CCSP apresenta a música de Almeida Prado

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Por Agencia Estado
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Há alguns dias, conta o compositor Almeida Prado, estava ensaiando com a pianista Helenice Audi e levou um susto com a peça em questão, Livro de Ogum. Eu escrevi isso? É como se fosse outro, brinca, lembrando que há tempos não ouvia a obra, escrita em 1977. Como compositores, nem sempre temos a chance de ouvir nossas obras executadas e, quando se tem a oportunidade, bom, aí é ótimo. Tocada na época de sua composição, Livro de Ogum não está, portanto, inédita. O que faz dela exceção entre as peças que compõem o festival que começa hoje e até domingo, homenageia o compositor, de 60 anos recém-completados. Serão ao todo seis concertos, todos gratuitos, no Centro Cultural São Paulo. Entre as estréias estão Jardim Final (hoje), Trio do Pavão (amahã), Partita em Bach Menor e Tríptico de Monte Verde (sexta), Sonata para Mão Esquerda (sábado) e as Kinderszenen (domingo). José Antonio Rezende de Almeida Prado nasceu em Santos, em 1943. Sua carreira, num marco definido pelo próprio compositor, começou em 1952. "Fiz estudos muito importantes de harmonia e contraponto com Osvaldo Lacerda e minha música do período se aproxima da de outros alunos como Marlos Nobre, Aylton Escobar e do próprio Lacerda, lembra. Em 1969, ele partiria para a França e lá encontraria e estudaria com Stockhausen, Olivier Messiaen, Gyorgy Ligeti e Nadia Boulanger, o elo mais tradicional dentro desse grupo de, hoje, vovôs da vanguarda. A programação do festival que homenageia Almeida Prado é de Régis Gomide Costa e, mais do que reapresentar a figura de Almeida Prado, serve como um recorte do que foi a composição musical de vanguarda no Brasil. E, se olharmos para a variedade da produção de Almeida Prado, faz sentido. Em quase 50 anos de carreira, ele caminhou por diversas trilhas, começou sob a tutela do nacionalismo de Villa-Lobos, Camargo Guarnieri e Osvaldo Lacerda, passou para a orientação da chamada Música Nova associada, no Brasil, a Gilberto Mendes. E chega hoje, assim como a grande maioria dos compositores de sua geração, a uma escrita que abarca todos os estilos, todas as correntes, em direção a uma linguagem extremamente pessoal. "Não me privo mais de escrever uma melodia com início, meio e fim", diz o compositor à reportagem, acenando para a multiplicidade de gêneros e recursos a que chegou aos 60 anos. Isso, obviamente, era impensável nos anos 50, 60, lembra. Mas hoje vejo que os jovens, em seus 20 anos, não têm mais essa preocupação, a busca por uma estética definida, um estilo próprio. Cabe tudo nas suas composições, do rap ao tom nacionalista, passando pelo rock. É, digamos, uma estética Macunaíma, sem caráter definido. Serviço - Festival Música hoje: Homenagem a Almeida Prado. De terça a sábado, às 21 horas; domingo, às 20 horas. Grátis. Centro Cultural São Paulo - Sala Jardel Filho. Rua Vergueiro, 1.000, São Paulo, tel. 3277-3611. Até domingo

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