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Confira a lista dos 10 melhores LPs, por Emicida

Em entrevista ao 'Estado', o rapper mostrou e comentou cada um de seus discos preferidos

Por Guilherme Werneck
Atualização:

Capas dos LPs da coleção do rapper. Fotos: Valéria Gonçalves

 

SÃO PAULO - Basicamente, Emicida se sente parte de uma tradição de música popular inaugurada com o samba e não descarta suas origens em favor da música americana. Veja só.

 

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Djavan

Gosto da forma como ele escreve. Samurai e Luz são as músicas que me fazem chorar. Ele tem uma métrica muito boa, me inspira para fazer rap. Também gosto do jeito como ele fala de amor, ele fala da vida de uma perspectiva positiva e várias pessoas que falam desse jeito positivo são meio tiradas de palhaço. Mas eu acredito que se você está bem, consegue encontrar soluções melhores para os seus problemas.

 

Billie Holiday

Ela teve uma vida muito louca, com as drogas e tudo mais. Acho uma das maiores cantoras da história. Esse disco aqui é uma coletânea. Eu queria ter a série toda. Comprei outros, mas esse foi o que eu sempre escutei, muito porque ele tem muita coisa que eu costumava sampler. Nunca cheguei a gravar nada com sample da Billie Holiday, mas sampleava e ficava fazendo beat em casa. É louco porque eu não sei inglês, mas eu sinto que o som dela é um negócio para baixo, que várias vezes tem uma atmosfera densa. Aquela cara de bar de jazz, de depressão.

 

Pixinguinha

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Aqui eu tenho o meu grande mestre, Pixinguinha. Nesse disco tem o Jacob do Bandolim interpretando Lamento. É a melhor versão que já fizeram dessa música. Acho que ninguém vai conseguir superar o Jacob do Bandolim. E o legal é que nesse disco também tem algumas músicas com os Oito Batutas, que tem o Donga. Era mal gravado, mas o registro daquele momento é muito importante. E Carinhoso é a música brasileira mais conhecida de todos os tempos, pelo menos no Brasil. Garota de Ipanema não é tão conhecida quanto Carinhoso. Se descer na padaria agora e começar a cantar, todo mundo canta junto. Ele é um desses grandes mestres que eu sinto que não têm o reconhecimento devido.

 

João do Vale

Eu nem conhecia ele há muito tempo, mas conhecia muitas músicas que nem sabia que eram dele. Pisa na Fulô, Carcará, Coronel Antônio Bento, que o Tim Maia gravou... Eu conheci o trabalho dele porque no disco ele fala algo como "eu canto porque eu gosto e eu sou a rua". Eu olhei pensei na hora no "A rua é nóiz" (bordão do Emicida). Essa coletânea é legal porque vem com uma biografia. Vi aqui que ele abdicou de tudo, foi pro interior e largou todo o resto, vivendo só dos sucessos. É muito louco. O que eu acho demais é o seguinte: onde um sujeito com essa cara faria sucesso hoje? A música é boa, mas as pessoas vendem imagem hoje e esse cara mau encarado, que parece o tiozão da portaria, mano, não ia vender nada. [risos] Mas ele é um monstro. Fora isso, como todo nordestino, ele vem com uma carga de sofrimento e tristeza que é brutal. E quando trata de alegria, é alegria mesmo.

