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Com show pesado, Melvins abre semestre de grandes festivais

Esta foi a 2ª vez que o ícone Buzz Osborne tocou no Brasil; francesas do Plasticines também se apresentaram

Por Felipe Lavignatti
Atualização:

O segundo semestre dos grandes festivais começou neste sábado com o Orloff 5, no Via Funchal. Como o próprio nome sugeria, cinco atrações foram escaladas para a primeira edição do evento. Tirando da conta o DJ americano Tittsworth, responsável pelo fraco repertório entre os shows, cada uma das atrações tinha uma origem diferente. Coube ao quinteto matogrossense Vanguart abrir a noite. Num evento de atrações tão diferentes entre si, a ênfase roqueira fez a costura entre os shows. Curiosamente, foram os brasileiros os únicos a destoar da profusão de hormônios - masculinos e femininos - produzidos no palco. Com um folk rock de nuances que se perdem em shows em lugares maiores que pequenos clubes, a banda tocou para uma platéia reduzida, mas que não ignorou sucessos do grupo, como "Cachaça", "Semáforo" e o country deslavado de "Hey Silver". O vocalista Hélio Flanders lembrou do cantor Waldick Soriano, morto na última quarta-feira, mas não arriscou uma homenagem musical. Na platéia, tomando refrigerante, a jovem cantora Mallu Magalhães acompanhava o show dos amigos. Logo após os brasileiros, foi a vez da primeira atração internacional da noite, os americanos do Melvins. Esta foi a segunda vez que o ícone grunge Buzz Osborne tocou no Brasil. Na primeira vez, em 2006, o guitarrista quase passou despercebido tocando com o Fantomas. O som de seu projeto paralelo não é de fácil compreensão e o Melvins segue a mesma cartilha. Enquanto no Fantomas cabe a Mike Patton o comando da oficina de barulhos, no Melvins o reinado é de Buzz. A configuração do palco separa bem as duas camadas da banda: no lado esquerdo, o baixista Jared Warren e o baterista Coady Willis, do duo Big Bussiness, incorporado à banda em 2006, e do lado direito, King Buzzo e seu escudeiro de mão pesada, o baterista Dale Crover. Tudo que a cena de Seattle teve de mais pesado e sujo ainda permanece com o grupo. Foram pouco mais de uma hora de show que pareceu se constituir de apenas uma música ininterrupta. O entrosamento da incomum formação impressiona. Mesmo com todo o peso de ícone carregado pelo seu líder, o Melvins causou mais estranhamento que entusiasmo ao entregar um produto difícil de ser digerido. Houve provocação, claro. Praticamente todas as músicas do começo dos anos 90 - quando a música de Seattle estourou - foram ignoradas. Não bastasse isso, uma tentativa de cantar o hino americano foi respondida com vaias e um copo de cerveja atirado pela platéia. Buzz não precisava ser simpático e não fez questão. Mesmo com a animosidade, a banda não se abalou e entregou um show pesado e redondo, baseado quase que exclusivamente nos dois últimos álbuns, "(A) Senile Animal" (2006) e "Nude With Boots" (2008), sem pausas para gracinhas nem agradecimentos. Para contrastar com a frieza dos americanos, as francesas do Plasticines fizeram de tudo para conquistar o público. A parcela masculina certamente foi arrebatada: as meninas parecem saídas de um dia de São Paulo Fashion Week. Pena que o som não corresponda à beleza. Falaram, pularam e gritaram para animar, mas não conseguiram o mesmo com a própria música. Seu punk simples não empolgou, nem mesmo com a tentativa de homenagem a Nancy Sinatra com "These Boots Are Made For Walkin'". Enquanto as francesas mostraram que rock simples não é garantia de acerto, os suecos do Hives fugiram da armadilha ao fazer a ponte perfeita do rock and roll dos anos 50 para os dias atuais. Se no caminho o som esbarra no punk, é pela simplicidade do gênero, cuja energia ganha potência ao vivo. Com um punhado de acordes, um vocalista com síndrome de Iggy Pop e uma banda tocando sempre rápido e alto, o Hives apresentou o melhor show. Howlin' Pelle Almqvist tem uivo no nome e faz juz ao título. Em um gênero onde qualidades vocais não se destacam, é de se louvar um cantor com seu tom de voz e que consiga mantê-lo por uma hora aos gritos. Almqvist ainda abusou do seu conhecimento em português, se esforçando para aprender palavras novas e comandar o público. O espetáculo era completado pelas caretas do guitarrista Nicholaus Arson e as firulas do baterista Chris Dangerous. Das bandas de sua geração, o Hives é provavelmente a menos pretensiosa, e isso transparece no palco. O produto final é uma música divertida, rápida e alta, como um bom show de rock deve ser. Os suecos cumpriram sua missão, e quase fizeram esquecer que o Orloff 5 era um festival, não um grande show com nobres bandas de abertura. (colaborou Daniel Lima, do estadao.com.br)

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