Criador do Sónar fala sobre volta do festival ao Brasil em 2012

Enric Palau comenta vinda de Björk, ar cosmopolita de São Paulo e talento de improvisação de Emicida

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Por Jotabê Medeiros - O Estado de S. Paulo
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Em 1994, em Barcelona, Enric Palau (e seus parceiros Sergio Caballero e Ricard Robles) criaram um festival de música que faria História. Era o Sónar – Festival Internacional de Música Avançada e Arte New Media. Em 1994, Nelson Mandela tornava-se o primeiro presidente negro da África do Sul; Arafat, Rabin e Peres ganhavam o Nobel da Paz; e, em São Francisco, realizava-se a primeira conferência sobre o poder de uma nova rede chamada internet.

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Muitas das expectativas daquele ano não se realizaram, mas o Festival Sónar decolou, assim como a internet e a tecnologia, base de sua ambição. “Nossa proposta é diferente da de um festival tradicional. Procuramos estabelecer uma vinculação muito forte com a cena artística local”, diz Enric Palau, que falou ao Estado na semana passada, quando veio a São Paulo para lançar a edição 2012 do Sónar que vai acontecer na capital paulista.

Vocês fecharam um show da Björk, que é uma artista difícil, cujos shows são raros.

Björk atuou no Sónar de Barcelona em 2003. Por ser muito peculiar, e ter muita força criativa, ela sempre nos interessa. É uma artista que pensa sempre em tecnologia, em conceitos, seus shows têm muita força. Não creio que seja difícil, é apenas muito seletiva, não atua em qualquer espaço. E está trabalhando num show novo, Biophilia. Também esperamos que ela toque as canções que os fãs já conhecem. Conheço o espetáculo pela informação que recebi, de gente que o viu em Manchester. Ela vem com um coro de 20 cantoras irlandesas.

O Sónar volta a São Paulo em um momento bem distinto do que foi a última vez, em 2004. Há agora uma inflação de festivais na cidade.

Isso significa que há uma demanda de público. São Paulo é a capital cultural da América Latina, é uma das cidades mais cosmopolitas do mundo. É a chance de apresentar o Sónar a um público diferente. Outra coisa é que o festival tem um grande interesse em descobrir uma cena artística peculiar e nova. Em 2004, tivemos grupos como Patife, o Bonde do Rolê, o DJ Marlboro, o baile funk, que era uma cena emergente. Agora, teremos Emicida, Twelves, Psilosamples. A associação que fizemos com a Dream Factory (mesma produtora do Rock in Rio), e o lugar que escolhemos, o Anhembi, nos permite concentrar os diferentes conteúdos num só espaço. Em Barcelona, são diversos espaços. Aqui, utilizaremos o auditório do Anhembi, onde haverá shows mais intimistas, como o de Ryuishi Sakamoto e James Blake. As salas internas exibirão os filmes do Sónar Cinema. E haverá três diferentes palcos para os shows, como os de Björk, Justice e Modeselektor.

O seu festival surgiu, há 18 anos, como um espaço para a vanguarda. Você ainda acredita que a vanguarda poderá reaparecer?

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É possível. Creio que a imaginação dos artistas não está vivendo crise nenhuma. Penso que a música e a arte seguem avançando. No Sónar, nós teremos a presença de Ryuishi Sakamoto, artista que já trabalhou com Caetano Veloso, com Jacques Morelenbaum, conhece a música brasileira. Sakamoto se apresentará com o artista eletrônico Alva Noto. O som do seu piano, acústico, será processado pelo equipamento eletrônico de Noto, que por sua vez será o gerador do show visual. É um show poético, sutil, um exemplo da evolução artística. Emicida é um artista que nos pareceu muito interessante por sua capacidade de improvisação, que o coloca no mesmo nível dos grandes do hip hop americano.

O Sónar retorna ao Brasil com concorrência forte, como o Lollapalooza, que será na mesma época. O que pensa disso?

Há uma distância suficiente no calendário entre um festival e outro para que o público possa fazer sua escolha. E o Sónar deverá receber também muita gente da Argentina, do Chile, do México. É um espaço para experimentar e também para se divertir, claro. 

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