Conheça os cinco finalistas do Prêmio Visa

André Abujamra, Danilo Moraes, Fred Martins, Kristoff Silva e a dupla formada pelos irmãos João Donato e Lysias Ênio

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Por Agencia Estado
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Na disputa, cinco candidatos - André Abujamra, Danilo Moraes, Fred Martins, Kristoff Silva e a dupla João Donato e Lysias Ênio - representantes de diferentes gerações da música. Os irmãos compositores Donato e Ênio se inscreveram juntos e chegaram em dobradinha à grande final. Danilo Moraes começou com banda de forró Outro nome promissor dessa nova leva de compositores, o paulistano Danilo Moraes acumula ainda as habilidades de cantor e guitarrista. Filho de Wandi Doratiotto, do Premê, lembra que, quando criança, ia a muitos shows da banda do pai, muitas vezes por não ter onde ficar. Aprendeu a gostar de samba e jazz. De Jackson do Pandeiro e João Gilberto. Quando saiu da escola, formou uma banda com o amigo Ricardo Teté e juntos compuseram o xote "Beijo Roubado", gravado pelo grupo Rastapé. Os dois perceberam que levavam jeito para a coisa e a banda virou de forró. Teté partiu para Paris, enquanto Danilo manteve o grupo na estrada. "Dessa época, deu uma prática grande ficar duas horas direto fazendo show", lembra ele. Mais tarde, o músico foi se juntar ao amigo na França e, em 2004, lançou um CD com Teté só para o mercado francês. No ano passado, a dupla foi vencedora do Festival Cultura - A Nova Música do Brasil, realizado pela TV Cultura, com a música "Contabilidade". Saíram vencedores sob uma chuva de vaias de grande parte do público presente. Alegava-se de tudo para justificar recepção tão pouco calorosa, inclusive marmelada por Danilo ser filho de quem é. "A história do Festival da Cultura foi legal, as vaias deram uma sensação engraçada", garante ele. "É importante passar por isso e tem um lado legal de incomodar as pessoas." Diante de sua experiência em festivais, Danilo acredita que o Prêmio Visa apresenta outro formato. "Não é uma cara só, não fica rotulando." Segundo o jovem compositor, mesmo não querendo mostrar nada a ninguém, sua chegada à final da premiação provou o que ele já sabia. "Continuo a mostrar meu trabalho." Para esta final, reservou para o repertório "Nó", "Desafio" e o forró "Herança Nordestina". No ano que vem, ele e Teté devem lançar CD novo, "A Torcida Grita", como prêmio pelo polêmico primeiro lugar no Festival Cultura. André Abujamra, entre o humor e a crítica O paulistano André Abujamra é um daqueles multiartistas: é músico, ator, produtor e diretor. Mas, no balanço geral, a música tem peso maior em sua carreira, seja com ele compondo a própria obra, seja criando trilhas sonoras para cinema ("Carlota Joaquina", Copo de Cólera", "Ação entre Amigos", "Cafundó", entre tantas outras) e televisão ("Provocações", "Castelo Rá-Tim-Bum" e outros programas). Abujamra é conhecido por participar da fundação do grupo Karnak e da dupla Os Mulheres Negras, além de já ter tocado na banda Vexame. Mas por causa do tom humorado com que embala suas letras críticas, muitas vezes, o recado não atinge o público da maneira como gostaria. "Isso já me irritou bastante. Essa coisa do gracioso, bonachão, engraçado não condiz com a poesia que faço", afirma o músico. "Desde Os Mulheres Negras, as pessoas viam mais a exuberância e não enxergavam minha poesia. Sou bem-humorado, mas minha poesia chega a ser triste, ácida, até mesmo pesada." Essa má interpretação de seu trabalho já chegou a incomodá-lo mais, confessa ele. Hoje, bem menos. Na estrada desde 2004 divulgando seu CD-solo "O Infinito de Pé", Abujamra tirou deste recente disco uma das canções que vai defender na final do Prêmio Visa: "Infinito de Pé", a capela As outras duas canções, "Nome das Coisas" e "Juvenar", serão conduzidas com um acompanhamento musical "bem cru", à base de guitarra, bateria e baixo. Para ele, já é uma felicidade estar na final, além da visibilidade que o prêmio dá ao participante. "A divulgação já é tão importante, sou tão independente desde que nasci." Mas teve também uma triste constatação. "Sempre fui um cara muito querido mas a realidade foi dura quando entrei na competição. Pela internet, vi muita gente que me odeia", diz ele desolado, mas consciente que esses tipos de disputa costumam despertar as manifestações passionais dos fãs alheios. João Donato e Lysias Ênio ficarão na platéia Irmãos, compositores e parceiros, João Donato e Lysias Ênio estiveram no meio de uma polêmica com o Prêmio Visa em pleno andamento. De um lado, pediam para sair e, do outro, a organização do Visa pedia para que ficassem. Antes mesmo de despontarem críticas por um nome carimbado como o dele participar da competição, João Donato afirma que já se sentiu desconfortável por estar rodeado por gente mais nova, que o reverenciava como ídolo. Donato aceitou continuar na disputa, mas não mais no palco. E é assim, na platéia, que ele e Lysias acompanharão a final do prêmio e verão suas músicas "Flor do Mato", "E Lalá