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Cassandra Wilson vai ao Mississipi para gravar blues

A cantora norte-americana retorna com um disco regado de blues, mas sem esquecer da sofisticação do jazz

Por Agencia Estado
Atualização:

Cassandra Wilson continua um mistério para os ouvintes de jazz. A cantora norte-americana, que começou a carreira gravando r&b e funks e depois enveredou para o jazz, mas sem esquecer suas origens, acaba de lançar seu décimo disco, Belly Of The Sun. Gravado em sua terra natal, Mississipi, nos EUA, ela aproveitou os ares da região e criou um disco mesclando sons africanos e o blues americano. O resultado é mais um trabalho que não pode ser rotulado como jazz, world music, ou qualquer que seja o gênero. Desde o seu primeiro disco pela gravadora Blue Note, Blue Light Til Down, de 93, Cassandra deixou claro que não seria apenas mais uma cantora de jazz. Com este novo disco, o ouvinte poderá comprovar sua destreza em canções pops e blues tradicionais. O disco abre com a regravação do grupo The Band, The Weight, que tem na percussão um elemento marcante. Por sinal, o disco é muito bem servido de percussinonista, Jeff Haynes e o brasileiro Cyro Baptista. Cassandra também se rendeu ao folk de Bob Dylan e reeditou Shelter From The Storm, gravado em 76 por Dylan. Duas canções têm referências brasileiras. A primeira é a versão de Only a Dream In Rio, gravado originalmente por James Taylor, logo depois de participar do Rock in Rio I, e a outra é Waters Of March, do maestro Tom Jobim. Apesar de Águas de Março já ter sido regravada várias vezes em inglês, é sempre agradável ouvi-la novamente, e melhor ainda na voz grave de Cassandra. Ainda pelo lado pop do disco, Cassandra convida a revelação americana India Aire para acompanhá-la nos vocais da singela Just Another Parade. A cantora não se intimidou na hora de gravar blues, já que não foi a primeira vez. As músicas escolhidas foram You Gotta Move, de Fred McDowells, um blues quase gospel, com Richard Johnston no violão, e Hot Tamales, do bluseiro Robert Johnson, com uma guitarra slide na base. Outro momento inspirado é Darkness On The Delta, que contou com a participação do pianista local Boogaloo Ames. Aqui, Cassandra une jazz e blues na medida certa. A cantora mostra-se ainda uma compositora competente em Drunk As Cooter Brown, um blues/caribenho, com a participação de Kevin Breit no Banjo, e em Justice, que traz uma guitarra lembrando o velho Jeff Beck dos anos 70. Para completar, a regravação do cantor country Glen Campbell, Wichita Lineman. Com este disco, Cassandra Wilson manterá o seu legado como uma cantora experimental e de vanguarda. Seus arranjos, como são de costume, privilegiam sua voz poderosa. Quem gostou do último álbum, Traveling Miles, de 2000, não vai ficar assustado com seu novo disco, mas para quem está deslumbrado com a "nova revelação" do jazz, a cantora Jane Monheit, fica aqui a sugestão, fique longe de Cassandra Wilson.

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