 

Adoniran Barbosa e Paulo Vanzolini

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Adoniran é o primeiro rapper brasileiro. Ele tem a voz feia para caramba. Não canta nada. E várias vezes o que define as coisas dentro da sua música é o sentimento. A história que ele está contando vale mais do que a técnica que tem para cantar. Como o Chico Buarque, que não canta pra c*, mas tem umas histórias boas. O Vanzolini eu conheço muito pouco, sabe. Mas do Adoniran eu sou fã. Sei todas. Minha preferida é Despejo na Favela, mas eu gosto para caramba de várias.. No Morro da Casa Verde. E os temas que ele pegava eram realmente do cotidiano. Pega uma música como Iracema, que fala de atropelamento. Ninguém fez uma música sobre atropelamento, e ele fala com uma propriedade que você chora quando acaba. Uma que eu gosto muito, e neste disco quem interpreta é a Clementina de Jesus, é Torresmo à Milanesa. Essa música me lembra da época em que eu trabalhava de pedreiro. Ninguém descreveu o prazer de abrir uma marmita com tamanha perfeição, tá ligado? Eu escuto direto de manhã porque dá uma energia legal.

 

Fotos: Valéria Gonçalves/AE

 

 

Cartola

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Mestrão é o Cartola. Eu gosto da tristeza dele. Ele é triste até nas músicas felizes. Tipo "alegria era o que faltava em mim". Preciso me Encontrar é das minhas favoritas. Até o 50 Cent sampleou essa música.

 

Wilson das Neves com Elza Soares

Eu tenho aquele outro dele, O Som Sagrado de Wilson das Neves, e o título é perfeito para o som dele. Esse aqui junto com a Elza Soares, que é um monstro, é um disco que eu escutei pouco porque acabei de comprar, mas já entrou para os favoritos. Ele toca até hoje com gente mais nova. Isso é importante na música, A gente faz parte de uma mesma história, tem de haver esse diálogo. Eu gosto da voz da Elza muito também.

 

Paulinho da Viola

Esse tem uma história engraçada. Passei num sebo porque eu queria aquela música "não sou eu quem me navega..." [cantarola]. Daí eu achei esse autografado. "Com um abraço do amigo Paulinho da Viola" [inscrição que está em todos os discos]. Eu olhei bem pro autógrafo, fiquei na dúvida se era autografado mesmo, mas fiquei a fim de levar. Voltei feliz da vida para casa: "Tenho um disco autografado do Paulinho da Viola." Passei de novo e vi um outro com o mesmo autógrafo. Pô, tinha me sentido maior especial... Esse disco também tem a contracapa mais bonita que já vi na vida. Vem com a foto de vários monstrões - a Clementina de Jesus, o Pixinguinha e o Donga, o Martinho da Vila, Cartola - e, bem sutilmente, tem um reflexo da capa do disco no espelho. Eu acho uma idéia muito louca. Pensando nessa parada de continuidade, eu falo para os caras que a capa do meu disco vai ser assim também.

 

Dorival Caymmi

Eu gosto de ele falar de uma coisa só: o mar. Só que é difícil falar de uma coisa só da maneira como ele fala, e com os toques de macumba que tem. Essa parada da Bahia mesmo, de Salvador, eu acho f***. Os arranjos também. Eu sampleei a Suíte do Pescador. Mas no final nem usei o sample, chamei uma menina para cantar. É uma música que toca bastante fundo, pela história que ele conta da vida na beira da praia. Eu acho muito louco quando a música te transporta para um lugar, como aquela sobre a praia de Itapuã. Nunca fui lá, mas escuto a música e me sinto em casa. Fora que ele dá tantas referências do lugar que você consegue construir aquilo com imagens.

 

Clara Nunes

Quando comprei esse eu já tinha vários da Clara. Acho que ela é uma das maiores intérpretes de samba. Esse disco eu comprei por causa da capa, num primeiro momento. Eu achei muito louca a combinação de uma foto em preto-e-branco e essas cores das letras, sabe? E é uma foto boa, de show. Pegaram bem o momento em que ela está cantando e a banda está na mesma vibe. Aqui tem Esse Meu Cantar, do João Nogueira, que eu nunca ouvi com ele. Nem sei se gravou essa música. E esse disco é muito bem arranjado, de um jeito sutil. Tem uma simplicidade. A maior expressão que a gente tem é o samba, e o samba mesmo é simples. A sofisticação vem na bossa nossa.

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