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Chico e Edu refazem o "Cambaio" em CD

Por Agencia Estado
Atualização:

Cambaio é, definitivamente, uma obra de arte aberta. Desde o começo. Adriana e João Falcão, após a passagem de ano para 2001, tiveram a primeira idéia e deram o mote para Chico Buarque e Edu Lobo. Era a idéia do sonho, que permeou toda a trama. Assim começou, resumidamente, o processo criativo e contínuo desse musical. Os dois, inspirados, passaram a compor com entusiasmo. Cambaio, a peça, sofreu transformações a cada sessão - estreou na cidade e ficou por uma longa temporada e agora segue para Belo Horizonte. Mas a obra teve um desdobramento muito além dos palcos. Está nas lojas o CD Cambaio, criado com esse espetáculo, mas que ganhou uma nova leitura, extremamente delicada, dos seus autores, Chico Buarque e Edu Lobo. O musical estruturou-se em meio a um jogo de estímulos. O disco de Chico e Edu também. Desde o momento anterior ao mote. Os dois ficaram vulneráveis ao processo, dentro de um jogo de empurra, conduzidos pelo sonho. No caso, o amor fazia parte desse sonho. Daí nasceram melodias e letras que expressam a ligação dos personagens da narrativa com o amor. O Cara, um popstar em ascensão, a Bela, sua fã, e o Rato, um cambista esperto, vivem uma relação emotiva, sem limitações de tempo e espaço e, por isso, interessante. Cada pessoa ao assistir a Cambaio interpreta-o, justamente por sua relação ambígua com a realidade e o sonho, de modo completamente distinto. Chico e Edu passaram pelo mesmo processo - embora, os dois tenham métodos de criação bastante antigos, seus finos macetes, seus olhares que dialogam na "expectativa de um drible". Essa provocação resultou na criação das músicas para o espetáculo e a leitura disso para o CD. Há muita diferença entre as duas formas de apresentação dessas expressões artísticas. Lenine foi o diretor musical do espetáculo. Ele deu às valsas e bossas de Chico e Edu o vigor do pop, seja pelo riff da guitarra, da percussão brasileira ou, melhor ainda, pela colagem de samplers feita por um DJ. Cambaio, o CD, é um clássico, que nada tem das linguagens musicais globais do momento, como o hip hop (sua instrumentação foi usada com primor na peça, por Lenine e João Falcão). Na trajetória consagrada de Chico e Edu, Cambaio segue a linha clássica e, sobre isso, não se pode dizer muita coisa. Porém, o que foi criado musicalmente no palco também mereceria registro ao vivo em CD, pois, se há uma tentativa da aproximação do clássico da MPB com o pop da MPB, ela estava lá, no palco, no calor das apresentações, das sugestões dos jovens atores e, até, da resposta do público. Que não ocorra só na MPB, distante de uma maioria. Parte técnica - Foram 17 dias de gravação, no total de 153 horas de estúdio. Os dois, antes de começar a gravar, já haviam feito um CD demo, com o qual poderiam traçar caminhos harmônicos e rítmicos. Cambaio, a peça, já estava em cartaz. Dez dias antes da estréia, Chico e Edu compuseram Veneta, que não entrou no musical, mas está no CD. Gal Costa interpreta a canção. A sofisticação, beleza e delicadeza desse clássico é também responsabilidade do maestro Chiquinho de Moraes, que trabalhou com os compositores em O Grande Circo Místico, de 1983. O regente preparou com Edu os arranjos e fez a orquestração do disco. "São sons que sustentam e dão vida à melodia. Quem não tem paladar sofisticado, não sabe as diferenças dos temperos", define o maestro. "As letras do Chico são riquíssimas e, por isso, utilizei todos os tipos de instrumentos nesse CD." Sobre a harmonia de Edu, ele fala que "teve de usar toalha de linho e toda a prataria disponível". A partir desse pensamento, eles chamaram o melhor time de músicos, nomes renomados no mercado. Chico, Edu, Lenine, Zizi Possi e Gal Costa interpretam as oito canções. Há ainda dois temas instrumentais: Quase Memória, com o nome inspirado no romance homônimo de Carlos Heitor Cony, e A Fábrica.

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