Chega às lojas novo CD do Radiohead

A banda inglesa Radiohead, considerada por muitos a mais importante da atualidade, terá novo CD nas lojas, na quarta. Trata-se do álbum ao vivo I Might Be Wrong - Live Recordings

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Por Agencia Estado
Atualização:

Chega às lojas nesta Quarta-Feira de Cinzas um novo álbum da banda inglesa Radiohead, considerada por muitos a mais importante da atualidade. Trata-se do álbum ao vivo I Might Be Wrong - Live Recordings (EMI), o quinto do grupo. É uma reunião de apenas oito das canções da banda, composições registradas principalmente nos dois álbuns mais recentes: Kid A e Amnesiac. Com esses dois discos, o Radiohead forçou alguns dogmas das fronteiras do pop rock tradicional e incorporou ao sistema sonoro das guitar bands um ataque de cacofonia, grooves, beats, texturas estranhas e uma espécie de necrópsia vocal progressiva do cantor Thom Yorke, líder e ideólogo do grupo. Os feitos do Radiohead são notáveis. Com OK Computer de 1997, eles conseguiram a proeza de colocar seu nome em todas as listas do fim do século ao lado de bandas como The Beatles, The Clash, Led Zeppelin e outras fundamentais da história do rock. Surgido em Oxford, na Inglaterra, em 1987, o Radiohead estreou em disco só em 1993, com Pablo Honey (de onde saiu a magnífica Creep). Depois, veio o aclamado The Bends, seguido por OK Computer. Inflamado pelo reconhecimento precoce, o vocalista Thom Yorke resolveu radicalizar e, em 2000, lançou o monolito Kid A, quase um suicídio comercial do sujeito que já tinha feito uma das mais belas canções pop do século, Creep. Com Amnesiac, ele baixou um pouco a bola e resolveu voltar - pelo menos em algumas faixas - ao artesanato que o empurrou para a eternidade pop. I Might Be Wrong - Live Recordings parece querer provar que o Radiohead tem um outro lado que não é tão valorizado: o de incendiária banda no tête-à-tête com os fãs, ali na crueza do palco. Gravado durante a turnê européia de 2001 traz um pouco daquilo que sobrava às bandas dos anos 60 (The Who, Led Zeppelin, Stones e principalmente The Doors): rigor e geometria musical, acompanhados por fúria e abandono no palco. É quase como se os músicos estivessem fazendo uma jam crepuscular, sem compromisso. Yorke reformula seus hits de estúdio no palco, dando-lhes ainda mais angústia e dramaticidade. Muitos fãs comprarão o álbum somente para ouvir a balada litúrgica "True Love Waits", que encerra o disco e tem sido um dos grandes momentos dos shows da banda pelo mundo. "Transformada" pelas linhas de baixo de Colin Greenwood e alavancada pela guitarra barulhenta de Jonny Greenwood, a canção é de fato um petardo. Mas não está sozinha. Canções como Morning Bell e Idioteque (do disco Kid A) e Dollars and Cents (de Amnesiac) ressurgem vigorosas quase reinventadas. Ao piano, acompanhado por sintetizador e baixo, Yorke toca Like Spinning Plates como se estivesse em uma garagem - coisa que não é de fato mais verdade na carreira do Radiohead, uma banda que enche estádios. "Enquanto você faz discursos bonitos", canta Yorke, "estou sendo cortado em tiras." O vocalista foi descrito recentemente numa revista pop como "um fantasma apanhado numa armadilha de gelo". Parecendo fingir a dor que deveras sente, ele canta suas baladas com agudos tão terríveis que parecem sugerir uma descida por um tobogã de giletes, mas também empunha rocks desnudos com rara competência, como o faz com I Might Be Wrong. A vantagem é que Yorke não requenta o rock dos seus predecessores, embora também não reivindique a invenção de nada. As "novas" bandas de rock, embora competentes, soam quase sempre como algo já ouvido (caso de Strokes, que é Clash e Velvet aqui e ali) ou Oasis (que é Beatles) ou Blur (que lembra muito Syd Barrett). O estilo frágil, assexuado e à beira de um ataque de nervos de Yorke garante a mística do Radiohead. Ele parece estar sempre fazendo o papel de um embalador de pesadelos, coisa que não seduz só jovens proto-existencialistas. Na Inglaterra, foi lançado há pouco um livro intitulado Strobe Lights and Blown Speakers, um compêndio acadêmico sobre a música do Radiohead. São ensaios com nomes tão conturbados quanto a mente do vocalista. Vejam só: To(rt)uring the Minotaur: Radiohead, Pop, Unnatural Couplings and Mainstream Subversion. Ou este: We´ve Got Heads on Sticks/You Got Ventriloquists: Radiohead and the Improbability of Resistance. Estranho, com um olho semicerrado (ele nasceu com o olho fechado e só o reabriu com uma série de cirurgias), Yorke é hoje a imagem mais bem-acabada do rock contemporâneo, uma criatura dividida entre o alternativo e o maciço, entre o eletrônico e o artesanal, entre o instinto e o intelecto.

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