Coleção traça mapa sonoro da Bahia

Sai o segundo volume da série de CDs Bahia, Singular e Plural, registrando as vozes, os cantos, os toques, os batuques das várias partes do Estado

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Sai, finalmente, e felizmente, o segundo volume da coleção de CDs Bahia, Singular e Plural, fruto de inestimável trabalho de pesquisa empreendido pelo Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia (Irdeb). São dois discos, embalados numa capa em cuja face principal vê-se o desenho de uma burrinha colorida, especialmente desenhada por Carybé. O plano da obra comporta seis discos (sempre vendidos em pares) e uma série de programas de televisão, que já foram exibidos pelas emissoras públicas baiana e paulista, e seis CDs. Com o lançamento deste segundo volume, quatro discos estão à disposição dos interessados, que devem solicitá-los consultando a página www.irdeb.ba.gov.br ou enviando um recado eletrônico para irdeb.marketing@bahia.ba.gov.br. Ou, ainda, ligando para o telefone (0--71) 339-1224. O responsável pelo trabalho de pesquisa é o etnomusicólogo Fred Dantas, que responde também pela gravação musical. Em 1988, acompanhado por uma equipe da TV Educativa baiana, ele percorreu 52 mil quilômetros da Bahia, visitando casas de fazenda, capelas, centros comunitários, quintais de casas de lavradores de todos os municípios do Estado. Foram registradas, ao todo, 216 manifestações da cultura popular, em 58 pontos diferentes. Nestes novos discos estão registradas as vozes, os cantos, os toques, os batuques do Centro São Jorge, de Nova Viçosa, dos Reis de Vão das Palmeiras, de Seabra, da festa da casa de Valderez Freitas Teixeira, de Salobrinho, de Ilhéus, das índias kiriri, de Mirandela, da embaixada dos Mouros e Cristãos de de Caravelas, da manifestação de guerrra e esmola gravada no quintal da casa de Benedito Guimarães, também em Caravelas, dos Reis de São Sebastião de Dió, de Itamaraju, da Boca de Lata, de Ituberá, dos congos em louvor a São Benedito e o Tenho Medo do Morrer de Cairu, dos cantos da chegança dos marujos de Cabrália, de Santa Cruz Cabrália - para citar algumas das manifestações registradas. Cada disco vem encartado num belo libreto de mais de 50 páginas, belamente editado e colorido por ilustrações delicadas, contendo ainda as partituras de cada música, as letras, um glossário - quando necessário - e textos que explicam a origem, o significado, as modificações sofridas ao longo do tempo, o uso atual delas, textos científicos que tratam de questões econômicas, sociais, musicais, em profundidade, sem, contudo, apelar para o jargão acadêmico. Nunca nenhuma região brasileira foi tão bem estudada e teve suas manifestações assim minuciosamente examinadas como nessa coleção. Bahia, Singular e Plural é um exemplo de como podem funcionar as instituições públicas ligadas à educação e à cultura. A iniciativa do Irdeb nasceu quando autoridades dessas áreas se deram conta de que muitas das manifestações da cultura popular estavam em via de extinção. Em São Paulo, os centros produtores de riquíssima história de cultura popular estão à mingua, sem receber qualquer tipo de cuidado - que dirá merecer algum registro. Basta lembrar das festas de São Luís do Paraitinga. Os dois novos volumes de Bahia, Singular e Plural mantêm intocadas, como os dois anteriores já mantinham e dois que virão vão manter, as manifestações registradas. Não há "intervenções" dos curadores, não há "acerto" na sonoridade dos cantos, no batuque, no barulho dos pés batendo no chão. Trata-se de uma obra de imenso valor histórico e antropológico - e mais: a simples visita dos curadores reacendou chamas que andavam virando cinzas. Dupla importância, portanto, para esse esforço sobre todos os aspectos louvável e digno da mais profunda admiração. E nem se falou aqui da indescritível - e por isso mesmo - beleza do material recolhido.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.