PUBLICIDADE

Clapton reúne 30 mil pessoas em Santiago do Chile

À vontade em sua nova fase zen, guitarrista repassou no palco as muitas faces de sua carreira. Na semana que vem, Clapton apresenta-se no Brasil

Por Agencia Estado
Atualização:

Faz muito tempo, diz o guitarrista inglês Eric Clapton. Na verdade, são exatamente 11 anos de ausência. É bom estar de volta, acrescenta, embora ressalte que essa é a última vez. "Não que eu esteja pensando em me aposentar, mas está fora dos meus planos fazer outra turnê nessa escala", explica. São 21h20 no Estádio Nacional, em Santiago do Chile, e 30 mil pessoas ovacionam os acordes iniciais da turnê Reptile, a anunciada derradeira passagem de Clapton pela América Latina. É um show tranqüilo, familiar. Funcionários limpam com flanelas as arquibancadas antes de o espectador sentar-se. Moças bonitas entregam chaveiros com uma guitarrinha onde está escrito o nome do guitarrista. Surge a imagem de Clapton menino no telão e ele começa a dedilhar o violão. Clapton, artista que inaugurou o conceito unplugged na MTV, em 1992, inicia um set acústico com Key to the Highway, canção que registrou recentemente no álbum Riding with the King, gravado em duo com B.B. King (2000). "O que posso dizer é que espero que vocês apreciem a música que vão ouvir, que pareça que estamos nos divertindo aqui em cima porque, acreditem em mim, nós sentimos cada nota que tocamos." Óculos de aro fino, camisa preta de manga curta, calça jeans, Clapton mostra, durante duas horas de concerto, todas as facetas de sua carreira. O exímio baladista romântico comparece com Tears in Heaven, com a noite pontilhada de isqueiros acesos pela platéia. Já o bluesman calejado vem com clássicos como Hoochie Coochie Man, de Willie Dixon, gravada por Clapton em From the Cradle (1994). Ele fica sentado em sua cadeira, como um bossa-novista temporão, durante todo o set acústico, que termina com Change the World. Clapton enfatiza os versos finais, "se eu pudesse mudar o mundo...", e imediatamente pega uma guitarra, plugando o show, que começa a esquentar. My Father´s Eyes, do disco Pilgrim (1998) abre a fase elétrica. Agora se pode ver o herói da guitarra, o Clapton roqueiro que sobrevive debaixo daquela aparência de cavalheiro comedido. O músico que fez por merecer, nos anos 60, aquela pichação nos muros de Londres onde se lia "Clapton é Deus". "Na verdade, isso foi escrito só uma vez em um único muro", contou Clapton em 1997 no programa de Larry King. "Fizeram muito barulho a respeito", afirmou. Clapton está tranqüilo e sua nova fase zen - creditada em grande parte à onipresença da nova companheira, a bela norte-americana Melia McEnery, de 25 anos, que conheceu há dois anos - reflete-se na paciência com que estica os solos em canções como Wonderful Tonight e Cocaine (pérolas do seu disco Slow Hand, de 1977). "Ela é uma exímia pescadora, uma grande cozinheira e uma pessoa paciente e adorável e meu ser tem se enriquecido com sua presença", escreveu Clapton, nas notas do programa de turnê. Sua felicidade é pública e assumida e está no palco esta noite. Ele usa apenas três violões e uma guitarra durante o concerto, embora diga-se que dispõe de um arsenal de 32 guitarras em sua bagagem. Revisita suas experiências dos 56 anos de vida, boa parte delas trágicas (como a perda do filho Conor, de 5 anos, num acidente, e a dependência das drogas), sem demonstrar abatimento, apenas serenidade. Tears in Heaven foi feita para o filho que perdeu, algo que o levou à reclusão por alguns anos. "Você pode pensar que é uma canção dura de retomar, mas o fato é que o sentimento daquela canção é... contentamento não é bem o nome... emocionalmente é muito mutável, é um lugar humano e vulnerável para onde ir", afirma o músico. Clapton sedimentou, nos anos 70, um blend, uma mistura de ritmos, fincados no gospel, honky-tonk e mesmo reggae que o projetou num estilo mais comercial, um pop rock que parece fácil a princípio. Mas que só vale se for incrivelmente bem tocado, o que é o caso. Há alguns excessos dos teclados, mas não é exatamente um pecado capital. "Tudo o que está acontecendo agora converge para um tipo de mundo ultrapop, com trupes dançantes, aquilo que é absolutamente o contrário do que considero entretenimento", afirma o cantor. "Se eu for ver alguém no palco, quero me sentir como se eles estivessem cantando para mim", explica. "Mais que isso: quero sentir como se estivessem cantando para si próprios, na verdade." É o que procura oferecer para sua platéia: intensidade e emoção. Num set de blues, ele homenageia um dos seus ídolos, B.B. King. Mas também é funky, soul, gospel, roqueiro que toca alto e com fúria. Ao final, ele retoma o violão e conclui com uma versão acústica de Somewhere over the Rainbow, o clássico que embalou o filme com Judy Garland. A fantasia romântica de Eric Clapton, este senhor que ainda mantém um coração de rock´n´roll debaixo do peito, está presente como a grande lua crescente que surgiu no céu de Santiago. Eric Clapton. Quinta, às 20h30. Abertura dos portões às 16h30. Estádio do Pacaembu. Praça Charles Miller. 3191-0011.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.