Celso Viáfora vai de samba em novo CD

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Por Agencia Estado
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Celso Viáfora nunca escondeu a influência que Chico Buarque exerce em sua música. Foi por ouvir o disco Volume 3 (1968), do companheiro de profissão, que passou a prestar atenção nos compositores e suas canções. Em seus dois álbuns anteriores, Paixão Candeeira e A Cara do Brasil, conviveu com a presença de Chico, em suas frases e acordes, de tal forma que a crítica o associava ao outro de imediato. No entanto, antes do encontro, Viáfora já fazia música. Aos dezessete anos, juntava os primos para animar inauguração de fábrica, tocando samba nos churrascos que o pessoal de sua vila (próximo à Estação da Luz, em São Paulo) programava. Essa história estava guardada na memória e veio à tona recentemente por conta do lançamento de Basta um Tambor Bater (Jam Music), disco que chega esta semana às lojas. Nesse trabalho, o quarto solo de sua carreira, Viáfora mostra-se mais próximo da espontaneidade musical das celebrações regadas à cerveja e carne vermelha do que dos sofisticados acordes e versos da geração áurea da MPB. Uma opção já havia anunciado quando se apresentou pela última vez em São Paulo, em junho, no Supremo Musical e ensaiada há quatro anos, desde sua aproximação com a escola carioca Acadêmicos do Salgueiro. É, portanto, um disco que explicita aspectos de sua música que estavam encobertos. Um disco de samba, concebido em conjunto com Jane Duboc e Paulo Amorim, com participações dos produtores Paulão e Ivan Paulo, de Beth Carvalho, Ivan Lins, MPB-4 e Arlindo Cruz. É também um disco de versos diretos e imagens cotidianas. Defende, voltando a Chico Buarque, que a melodia já traz a palavra embutida. Só é preciso achá-la. E é aí que mora o segredo. ?Se (a música) pinta de maneira sofisticada você não deve fugir disso?, explica. ?Agora, quando vem uma música como Emoldurada (Viáfora e Ivan Lins, presente no novo disco), é preciso saber usar a linguagem apropriada?. Emoldurada, homenagem à Portela escrita por um salgueirense fanático, tem os versos: ?Cantei por nós, chorei por ela, com Monarco e Paulinho da Viola, Eu que sempre chorei por outra escola, amei a Portela, por ela, ali, naquela hora?. Não fez nada premeditado, mas reconhece que em seus trabalhos anteriores, as canções que se destacaram eram sambas, como Por um Fio e O Baque do Pilão. É um disco dançante, pela própria característica do gênero. Com um direcionamento mais claro. Por isso, defende o sambista paulista, fica mais fácil delimitar o público que irá consumi-lo. ?Se você reúne toda a diversidade rítmica do Brasil, baião, reggae, samba, xote, fica mais complicado de entender?, defende, referindo-se a A Cara do Brasil. Considera este novo disco menos "ET do mercado" do que os anteriores. Tal fato, no entanto, não significa que Viáfora tenha feito concessões. ?Eu nunca cedi um espaço que seja no sentido de que eu queria fazer uma música que me satisfaça?, afirma. Aproximou-se da sonoridade presente no trabalho de Zeca Pagodinho e Jorge Aragão porque queria mostrar seus sambas. ?Os dois talvez sejam hoje a expressão mais próxima da unanimidade musical. São caras que conseguem transitar nesse mercado maluco das gravadoras e que têm o reconhecimento da crítica?. Por isso, não esconde estar ansioso para saber se Basta um Tambor Bater servirá de trilha para o churrasco de seus pares.

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