PUBLICIDADE

Conversa de alto nível entre Nelson Freire e Vladimir Ashkenazy

Pianista e maestro mostraram parceria de extraordinária competência, em concerto na Sala São Paulo

Por João Marcos Coelho
Atualização:
Conversa de alto nível entre Nelson Freire e Vladimir Ashkenazy Foto: Vitor Salgado/ Divulgação

Numa entrevista a propósito de seus 70 anos, Nelson Freire disse que a relação ideal entre solista e maestro é quando os dois são bons, pois assim conversam e o resultado é o melhor possível. Na mesma conversa, ele me confessou que isso é meio raro. Citou Riccardo Chailly como parceiro preferencial no pódio, com quem acaba de gravar o Concerto Imperador de Beethoven. A mesma obra interpretada, na segunda-feira, 15, na Sala São Paulo. No pódio, 77 anos, baixinho, cabeleira branquíssima e extraordinária competência, Vladimir Ashkenazy foi o parceiro ideal para Nelson. Originariamente e ainda maravilhoso pianista, o russo mostrou que não é frase de efeito uma declaração sua de anos atrás, quando reprovou Karajan ao acompanhar pianistas. “Ele jamais deu bola para o solista.” E puxou orelhas de maestros desavisados: “Algumas vezes, os regentes nem sequer conhecem as partes solistas e não entendem os obstáculos dos pianistas”. Seu preferido? “Barenboim, porque é pianista.” Ashkenazy foi parceiro perfeito na segunda para Nelson. Mínimos senões. Um sublime Adagio un poco mosso com o toque aveludado de Nelson. No todo, uma conversa de iguais em altíssimo nível. Depois, uma leitura entusiasmante da quinta sinfonia de Sibelius (Ashkenazy gravou as sete do finlandês com a Philharmonia, que estava no palco sob seu comando). Intimidade entre regente e músicos, profundo conhecimento de uma partitura complexa. Nada de fortíssimos descomunais. Dinâmicas sutis do pianíssimo ao mezzoforte, com as rajadas de notas perfeitas nas cordas. Nenhuma melodia encoberta por outros naipes. Mais do que controle, doses exatas de adrenalina. Trompas admiráveis. Precisão cirúrgica. Um Sibelius como poucas vezes se viu na Sala São Paulo. Num nirvana desses, Nelson emocionou ao fazer seu tributo recorrente a Guiomar Novaes no extra, com a Dança dos Espíritos, de Gluck.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.