Chucho Valdés faz show com Ed Motta

Um dos três maiores pianistas cubanos apresenta sua leitura particular do jazz e dos clássicos com um jovem cantor brasileiro

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Por Agencia Estado
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Três pianistas respondem pelo melhor de Cuba no instrumento atualmente: o veterano Rúben Gonzalez, o jovem Gonzalo Rubalcalba e o monstro sagrado Chucho Valdés. Nesta quarta-feira, à noite, um deles estará no palco em São Paulo, o gigante Chucho (tem cerca de 2 metros de altura). A cidade já o tem como cidadão honorário, mas hoje ele vem com uma novidade: emparelha sua leitura particular do jazz e dos clássicos com um jovem cantor brasileiro, Ed Motta. Com Chucho Valdés e Ed Motta estará o Habana Ensemble, um grupo formado em 1997 por dissidentes do mítico Irakere, liderado pelo saxofonista Cesar Lopez. O Habana Ensemble tem um currículo que inclui participações em trabalhos de Compay Segundo, Tito Puente, Danny Ribera e o próprio Valdés. Já Chucho e Ed nunca se viram antes. Tampouco parecem demonstrar qualquer coisa em comum - Ed Motta é parte da herança soul brasileira, parece dialogar mais com o funk e os ritmos elétricos negros do que com a guajira ou o son. Mesmo no jazz é algo neófito. "Não há grande diferença entre soul, jazz, música brasileira e música cubana", afirma peremptoriamente Chucho Valdés, por telefone. "Todos têm uma raiz comum, afro, embora com acentos diferentes", considera. Ele chegou no final de semana a São Paulo e, após algumas horas de ensaio com Motta, não tem a menor dúvida. "É um artista completo e, embora muito jovem, se vê que estuda muito, que conhece profundamente os gêneros e sabe o que faz." Chucho Valdés prepara o lançamento daquele que ele considera o melhor disco de sua carreira, um álbum de piano-solo gravado em Nova York (Angel Records), com produção de Max Wilcox (que foi produtor de Arthur Rubinstein a partir de 1959) e interpretações de clássicos de Chopin, Debussy, Ravel (Habana para un Infante Defunto) e Ernesto Lecuona (La Comparsa). O lançamento mundial é em 24 de agosto. "Debussy e Ravel são impressionistas franceses, e Lecuona é um clássico cubano", explica o pianista. "Gravei por que acho que apresento uma interpretação dos clássicos, dou um enfoque diferente", afirma Valdés, que se empenha há anos em ilustrar teses musicais - como a de que o que os americanos chamam de latin jazz não é nada menos do que o afrocuban jazz. Ed Motta tem uma carreira marcada pela versatilidade. Começou com hard rock, passou pelo blues, enfronhou-se no legado de soul e funk do tio Tim Maia e foi um pouco pop rock também. Festeja o lançamento de um disco incensado pela crítica, Dwitza (Universal Music). Ambos têm a previsão de tocar na noite de hoje baladas de Bill Evans e Billy Strayhorn (Lush Life) e também canções do disco de Motta, como Doce Ilusão. "Um concerto como esse é muito interessante para propiciar a comunicação entre músicos de países diferentes que fazem uma música que tem a mesma raiz" disse Chucho Valdés, que já fez turnês com Ivan Lins. Da última vez que esteve aqui, Valdés tocou com seu trio acompanhando-se eventualmente pela irmã, a cantora Mayra Caridad Valdés. Foi no Bourbon Street Music Club e o set de Valdés, com brincadeiras sonoras e improvisações. Ali, reinou uma certa predominância da música dançável cubana. Agora, o desafio é novo. Chucho Valdés é um mito da música cubana. Várias histórias contribuem para alargar essa lenda, uma delas a de que começou a tocar piano aos 3 anos. "Meu pai (o também pianista Bebo Valdés) diz que quando ele trabalhava no Tropicana, como subdiretor e arranjador de orquestra, uma vez saiu da sala e deixou sobre o piano duas partituras. Quando regressou para recolhê-las, sentiu que alguém estava tocando. Não estava martelando o piano, mas tocando melodias. Então ele correu para ver quem era, e encontrou a mim, segundo ele. Ele perguntou a minha mãe. "E o que é isso? Você o ensinou?" E minha mãe disse: "Não, eu nunca. A única coisa que vejo é que sempre que tu tocas ele está atrás vendo." Chucho invoca testemunhas. "Cachao (famoso baixista cubano) é testemunha disso por que eles são contemporâneos e ele visitava muito minha casa." Seja como for, é possível dizer, sem conhecer o passado, que Chucho toca piano hoje como raros músicos o fazem mundo afora. Serviço - Ed Motta, Chucho Valdés e Habana Ensemble. Quarta, sexta e sábado, às 21 horas. De R$ 45,00 a R$ 110,00; e R$ 22,50 a R$ 55,00 (estudantes). Teatro Alfa. Rua Bento Branco de Andrade Filho, 722, tel. 5693-4000 ou 0300-7893377. São Paulo.

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