Cláudia Riccitelli e Nahim Marun lançam CD 'Água da Fonte'

Disco, que tem direção musical de Gil Jardim, é dedicado a ciclos de canções do compositor Villa-Lobos

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Por João Luiz Sampaio
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O contato entre o pianista Nahim Marun e a soprano Cláudia Riccitelli começou ainda na juventude. Os dois foram alunos de Hans Joachim Koellreutter e, desde 1999, formaram um duo, apresentando-se regularmente lado a lado. Em 2005, participaram da gravação do CD Villa-Lobos em Paris, dirigido pelo maestro Gil Jardim. E é ele quem assina a direção musical na volta do duo à obra do compositor brasileiro, com o disco Água de Fonte, que o selo Clássicos lança no sábado, 15, na Sala São Paulo, com a presença dos artistas.   Veja também: Ouça trecho de 'Manhã na Praia'    Na verdade, a relação de Cláudia e Marun com a obra de Villa-Lobos é antiga. Ela já gravou A Floresta do Amazonas - e cantou a Bachiana nº 5 com ninguém menos que o maestro Claudio Abbado e a Filarmônica de Berlim durante a turnê da orquestra pela América Latina, em 2000. Marun, no fim dos anos 1990, lançou um disco precioso com o violinista Cláudio Cruz, no qual, entre obras de Henrique Oswald, Ronaldo Miranda e Edino Krieger, estavam também as sonatas para violino e piano do compositor.   Juntos, soprano e pianista também participaram do Ano do Brasil na França, em 2005, se apresentado em diversas cidades do País, sempre interpretando o diversificado cancioneiro de Villa-Lobos.   A turnê pela França surgiu na esteira de Villa-Lobos em Paris. A intenção do maestro Gil Jardim era recriar o programa do primeiro concerto do compositor na capital francesa e flagrá-lo em transição no modo de escrever, o que faz também no livro O Estilo Antropofágico de Villa-Lobos.   O fato é que, antes de sair do País, o compositor demonstrava escrever bastante influenciado pela estética de Debussy, mas dentro de um estilo extremamente pessoal, em que se delineava muito claramente o desejo de compor uma "música essencialmente nacional". Na chegada a Paris, no entanto, ele encontrou um ambiente musical em que Debussy já era passado, no qual Stravinski ganhava espaço cada vez mais proeminente. Aquilo significou uma ruptura para o compositor. Desse período é Pensées d’Enfant, que Claudia e Marun interpretavam no disco.   Já a maior parte das canções dos três ciclos de Água de Fonte - Duas Paisagens, Modinhas e Canções Vol.1 e Serestas - pertencem a uma outra fase da vida de Villa-Lobos. Escritos entre 1930 e 1945, são posteriores à segunda viagem do compositor à França e à composição dos Choros e coincidem com o período em que esteve envolvido com o projeto de educação musical implantado durante o governo Getúlio Vargas, e com a composição das Bachianas Brasileiras, talvez seu conjunto mais conhecido de obras. Duas Paisagens é baseado em poesia de Carlos Sá; Modinhas e Canções foram escritas a partir de temas populares recolhidos por Sodré Vianna, mais poemas de Viriato Corrêa e Sylvio Salema; e, por fim, as Serestas partem dos textos de Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Álvaro Moreyra, Dante Milano, David Nasser e Abgar Renault.   Traço estético   "Villa-Lobos tem um traço estético reconhecido por todos nós, todavia vale observar que para cada meio de expressão estabelece procedimentos composicionais bastante particulares."   "Dessa forma, seus ciclos de obras para piano, violão, coral, orquestra, etc. constituem ecossistemas expressivos individualizados no amplo universo musical do compositor. E os ciclos escritos para voz solista e piano não fogem a essa regra", escreve o maestro Jardim no encarte do disco.   E qual seria a particularidades das canções? "O primeiro dado a ser observado numa escuta atenta é o conceito de textura e ambiência elaborado por Villa-Lobos para cada uma das peças contidas nesses ciclos. É valioso percebermos que o compositor sempre estabelece uma atmosfera bem definida para o conteúdo poético. Mais que elaborar as melodias de forma pertinente à idéia de cada texto, ele sempre propõe claramente as tramas sonoras com as quais o piano as sustentará. Todas as suas pequenas introduções anunciam de maneira expressiva o desenrolar do discurso que virá, seja ele etéreo, vigoroso, dramático, brincalhão ou apaixonado."   Daí, diz Jardim, a necessidade de que o intérprete "tenha condições técnicas virtuosísticas, compreendendo com profundidade, melhor ainda, com simplicidade tudo aquilo que é complexo em sua música".

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