Com bateria feita de baldes, quarteto Kick Bucket populariza o jazz pelas ruas de São Paulo

Grupo acaba de lançar o EP 'Terminal Capelinha'

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Por João Paulo Carvalho
Atualização:

Quem passa pela Avenida Paulista, numa quarta-feira chuvosa e abafada de verão, depara-se com o ritmo cadenciado das baquetas imponentes de Bruno Kioshi. No asfalto, já deformado pela passagem diária de milhões de pessoas pelo coração da maior metrópole do País, baldes (aqueles de água mesmo) dão o tom da música e transformam a selva de pedra em um palco de jazz ao ar livre. As beiradas sujas dos objetos “roubados” da prateleira de limpeza da casa da mãe de Bruno refletem na sonoridade do quarteto Kick Bucket, que vê nas ruas uma chance de popularizar o jazz e, mais do que isso, mostrar o poder de democratização da música em ambientes abertos ao grande público. Os batuques quebrados de Bruno, somados à performance enigmática de Thiago Kim no sax, são capazes de enfeitiçar até o pedestre mais desatento. “A arte depende muito mais do coração do que das ferramentas que você utiliza. Eu tenho bateria em casa, mas não é a mesma coisa. O balde tornou-se o símbolo da nossa proposta, que é mostrar música, neste caso o jazz, para as pessoas que não estão habituadas a ouvir coisas assim por aí”, afirma Bruno.   Bruno Kioshi e Thiago Kim se conheceram nas ruas de São Paulo em meados de 2014. Bruno carregava seu exército de “baldes maternos” pela cidade a fazia performances individuais na própria Paulista quando se deparou com o “solitário” Thiago Kim do outro lado da avenida. A troca de olhares foi quase que imediata. Não houve, portanto, outra alternativa a não ser fazer uma jam. “A gente inventou tudo na hora. Ele (Bruno) foi acertando a batida e comecei a rascunhar algo como Edward Ellington, Dizzy Gillespie e Chet Baker. A afinidade foi mútua e durou ao todo 20 minutos”, lembra Thiago. Com o tempo, entretanto, a coisa foi ficando mais séria. Tanto Bruno como Tiago sentiram falta de um som mais encorpado. Depois de um período de testes, acertaram a mão com Levy Santiago (baixo) e El Cid (teclados). O som ganhou força, ficou robusto e passou a ser destaque não só na Paulista, mas na Vila Madalena e no Parque do Ibirapuera, dois dos lugares prediletos do quarteto.

Autoral. Grupo lançou em fevereiro o EP 'Terminal Capelinha' Foto: Nilton Fukuda/Estadão

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No início de fevereiro, o Kick Bucket gravou o primeiro EP, Terminal Capelinha. O trabalho, que por enquanto só está disponível no formato digital, traz ao todo 5 músicas. Todas autorais. Piano Tutti Frutti, Bolacha Mabel, São Paulo Bar e Restaurante, Ibriza Dance e Term. Capelinha traçam, de forma instrumental, retratos do cotidiano da capital paulista. “O nome do disco, inclusive, é uma referência a um lugar muito popular de São Paulo, no extremo sul da cidade”, lembra El Cid. Apesar de fazerem um jazz robusto, o Kick Bucket, que já chegou a tocar versões instrumentais de músicas como Get Luck, do Daft Punk, Crawling, do Linkin Park, e Smells Like Teen Spirit, do Nirvana, flerta com estilos variados. Os gêneros vão da MPB ao hip-hop e o R&B. “Antes de mais nada, somos uma banda. Queremos levar nossa música para o mundo todo. Não há separação de gênero. A rua é um palco a mais”, diz Bruno.  Flerte com o balde. Bruno, 28, que estuda música desde os 14 anos, já integrou diversas bandas. Desde a infância, via nos baldes uma sonoridade diferente dos tradicionais pratos, caixas, bumbos e pedais. “Toco há anos com os baldes. Sei exatamente onde microfonar cada parte e extrair o melhor deles”, relata. Toda as canções do EP Terminal Capelinha foram gravadas com os mesmos baldes utilizados nas ruas de São Paulo.   Bruno lembra que até as frigideiras da família acabaram tendo uma participação especial no estúdio. “Utilizamos um equipamento de primeira linha, dos microfones ao saxofone. De repente, quando a galera olhava para o lado, tinha uma infinidade de baldes e frigideiras. Ninguém entendia nada. Foi engraçado, mas essa é a essência do Kick Bucket. Queremos levar algo diferente para as pessoas e mostrar quanto a música pode ser algo simples e ao mesmo tempo original”, conclui ele.MÚSICAS

Piano Tutti Frutti Abre o EP de forma categórica

Bolacha Mabel Ritmo mais clássico do jazz

SP Bar e Restaurante Essência autoral do quarteto

Ibriza Dance Flerta com outros ritmos

Term. Capelinha Melodia envolvente do sax

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