PUBLICIDADE

Cat Power traz seu folk rock alternativo a SP

Cantora americana de 29 anos chega com sua velha e atormentada guitarra descascada para apresentar-se, sozinha, na Fnac, hoje

Por Agencia Estado
Atualização:

Preparem-se para uma experiência surreal em baixa fidelidade. A bela Chan Marshall, cantora e compositora americana mais conhecida pela alcunha Cat Power, apresenta-se hoje na Fnac pela primeira vez no Brasil, trazendo (apenas) sua velha guitarra descascada. Guitarra que serve para musicar 29 anos de uma atormentada existência. Mais conhecida no circuito underground, Cat Power está há quase dez anos desenvolvendo uma espécie de folk rock alternativo. Em seu último álbum, The Covers Records (2000), ela não usa banda de apoio. Foi assim, sozinha e cantando muito baixinho, que a moça se apresentou na última edição do Reading Festival, na Inglaterra, e será desse jeito que sua turnê passará pelo Brasil. Além de The Covers Records, outros dois discos de Cat Power lançados pela mais famosa gravadora de artistas independentes do mundo, a Matador, possuem edição nacional. Graças a um convênio da Matador com a Trama, What Would the Community Think (1996) e Moon Pix (1998) saíram no Brasil e atingiram boas vendagens. Em tese, isso garantiria uma boa resposta do público daqui aos shows que a artista fará em novembro. Mas sua performance é imprevisível. Na apresentação que fez na menor tenda do Festival de Reading, Cat Power produziu uma música tão baixa, que o som do grupo de rock pesado Papa Roach, rolando a vários metros de distância no palco principal, poluía o ar e distraía a platéia. Com arranjos modificados, ficava impossível reconhecer as canções. Quando arriscava covers, como Knocking on Heaven´s Door (Bob Dylan), pulava os refrãos (Satisfaction, dos Stones, foi gravada desse modo em seu último disco). No dia seguinte, ela tinha show marcado na capital inglesa. Antes, conversou com repórteres brasileiros sobre sua vinda ao País, enquanto bebericava vodca com gelo. Quando subiu ao palco, repetiu o acanhamento e a estranheza de Reading, tocando o mesmo repertório, mas incluindo versos inventados que falavam de São Paulo e de sua futura ida ao Brasil. A platéia, formada também por famosos como Jarvis Cocker (líder da banda de britpop Pulp), não entendia nada. Os hits indies Cross Bones Style e Nude as the News foram pedidos e ignorados. Cat colocou o pedestal do microfone no lugar mais escuro do palco e ficou lá miando, afinando sua guitarra, resmungando e viajando muito. Fábrica de cerveja - A cantora confessou ter se sentido desconfortável em Reading. "É estranho porque... Quem é o festival? Eu quero conhecê-lo, porque aquilo é gravado e comercializado. E tem todo o lance de publicidade envolvido. É como se você estivesse trabalhando para uma fábrica de cerveja." Os festivais de Reading e Leeds são patrocinados pela cerveja Carling e transmitidos pela Internet. "A AOL/Time Warner também é dona do Reading. Eu vi no meu contrato. Quem são eles? Eles não são pessoas, são computadores", indagou em tom conspiratório. Ela reconheceu que sua performance foi intimista demais para o evento, mas não conseguiu arrumar uma banda para deixar seu som mais cheio. "É difícil demais juntar uma banda, é algo que leva muito tempo. O pessoal do grupo Dirty Tree já tocou comigo, mas eles estão ocupados agora. Seria legal ter a minha própria banda, mas é muito difícil achar pessoas que pensem musicalmente igual a mim." Seu projeto de gravar um Cover Records volume dois está engavetado. Uma das músicas do disco seria Wonderwall, do Oasis, que ela apresentou no programa do radialista inglês John Peel, recentemente. "Eu esbarrei no Noel Gallagher em Reading. Ele é um ótimo compositor." Mas Cat diz que seu próximo álbum será de canções autorais, sem covers. "Quero que ele saia no próximo ano-novo. Acho que é um bom dia para lançar um disco." Quanto à turnê pelo Brasil, a americana parecia empolgada, mesmo que seus comentários horas depois, durante o show londrino, indicassem o contrário. Pode ter sido a vodca. "O Brasil deve ser mais interessante que a Europa. As pessoas parecem ser mais reais." Para quem já estiver esfregando as mãos para conferir o show dessa peculiar artista, vai uma dica: Cat Power não gosta de ser aplaudida após o término de cada música, mas acha lindo quando a música é acompanhada por palmas.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.