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"Colombo", de Carlos Gomes, volta à cena

Fracasso na estréia, em 1892, poema sinfônico sobre a descoberta da América é hoje tido como o auge da trajetória do compositor. Nova montagem ganha o palco do Municipal de São Paulo

Por Agencia Estado
Atualização:

Provas não faltam para legitimar a má recepção de Colombo na época de sua estréia, em 1892. Notícias da época, somadas mesmo ao sumiço da obra em análises e comentários sobre Carlos Gomes nas primeiras décadas do século 20, não deixam dúvida. Mas o tempo faz dessas coisas e, 112 anos após ser escrita, a obra é tida como o auge da trajetória de nosso mais importante autor de óperas. E volta, de hoje a domingo, ao palco do Teatro Municipal, sob regência de Roberto Duarte, com direção cênica de William Pereira - e um orçamento de R$ 196 mil para cenografia e iluminação. "É uma obra madura, bem orquestrada", diz o maestro Duarte, um dos mais proeminentes especialistas na obra de Carlos Gomes, responsável pela edição crítica de O Guarani. Colombo foi escrita como parte das celebrações do quarto centenário do Descobrimento da América. Narra a história da conquista do continente, do primeiro contato de Colombo com os reis espanhóis até a volta triunfal do navegante à Espanha. Como explicar, então, a indiferença do público do fim do século 19 com relação à peça? O grande problema em torno de Colombo é sua estrutura. A discussão é antiga: ópera ou oratório? Na verdade mesmo, nenhum dos dois: segundo o compositor, trata-se de um "poema sinfônico vocal em quatro partes". Qual a diferença? Um oratório é tido, grosso modo, como ópera sem encenação (há outros detalhes, como o tema, no início religioso, ou o modo como se interligam os números musicais). E um poema sinfônico? É uma peça musical que tem um programa, narra uma história, passo a passo; o vocal, acoplado por Carlos Gomes ao título, vem da presença de coro e cantores solistas. Resolveu? Sem problema, é daqueles imbróglios sobre os quais nunca se chega a um consenso. O único é que uma questão se impõe: a peça deve, ou não, ser encenada? Se é um poema sinfônico ou um oratório, em teoria não deve. Já se for uma ópera... Resta, então, a música. Colombo é composta de quatro partes. Na primeira, o navegante genovês (interpretado pelo barítono Sebastião Teixeira) revela ao público e a um frade (Sávio Sperandio) suas motivações para empreender a viagem, a perda da mulher amada, a incerteza com relação à sua missão e, finalmente, a certeza da glória. Na segunda, convence os reis espanhóis - Fernando de Aragão (Marcelo Vanucci) e Isabel de Castela (Mônica Martins) - a bancar sua viagem. Na terceira, está em alto-mar, enfrenta tempestades e dúvidas até avistar terra. A quarta parte abre-se com o primeiro contato entre colonizadores e colonizados; e se encerra com a chegada à Baía de Barcelona e o reencontro com a corte espanhola. As árias e cenas de conjunto da obra são altamente descritivas, há imagens muito fortes - como a tempestade em alto-mar, por exemplo, ou a cena do contato entre espanhóis e indígenas. Daí vem o argumento de que, mesmo que não seja uma ópera, Colombo pode - e deve - ser encenada. O diretor William Pereira, porém, ressalta que a narrativa está baseada em uma série de quadros, o que poderia dar um caráter estático à montagem, o que ele garante querer evitar. "A chave aqui é encontrar modos de dar teatralidade à narrativa." Colombo. De Carlos Gomes. Com Orquestra Sinfônica Municipal, Coral Lírico e solistas. Regência de Roberto Duarte. Direção cênica de William Pereira. Hoje e amanhã, às 21 horas; domingo, às 17 horas. De R$ 30 a R$ 100. Teatro Municipal. Praça Ramos de Azevedo, s/n.º, tel. 222-8698.

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