Lay-ê" e "Flor de Maracujá" serem defendidas pela cantora Gabriela Gelusa. Para Lysias, um dos motivos que o levaram a se inscrever no prêmio foi para ter sua obra exposta, sob a luz dos holofotes. "É bom fazer música e música brasileira tem poucas chances de aparecer. É uma forma de manter a obra viva", acredita o compositor. Na opinião dele, não há qualquer receio, por parte dos dois, de entregar sua obra para que outra pessoa a defenda no palco. "Há músicas que João nunca gravou por não se sentir seguro. Ele é um músico que interpreta suas canções, não é um intérprete", completa. Até hoje, os irmãos contabilizam mais de 60 canções feitas em parceria. E tudo começou lá em 1972, quando João Donato voltou dos EUA, onde morou por anos, e decidiu gravar um disco, "Quem É Quem". Seria o primeiro álbum da carreira, com letras e vocais. "Eu não era compositor, era músico. Faltavam letristas para minhas canções", recorda-se João Donato. Só pela prática, Lysias já colocava letras nos discos instrumentais de Donato, que ele lhe enviava dos EUA. Aproveitou, então, aquela chance e mostrou algumas dessas letras. Inauguraram ali a elogiada parceria, que perdura até hoje. Kristoff Silva, a voz de Minas Nascido nos Estados Unidos, Kristoff Silva retornou ao Brasil quando tinha apenas um ano. Por isso, se considera mais brasileiro do que qualquer coisa. Na realidade mais mineiro. Foi em Minas que Kristoff cresceu e, mais tarde, viu-se inserido num celeiro musical conhecido por produzir muitos talentos. Para ele, os mineiros têm uma peculiaridade para fazer música, possuem uma diversidade musical. "O apuro desses detalhes é parte deste Estado." Por isso, acredita que haverá um dia em que tal vocação mineira ganhará visibilidade. Ficará mais fortalecida, mais nítida, assim como ocorreu com a cena da música pernambucana. "Sou um representante de Minas", define-se o compositor, reforçando essa sua condição, consciente da possível sensação de dubiedade que seu nome pode causar. E brinca: "Meu nome vai me dar trabalho..." No fundo, não acha tão mau assim. No Silva, traz as influências da música brasileira. No Kristoff, carrega referências outras, como de uma Björk, por exemplo. "Os contrates do meu nome se refletem na música." Kristoff começou a tocar violão aos 6 anos, sob influências diretas e irrestritas de Caetano Veloso e Gilberto Gil. Formado em violão pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), deixou de lado a bagagem erudita aprendida na faculdade para mergulhar de cabeça na música popular. O lado compositor teve um ponto de partida, quando a cantora Alda Rezende pediu a Kristoff um repertório original para um trabalho dela. Não restou outra saída a ele senão compor coisas novas e se associar a parceiros. Nessa trajetória, teve ainda oportunidade de trabalhar com seus ídolos declarados, gente do Grupo Rumo, como Luiz Tatit e Ná Ozzetti. Para o show de amanhã, seu repertório trará "Em Pé no Porto", "A Volta Barroca" (com novos arranjos) e "Intuição", que cantará ao lado de Virginia Rosa. "O prêmio é o momento mais feliz da minha carreira artística." Fred Martins transcrevia partituras para songbooks Representante da boa safra de jovens compositores, o carioca Fred Martins selecionou para sua apresentação final no Prêmio Visa as canções "Novamente", "O Samba Me Diz" e "Tempo Afora". Cauteloso com a carreira, diz ter tirado lições do período em que passou transcrevendo partituras para os famosos songbooks produzidos por Almir Chediak. Foram mais de dez anos de labuta. Além de trabalhar diretamente com o fino da MPB, o compositor pôde acompanhar a evolução da obra de seus expoentes, como Chico Buarque, Gil e Tom Jobim. Evolução das canções, das fases, das épocas. "Foi uma escola incrível, em que mantive contato só com clássicos da MPB", conta ele. Foi também o período em que ficou instigado a compor. Àquela altura, no entanto, Fred achava que precisava se conter, tinha de aprender mais. "Em 1999, Ney Matogrosso gravou minha música ´Novamente´, quando, por coincidência, eu queria mudar a direção da minha carreira, queria me mostrar também, com banda, num palco, num show." Depois de Ney, vieram Zélia Duncan, que gravou "Flores" (parceria dele com Marcelo Diniz) e "Hóspede do Tempo" (parceria dos dois), e Maria Rita, interessada em "Sem Aviso" (dele e Francisco Bosco). Era como uma espécie de confirmação, para si mesmo, de que estava no caminho certo. Foi o que lhe deu coragem para se expor definitivamente. Em 2001, ele lançou o primeiro CD, "Janelas". Seu mais recente disco, "Raro e Comum", de 2005, tem participações de Ney e Zélia. Fred continua compondo. Sempre. "Para mim, é o mais importante. Cantar veio depois." Veio pela necessidade comum entre muitos compositores de imprimir interpretação autoral em sua própria obra. "Tenho uma voz suave, mas é a composição que tem de ser boa." Para ele, para quem não esperava nada quando se inscreveu no Prêmio Visa, chegar à sua grande final já representa o bastante.

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