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CD celebra o prazer de cantar

Muito divertido, Eu não Peço Desculpa mostra a influência de Mautner como a melhor porção de Caetano Veloso

Por Agencia Estado
Atualização:

Parafraseando Gilberto Gil, a porção Mautner de Caetano Veloso, que até então se resguardara, é sua melhor porção. Eu não Peço Desculpa (Universal Music), o disco conjunto de Caetano e Mautner, é uma belezura de disco. Fresco, sem ser demasiado frívolo; bem-humorado, sem ser um besteirol escrachado; alegre, sem ser alienado. É bem melhor que Noites do Norte, por exemplo, o disco mais recente de Caetano. O motivo é simples: Mautner. Livre da pretensão de elaborar uma lírica impactante ou manifestos de antevisão cultural e estimulado pela presença dionisíaca de Mautner, Caetano se diverte e reparte de fato o que tem de melhor: a engenhosidade e o prazer de cantar. Caetano é um moralista. Mautner é piloto de disco voador. O primeiro foi influenciado pelo segundo - queria aprender também a fazer cantigas de chuva, como escreveu em 1972. Caetano canta um samba que resume esse espírito mautneriano, que é Feitiço (Nosso samba tem feitiço/ Tem farofa/ Tem vela e tem vintém/ E tem também guitarra de rock´n´roll, batuque de candomblé). Há um dado de modernidade industrial no som, dos sambas aos rocks. Esse lado vem da produção do baixista e programador Kassin, antenado parceiro de Moreno Veloso. Guitarra e baixo duelam ao fundo de Manjar dos Reis. Hammonds aqui e ali, congas e efeitos. Gilberto Gil toca violão no libelo antidrogas Coisa Assassina (também composição sua). Paulão 7 Cordas e uma academia de sambistas tocam em Homem-Bomba. Em Urge Dracon, uma seção de metais, coro e percussão transformam a música em pura farra de salão. "Gosto de ficar na praia deitado/ Com a cabeça no travesseiro de areia/ Olhando coxas gostosas por todo lado", canta a dupla, na bossa haitiana Tarado. Eles gravaram várias cançonetas deliciosamente irresponsáveis, como O Namorado e Voa, Voa, Perereca. E as incidentais lisérgicas Doidão e Urge Dracon (Salve o nosso guia/ Pro que der e vier/ Salve o nosso guia/ Jorge Mautner). E também os mais belos clássicos de Mautner, como Lágrimas Negras (Belezas são coisas acesas por dentro, tristezas são belezas apagadas pelo sofrimento) e Maracatu Atômico. E, de lambuja, o maravilhoso Hino do Carnaval Brasileiro, de Lamartine Babo (São, são, são, são quinhentas mil morenas/ Louras, cor de laranja cem mil/ Salve, salve, meu carnaval, Brasil).

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