Um ano depois de ter alta de uma cirurgia para colocação de seis pontes safenas no coração, Cauby Peixoto está em plena forma. Ele se apresenta amanhã (01) à noite, no Teatro Municipal de Niterói, acompanhado de um trio (Moisés Pedrosa, nos teclados; Paulo César PC, na bateria, e Olímpio Silva, no baixo) cantando seu repertório eclético, recheado de sucessos, seus e de outros cantores. "É um recital, que exige muito do cantor", ensina Cauby, do alto de seus 50 anos de carreira, completados este ano. "Num teatro, o público vai para ouvir e não adianta a gente mandar cantar junto, tentar fazer dançar. Gosto muito desse tipo de espetáculo." Meio século de palco ensinou o cantor a dominar o público. E ele não se recusa a nada. Faz desde bares sofisticados e intimistas, como o Antonino, no Rio, a praças públicas, para milhares de pessoas. "Faço muito no Nordeste e respeito da mesma forma qualquer tipo de público, do mais rico ao mais pobre, o sofisticado e o simples", diz ele, que ainda faz pelo menos um show por semana, isso quando está de folga. O mais difícil é cantar em festas de clubes. "É um desafio porque as pessoas estão lá para dançar e chega aquele chato cantando músicas paradas. É preciso agradar, fazê-los cantar e saber a hora de entrar e sair do palco. Esse é o grande segredo do artista." Pobre ou rico, sofisticado ou inculto, o público exige pelo menos três músicas: "Conceição", "Bastidores" e "New York, New York", por sinal, as suas preferidas. "Eu gosto do que faz mais sucesso, do que provoca mais aplausos, mas gravo e canto outras coisas também. Nunca deixo de incluir Roberto e Erasmo nos meus shows. O público adora música romântica", ensina o cantor. No show de amanhã, ele canta "Cavalgada" e ainda "Molambo", "Luzes da Ribalta" e a recente "Resposta ao Tempo". Cauby está sempre cantando o sucesso. "Quase não ouço rádio ou vejo TV, mas meus amigos me mandam discos e eu também os compro. Mas meu forte mesmo é o repertório de sucessos sem ligar para o que está em voga. Dura pouco o cantor que segue moda porque os modismos passam rápido." Não é o caso de Cauby, que estreou no palco em 1951, mas a música estava no sangue. Seu pai, apelidado de Cadete, era violonista; o tio, Romualdo Peixoto, o Nonô, foi pianista popular; o primo é o cantor Ciro Monteiro, até hoje reverenciado. Mas quem o colocou como crooner de boates em São Paulo foi o padrinho, Edgar Veras, o Di Veras, que o levou também a gravar o primeiro disco, em 1955. Foi sucesso imediato, com a versão de "Blue Gardênia", hit de Nat King Cole. Dizem que foi também Di Veras quem incentivou as fãs à histeria, que levava adolescentes a rasgar as roupas do ídolo. "Ele me ensinou a respeitá-las. Em vez de dar atenção a uma só, dedicava-me a todas", lembra Cauby. "Elas se casaram, tiveram filhos e hoje também vão aos meus shows. Sou um cantor da família inteira." "Conceição", que se tornou sua marca registrada, foi do elepê seguinte, "Você, a Música e Cauby". Desde então, foram gravações regulares, 34 discos, segundo seu site oficial na Internet. Gravava um pouco de tudo, como atesta ´Cauby Canta para Ouvir e Dançar", em que há música italiana (moda na época) boleros, bossa nova e sucessos americanos. E Cauby, já nessa época, percorria o Brasil inteiro, cantando com músicos locais, lotando os lugares onde se apresentava. "Não é difícil para eles, que geralmente são da noite e sabem muita música de cor", comenta. "Para mim também é fácil porque comecei em boate e me adapto a quem me acompanha." O grande sucesso seguinte foi "Bastidores", um presente de Chico Buarque, para o disco "Cauby! Cauby!", de 80. "New York, New York", só foi gravada em 1986, no disco "Só Sucessos" e desde então é a preferida do público. "Não posso deixar o palco sem cantá-la", conta. "Às vezes, encerro o show, deixo "Conceição" e "Bastidores", a minha preferida, para o fim, mas a platéia exige minha volta para cantar "New York, New York". Não tem jeito." Foi nessa época que a crítica e o público sofisticado confessaram gostar de Cauby. Afinal, se Chico Buarque endossava, porque não declarar o gosto? Especialmente a partir de 1982, quando ele gravou disco com Ângela Maria e começou a fazer shows com ela. Ângela, aliás, é a cantora preferida de Cauby até hoje. "Cantor tem de ter timbre e técnica. A Elis Regina, por exemplo não tinha uma voz tão bonita, mas era a maior do mundo porque era jazzística, sabia tudo", garante. "Já a Ângela tem uma voz linda e foi muito mais popular." Aos 66 anos, completados em janeiro, Cauby mantém a voz e a animação no palco intactas. Para a primeira, ele tem uma receita, que está longe do que ensinam os professores de canto. Ele não evita gelado, não aquece a voz antes de entrar no palco e só está fazendo exercícios, caminhadas, por recomendação médica, após a operação das safenas. "Mas nunca fumei ou bebi porque não aprecio. Só uma vez na vida tomei um pilequinho e não gostei de mim. Não cantei bem e isso para mim é sagrado", adverte. Quanto ao entusiasmo, é amor à arte mesmo. "Palco para mim é religião. Nunca me aconteceu de entrar em cena desanimado, sem muita vontade. Venho com a cara, coragem e muito tesão, o que é fundamental. Isso, eu nunca perdi, nem perderei." Tanto que ele está cheio de planos. Este mês, faz temporada em São Paulo, na boate Scandal, e até novembro tem projeto ambicioso: gravar disco ao vivo com a Orquestra Filarmônica do Rio. E ele ainda pretende fazer outro CD só de boleros, para o mercado externo. "Vai ser lançado nos EUA e na Europa, além do Japão, onde a música brasileira é sucesso." Uma turnê pelo Japão também está na sua agenda. "Nunca estive lá, mas agora quero conhecer."