CD reúne tangos na voz de Bibi Ferreira

Depois do repertório de Edith Piaf, Amália Rodrigues, clássicos da canção brasileira, Bibi canta tangos

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Por Agencia Estado
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Depois do repertório de Edith Piaf, Amália Rodrigues, clássicos da canção brasileira e até um rap, só faltava mesmo Bibi Ferreira cantar tangos. Não falta mais, pois ela acaba de lançar um CD com 13 títulos tradicionais ou pouco conhecidos, que leva o nome do gênero como título. Desta vez, trocou a grande orquestra que a acompanha em Bibi in Concert pelo piano clássico de Miguel Proença. O que, à primeira vista, é uma guinada na carreira dos dois é uma volta às origens. "Minha mãe (a corista Aída Isquierdo Ferreira) era argentina e reunia amigos em casa para fazer música. Então, ouvi muito tango desde criança. Aprendi espanhol junto com o português e nós tínhamos um dialeto em casa, falávamos as palavras ao contrário", lembra Bibi. "Nasci na fronteira com o Uruguai (em Quaraí, às margens do rio) e até os 15 anos o tango era a música que ouvia, até por ser filho de uma uruguaia", conta Proença. "As grandes orquestras do gênero visitavam minha cidade ou eu ia a outras maiores para ouvi-las." Mesmo tendo essa intimidade com a música dos subúrbios pobres de Buenos Aires, Bibi e Proença não se arriscaram a gravar sem a assessoria de um especialista para escolher o repertório e orientar a interpretação. "Quisemos fugir ao óbvio e buscar a essência do tango", diz Bibi, evidenciando o rigor que a acompanha desde sua estréia (oficial), aos 18 anos, contracenando com o pai, o ator Procópio Ferreira. "Queria interpretá-los sem perder o que os portenhos chamam de ?la mugre?, a sujeira do tango, mas atento às exigências técnicas da música", completa Proença. O jeito foi importar o maestro Ignacio Varchausky que, aos 29 anos, faz parte da orquestra El Arranque, de Buenos Aires Ele ajudou a selecionar o repertório que mistura clássicos como "Mano a Mano", "Yo Soy el Tango" e "Caminito" com músicas praticamente inéditas, como "Cuesta Abajo" (gravada apenas por Carlos Gardel, compositor com Alfredo Le Pera) ou "La Noche Que te Fuiste". Há ainda um tango instrumental, "Fuimos", em que Proença junta sua técnica erudita às manhas do gênero. Bibi mostra sua bossa especialmente em "Siga el Corso" (outra quase inédita) e "Esta Noche me Emborracho". "Para esse resultado, Ignacio escolheu o repertório conosco, acompanhou a gravação e voltou na mixagem", conta a diretora artística da Biscoito Fino, Olívia Hime, também produtora do disco. "Ele é praticamente um menino, mas de uma seriedade impressionante no trabalho. No fim, disse que quem não sabe a nacionalidade de Bibi e Miguel pensará que eles são portenhos." Os dois têm uma história na gravadora Biscoito Fino. Ele com caixa de dez CDs Piano Brasileiro, em que interpreta nossos mestres do instrumento, e ela com o CD e o DVD Bibi in Concert. Apesar disso, eles não têm plano para um show com o repertório do disco. Bibi se divide entre as apresentações de seu show (atualmente em São Paulo) e as muitas peças que dirige. A mais recente, Rádio Nacional, é um sucesso no Rio. Como concertista, Proença tem agenda fechada com muita antecedência. Mas eles sonham com o espetáculo. "Queria lançá-lo no programa do Maradona, lá em Buenos Aires", brinca o pianista. "Bom mesmo seria fazer um show com uma orquestra original de tangos", ressalta Bibi. Mas, por enquanto, eles comemoram a aproximação com um público que não tinha intimidade com o tango. "Os músicos de minha banda me fizeram uma surpresa. Pegaram uma das músicas e fizeram um arranjo para mim", conta Bibi. "Ficou esquisito, mas valeu a homenagem." Proença gostou de falar com um público mais informal. "Por causa desse disco, já dei entrevista até para a Rádio Nacional. Quando ia imaginar que o tango me levaria a um público como este?"

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