Cesaria Evora volta a encantar com "Voz d´Amor"

Novo CD da cantora, vencedor do Grammy deste ano e recém-lançado no Brasil, não muda muito, nem precisa Clique para ouvir Isolada

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Por Agencia Estado
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Assim como a voz enfumaçada e o hábito de andar descalça, a música de Cesaria Evora não muda muito, disco após disco. Não precisa. Em "Voz d´Amor" (BMG), o novo CD da cantora, vencedor do Grammy deste ano e recém-lançado no Brasil, o misto de gêneros tradicionais do Cabo Verde com sutis associações a ritmos de Cuba, Portugal e Brasil continua encantador. Quase como uma regra, alternam-se as mornas, de ritmo dolente, e as coladeras, mais aceleradas e menos tristes. As referências comuns, que unem sua música àqueles outros países banhados pelo Oceano Atlântico, são o tipo de instrumentação e as sensações de saudade e melancolia. O amor, o mar e o afeto pela terra natal são temas recorrentes em seus discos, em que não podem faltar composições de seu tio B. Leza. É dele a tocante faixa de abertura do CD, "Isolada", uma morna bem próxima do choro-canção brasileiro. Para aumentar a semelhança, a canção conta com o bandolim do carioca Hamilton de Holanda em atuação impecável, como de resto todos os instrumentistas que participam do disco. Entre eles, o africano Regis Gizavo, de Madagáscar, tocando acordeon, e percussionistas cubanos. "Só fui conhecer Hamilton depois que o disco estava pronto", conta Cesaria. "Queria ter um bandolim nessa música e ele foi indicado pelo meu produtor. Gostei muito do resultado." Autores antigos e novos, como Luis Morais, grande expoente da moderna música cabo-verdiana, alternam-se com uma canção de cada um. Cesaria repete apenas Teofilo Chantre, que assina três faixas, uma delas sozinho. "É um dos compositores que mais admiro", diz a cantora. Conterrâneo dela, Chantre é responsável por alguns de seus grandes sucessos, como Ausência, desde que Cesaria colocou Cabo Verde no mapa do mundo ao lançar o histórico álbum "Miss Perfumado", em 1992. De lá para cá ela se aprimora a cada novo trabalho. Invariavelmente acústicos, os arranjos são cada vez mais lapidados, o que fazem envergonhar os teclados eletrônicos de timbres cafonas, presentes nos primeiros álbuns. Piano, cavaquinho, violões, saxofone, acordeon, violino, bandolim, clarinete, contrabaixo, percussão compõem uma gama rica de detalhes que embelezam ainda mais as já sublimes canções. Se o público em geral corresponde de qualquer maneira à emoção com que canta, os brasileiros têm com ela algo mais em comum. Além do interesse pela música do mundo, Cesaria é notória admiradora da música brasuca e já gravou duetos marcantes com Caetano Veloso e Marisa Monte. Diz que tem vontade de voltar a cantar no País, do qual tem boas recordações. "Depende de vocês me convidarem", brinca. Enquanto não volta, ela manda o recado recorrendo de novo ao repertório de Ângela Maria, de quem é grande fã, regravando "Beijo Roubado", samba-canção abolerado de Adelino Moreira.

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