Coral da Rocinha lança disco

Paz mostra evolução do grupo, que faz parte de escola de música da comunidade no Rio

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Por Agencia Estado
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Em aproximadamente sete anos, desde 1994, o número de alunos inscritos na Escola de Música da Rocinha subiu de 14 para 140. Mais responsabilidade, sem dúvida. Mas também um sinal de que o projeto - que se iniciou com o propósito social e pedagógico de ensinar música a crianças da favela da Rocinha, no Rio - alcançou, aos poucos, reconhecimento artístico, que se confirma também com o lançamento pela Sony do disco Paz, no qual 50 crianças e jovens interpretam um repertório pinçado da música popular brasileira. Foi de um alemão, o pianista e concertista Hans Ulrich Koch, a idéia de criar a escola na Rocinha. Ele chegou ao Brasil na década de 80, participando de um programa que incentivava viagens de europeus a países do Terceiro Mundo. Ficou por aqui e começou a dar aulas na Escola Corcovado, até que no início da década de 90, após entrar em contato com a vida das pessoas na Rocinha, resolveu lá criar uma escola de música. "A idéia dele era manter, sempre, uma base pedagógica e social, tendo em vista, antes de tudo, a formação de cidadãos", lembra Gilberto Figueiredo, coordenador da escola. Após a escola, as crianças e jovens poderiam ocupar o restante do dia dedicando-se ao aprendizado de música, apresentando-se na comunidade e fora dela em diferentes formatos, desde pequenas bandas até grupos maiores de samba, por exemplo. E essa opção pelo lado social e pedagógico explica-se, segundo ele, como um direcionamento guiado à formação de cidadãos. Figueiredo conta que uma das principais intenções de Koch, hoje vivendo em Frankfurt (ele volta, porém, duas vezes por ano ao Brasil), era ampliar os horizontes das crianças envolvidas no projeto. "Ao contrário do que fazem outras escolas, não estamos apenas interessados em desenvolver a prática da música local, como o rap, mas também mostrar aos alunos o grande número de gêneros musicais que existem e como eles podem aprender com essas diferenças." Dessa forma, Figueiredo acredita, a formação oferecida é mais ampla. "Trabalhamos no sentido de ajudar o aluno a criar um relacionamento com a música, com a arte, compondo, assim, uma formação geral mais rica da mesma forma que uma sensibilidade artística maior, que será importante para a sua vida." No início, dedicada apenas ao ensino de instrumentos, a escola passou a ensinar canto coral em 95, quando se esboçou a formação de dois conjuntos: o infantil, com crianças de até 13 anos, e juvenil, de 13 a 16 anos. Essa idade está em conssonância com a média dos alunos que freqüentam a escola, embora Figueiredo ressalte que muitos acabam ficando na escola por mais tempo. "Muitos ficam ao nosso lado como professores ou mesmo continuam com a música em outras atividade. Hoje, de 12 a 15 alunos estão encaminhados no mercado de trabalho, dando aulas particulares ou se apresentando em outros lugares da cidade." Disco - Segundo Figueiredo, o desenvolvimento e a qualidade artística surgiram com o tempo, à medida que o grupo se apresentava em locais como a Universidade Federal do Rio, o Museu da República, o Museu Histórico Nacional, o Teatro Ipanema, além de escolas e hospitais. E neste ano, uma grande oportunidade acabou por atestar a evolução do trabalho: a gravação do disco Paz, lançado pela Sony. Representantes da gravadora reuniram-se com membros da Ong Rocinha XXI na busca de uma maneira de mostrar os talentos de uma comunidade em constante luta pela sobrevivência. "Eles procuraram e acabaram gostando do nosso trabalho e acreditaram que era o nosso o perfil que eles estavam procurando para a gravação do disco", diz Figueiredo. As canções escolhidas foram extraídas do repertório do grupo que, para a gravação, foi composto por representantes dos corais infantil e juvenil. Estão presentes no disco canções de autores como Chico Buarque, Milton Nascimento e João Bosco. Da Paem Domine, Sementes do Amanhã, Caçador de Mim, O Cio da Terra, Lambada de Serpente, Cantares, Modinha, O Caderno, Sina, Rosa Amarela, J´Entend le Moulin e Boas Festas foram escolhidas. Segundo Figueiredo, o dinheiro para a manutenção da Escola de Música da Rocinha vem praticamente todo do exterior. "Mesmo de lá, Koch ocupa-se de catalisar investimentos que, em grande parte, vêm da própria Alemanha." A escola também faz parcerias na busca por materiais como instrumentos, por exemplo. "Esperamos que a visibilidade que o disco pode nos proporcionar ajude a despertar o interesse da iniciativa privada brasileira pelo projeto, para que possamos respirar um pouco e ampliar nossa área de atuação." Os interessados em patrocinar a escola podem entrar em contato com o próprio Gilberto Figueiredo, pelo telefone (0--21) 9997-7025 ou pelo e-mail em.rocinha@ig.com.br.

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