Coldplay: grupo canta para poucos na 2.ª vinda a SP

Quarteto inicia nesta segunda-feira série de três shows na Via Funchal

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Por Agencia Estado
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Os fãs dedicados já sabem tudo o que rolou com o Coldplay na passagem por Chile e Argentina, no início da turnê latino-americana, que começou no dia 14 e chega agora a São Paulo. Nos três concorridos e restritos shows que o quarteto fará, desta segunda a quarta, na Via Funchal, o esquema não muda. As restrições impostas pelo alto valor dos ingressos (esgotados em poucas horas para as três noites), entre R$ 150 e R$ 400, talvez não sejam problema para a maioria dos que fazem tudo por sua banda predileta. O pior é ter de engolir o Papas da Língua como show de abertura. Agora, não há poder aquisitivo que vença os limites físicos da platéia. Como em Santiago e Buenos Aires, o Coldplay não quer ninguém em pé, daí a adaptação da casa às exigências: serão apenas 2.757 privilegiados do País inteiro por noite, preparados para ver o show sentados em cadeiras numeradas. Pelo menos o serviço de bar deve funcionar normalmente durante a apresentação. Para o camarim, a banda pediu liquidificador para fazer sucos e vitaminas, iogurte e frutas. A banda quer ainda experimentar um peixe nativo. Mas isso não vem ao caso. Além de poder se gabar de estar entre os sortudos a ter a regalia de ver a banda de perto - e com um certo conforto impensável em shows de megabandas de rock -, os fãs não deverão sair frustrados com a parte musical. Ao contrário do que cogitou a princípio, o quarteto britânico desistiu da idéia extravagante de fazer um show inteiro apenas com canções inéditas. Incluiu no roteiro um punhado de hits - se bem que quase tudo deles vira hit. "Se tivéssemos estreado alguma canção, amanhã já estaria na internet e se acabaria a novidade. Ao mesmo tempo acontece que, quando chegamos pela primeira vez a algum lugar, uma canção como Yellow se transforma em algo novo", disse o vocalista Chris Martin em entrevista coletiva em Santiago. Acontece também que, ao contrário de Chile e Argentina, o Coldplay já esteve no Brasil, o que de certa forma pode mudar a maneira de lidar com o público e arriscar. Como a disposição de Martin (que completou 30 anos na sexta-feira, 23) também oscila, tudo pode acontecer. Na quinta-feira, ele interrompeu um encontro com a imprensa em Buenos Aires, de mau humor, por causa de comentários sobre as críticas negativas que o primeiro show do grupo recebeu no Chile "Pode ser a banda número 1 do mundo, vender milhões de discos, mas o comentário de uma só pessoa pode te destruir", enfatizou Martin. Carreira O Coldplay cresceu muito desde que pisou em São Paulo, na mesma Via Funchal, cerca de três anos e meio atrás. É hoje senão a nº 1 a 1,5 do mundo. Pelo menos as vendagens de CDs apontam para isso. O álbum de estréia, Parachutes (2000), contabiliza 7,5 milhões de unidades no mundo; A Rush of Blood to the Head (2002) foi comprado por 11 milhões no planeta; X&Y (2005) salvou o ano da gravadora EMI com 10 milhões de cópias vendidas ao redor do mundo. Além do mais há os vários singles e EPs, outro álbum ao vivo, Live 2003, com CD e DVD, e versões alternativas como a de X&Y, com DVD-bônus, incluindo clipes e faixas extraídas de singles, que acaba de sair no Brasil. Outro petisco para os fãs sai no dia 26 de março (lá fora, é claro). É um box set contendo os 14 singles da banda, de 1999-2006, somente em vinil. A caixa inclui o disputado The Blue Room EP (1999), que chegou a sair em CD, mas está fora de catálogo. Isto, porém, não se tornou empecilho para qualquer um que queira ter acesso; o que não falta é de onde baixar na internet. Em breve vem material novo. Chris Martin (vocais, violão, piano) Will Champion (bateria), Jonny Buckland (guitarra) e Guy Berryman (baixo) se preparam para gravar o quarto álbum de estúdio, cercado do habitual mistério. O produtor mais cotado é Brian Eno, que comentou num programa de rádio da BBC, em Londres que o disco será "muito original e diferente de tudo o que eles fizeram antes". Sexo Na entrevista coletiva em Santiago, Martin disse que as letras das canções vão tratar exclusivamente de sexo. "Como vocês, também li que o novo disco vai ser produzido por Brian Eno. Na verdade, é uma das pessoas que estamos chamando para produzir as novas canções. Em si, ele é uma inspiração, mas não implicará mudar a essência de nossa música", afirmou Martin. Vale lembrar que o U2 - banda com a qual o Coldplay vem sendo exaustivamente comparado, por motivos evidentes - começou a mudar de perfil sonoro a partir do álbum The Unforgettable Fire (1990), produzido por Eno, em parceria com Daniel Lanois. "O primeiro disco você lança para ter trabalho e se expressar. Com o segundo, vai ter de mostrar que não foi casualidade. No terceiro, sempre começa a onda negativa e te jogam para baixo. Esperamos que com o quarto tenhamos a liberdade de fazer o que bem entendermos", analisou Martin. Argumentar que se sente "deprimido" com uma crítica pode combinar com principiantes, mas soa esquisito quando se trata do líder de uma banda desse porte. Mas talvez eles realmente não se achem grande coisa. "Nunca ouvimos dizer que somos os maiores da Europa. Não alcançamos nada ainda. Estamos a ponto de nos convertermos em grandes, mas isto é só um aquecimento", pondera Martin. Como se nota na (e no) real, milhares de fãs não acham isso e, enfim, pagam o preço da decisão de o Coldplay fazer shows em lugares pequenos em países que não visita toda semana. Diante das conseqüências previsíveis, Martin se disse espantado com o valor dos ingressos cobrados para os shows do Chile e pediu desculpas pelo fato. Isso porque ele não sabe o que foi a passagem (subsidiada) do Cirque du Soleil por aqui. O brasileiro já está acostumado com as facadas. E essa até que dói menos, moralmente falando. Coldplay. Via Funchal (2.757 pessoas). Rua Funchal, 65, Vila Olímpia, zona sul. Tel.: (11) 3089-6999. Hoje, amanhã e quarta, 22 h. R$ 150 a R$ 400 (ingressos esgotados) Roteiro* 1. Square One 2. Politik 3. Yellow 4. Speed of Sound 5. God Put a Smile Upon Your Face 6. What If 7. Sparks 8. White Shadows 9. The Scientist 10. ?Til Kingdom Come 11. Trouble 12. Clicks 13. Talk 14. Swallowed in the Sea 15. In My Place 16. Fix You *Baseado no show de estréia da turnê latino-americana, em Santiago do Chile, no dia 14. Prováveis variações: Green Eyes e A Rush of Blood to the Head (substituindo ?Til Kingdom Come, What If ou Swallowed in the Sea).

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