capoeirista, boxeador, estivador, cabeleireiro, rapper. O currículo é extenso e variado, assim como os versos que Criminal D e Gangue de Rua entoam em seu disco de estréia, O Conteúdo do Sistema, lançado pela Trama, e que traz um rap suingado com produção de João Marcello Bôscoli. Criminal D é a alcunha que o santista Daniel de Oliveira Paixão, 32 anos, adotou quando passou a se apresentar em bailes de Santos no início dos anos 90. O nome foi tirado da música Criminal Mind, do Boogie Down Production, de Nova York, e de um entrevero entre Daniel e a polícia, que interrompeu um show seu. O D é de Daniel. Nascido e criado na zona noroeste de Santos, Criminal sempre esteve ligado ao movimento hip hop. Começou entortando-se em evoluções de break e capoeira no início dos 80 - "subia a serra e ganhava uns trocados dançando na 24 de Maio". De 86 a 90, passou a esquivar-se dos golpes dos adversários como boxeador. Chegou a ganhar medalha de bronze nos Jogos Abertos de 87. A partir de 91, começou a ?bater saco?, gíria dos estivadores de Santos para o leva e traz de fardos. Ficou na profissão até 1994. No ano seguinte, cismou em cortar o cabelo do irmão, Lord J, que o acompanha no disco. O corte feito com desenhos agradou, e a vizinhança começou a procurá-lo. Inclusive os chefes do tráfico local. Foi o manuseio da tesoura, tão diferente de carregar sacos, que o aproximou da carreira de rapper. "Fizeram várias propostas para eu ser gerente do tráfico, mas eu sempre disse que o meu negócio era a música. Até que um dia, em 1995, o chefe da boca veio com R$ 5 mil e disse: ?É teu, pra você produzir seu disco??, lembra. Conseguiu colocar a faixa Retrato Falado numa coletânea de bandas da Baixada. "Fiquei com medo de ficar de rabo preso com os caras, mas fui criado na quebrada, conversava e era honesto com todo mundo", conta. O ?empresariado? não durou. Como Criminal já estava cansado de ver, a vida bandida durava pouco, e o traficante que o ajudara morreu assassinado. Depois de anos tentando produzir de forma independente seu álbum, Criminal foi contratado pela Trama em 98. "O João (Marcelo Bôscoli) ficou sabendo de toda a minha história e queria contratar um rapper, quando ouviu minha música, disse `é esse o cara´". O Conteúdo do Sistema (preco médio R$ 22) sai agora na contramão das produções atuais. Menos verborrágico que outros colegas rappers, Criminal é mais ligado à soul music e ao funk. A produção impecável de Bôscoli não tirou o peso das canções, deu-lhes, isso sim, uma sofisticação rara no gênero. Apenas sua participação na música Crime Sem Perdão não funcionou muito bem. O refrão gospel da música cantado por Bôscoli parece destoar do restante da canção. Entre letras que alfinetam a bandidagem e fazem apologia do uso da camisinha, Criminal faz raps positivos, sem disfarçar a realidade, com samples que vão de Banda Black Rio a Racionais MC´s. "Demorou, mas o pessoal da Baixada tá contente com o resultado, irmão."

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