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CD é porta de entrada para obra de Ives

Antologia faz uma boa introdução à música do maior compositor erudito norte-americano de todos os tempos

Por Agencia Estado
Atualização:

Uma bela introdução à música de Charles Ives (1874-1954), o maior compositor-inventor que a América produziu até hoje, encontra-se no CD da RCA Victor-BMG intitulado Ives, an American Journey. Essa antologia foi idealizada pelo regente e pianista Michael Tilson Thomas, que, durante as décadas de 80 e 90, registrou com perícia a integral sinfônica do autor. Ives foi um artista fora da norma. Nascido em uma cidadezinha da Nova Inglaterra, filho de um regente de banda, estudou em Yale, tendo aulas com o conceituado (e acadêmico) Horacio Parker. Organista de primeira, foi um autodidata em composição. Dedicou-se ao ramo de seguros, tornou-se milionário e só escreveu música à noite e nos finais de semana. Sérios problemas de saúde tiraram-no dos negócios e da composição. Só foi reconhecido muito tardiamente. Até a década de 1940, ele costumava ser ridicularizado. O fundamental da produção de Ives - sinfonias, música de câmara, 150 canções, obras corais e peças concebidas para inusitados conjuntos instrumentais - foi criado na última década do século 19 e nas duas primeiras do século passado. Ao entrar em contato com o que ele havia composto, Stravinsky disse: "Ele fez tudo antes de nós." Isso porque Ives abordou a politonalidade, a polirritmia, a música microtonal, a forma aberta, a escritura serial e a colagem sonora antes que qualquer outro colega seu pensasse nisso. No disco de Tilson Thomas há, por exemplo, Dos Campanários e das Montanhas, peça para metais e jogos de sinos que dá a impressão de ser música visual. Os evocativos Três Lugares na Nova Inglaterra, repletos de surpreendentes e mahlerianas colagens sonoras, também estão presentes. A extraordinária Pergunta não respondida igualmente está aí, com a sua permanente magia. (Sobre um macio tapete das cordas quase inaudíveis, um trompete lança sete vezes a sua pergunta metafísica acerca da existência, que os sopros inutilmente tentam responder). Prefiguradora da pop art, The Circus Band comparece em versão para barítono e orquestra, ao lado da engajada e norte-americana They are there!, para coro e orquestra, fazendo forte contraste com as canções Serenidade e Memórias, defendidas com sutil expressividade por Thomas Hampson. A variedade do repertório, o alto nível da interpretação e o excelente registro sonoro fazem desse CD um item indicado com entusiasmo para todo aquele que desejar desbravar a floresta inovadora da imaginação sem paralelos desse profeta que foi Charles Ives.

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