Carminho lança no Brasil CD que lidera vendas em Portugal, e faz shows em abril

'Canto' é o terceiro álbum da fadista portuguesa

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Por Roberta Pennafort
Atualização:

RIO - Gravado entre Rio e Lisboa, Canto, o terceiro disco de Carminho, tem entre suas 14 faixas uma parceria de Marisa Monte e Arnaldo Antunes, outra de Caetano Veloso, seu filho caçula, Tom, e Cesar Mendes, e participações dos músicos Jaques Morelenbaum, Carlinhos Brown, Naná Vasconcelos, Jorge Helder, Dadi Carvalho e Lula Galvão, além de Marisa. Mas a fadista, fenômeno aos 30 anos, não acha que seja seu álbum mais brasileiro, embora resulte de sua convivência cada mais estreita com o País e seus artistas. Ao contrário, vê nele toda a sua portugalidade. 

“Este disco para mim é muito português. Eu sou fadista, minha mãe é fadista, é toda a minha referência de infância. Comecei a viajar muito e a distância e o fato de ter muitas influências de outros artistas me fizeram perceber a minha pessoa com muita clarividência. Conheci no Brasil artistas que não abdicaram de sua identidade, sua linguagem, e isso me estimula a não abdicar também”, reflete a cantora, que lançou o CD em Portugal no fim do ano passado, e logo o viu entre os mais vendidos. Recém-chegada de shows nos Estados Unidos, ela deu entrevista ao Estado por telefone.

Intérprete e autora. Experiência no Brasil ajudou-a a ganhar confiança para compor Foto: Leo Aversa

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Em Alma, de 2012, Carminho gravara músicas do cancioneiro de Chico Buarque (que fez dueto com ela, assim como Nana Caymmi, cantando Dominguinhos), Vinicius de Moraes e Milton Nascimento. 

Desta vez, preferiu inéditas. Tanto a romântica O Sol, Eu e Tu, de Caetano e parceiros, quanto a etérea Chuva no Mar, de Marisa e Arnaldo, ela ouviu pela primeira na casa da cantora carioca, em saraus.

“A do Caetano era inicialmente um samba meio bossa nova, mas demos uma levada fadista”, lembra Carminho, cuja voz já foi descrita pelo compositor baiano como “um breve milagre”. 

Ela pediu a música por e-mail a Caetano e ele lhe deu com gosto. Já com Marisa foi diferente: já havia a intenção de gravar uma composição sua, e Chuva no mar lhe tomou às primeiras audições.

“A gente já tinha se encontrado algumas vezes para ver se achava alguma coisa que ela gostasse e que também gostasse dela”, contou Marisa ao Estado. “Ficou lindo o jeito que ela mixou as sotaques e os timbres. A Carminho tem uma dinâmica no canto bem especial. Eu adoro fado e o discurso mais contemporâneo que ela está trazendo.”

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São duas músicas contemplativas, em que a água, do mar e da chuva, é usada como metáfora para a transitoriedade da vida. O Sol, Eu e Tu, a primeira parceria de Caetano com o filho de 17 anos, que é compositor da banda Dônica, fala do “céu azul/ o sol no mar/ só eu e tu/ damos sentido a tudo que existe/ e existirá/ a chuva cai/ a imensidão/ geme num ai/e o horizonte revela-se inteiro/ neste chão”.

Chuva no Mar, uma composição que estava guardada havia alguns anos, é pura transmutação: “Coisas transformam-se em mim/ é como chuva no mar/ se desmancha assim em ondas a me atravessar/ um corpo sopro no ar/ como um nome pra chamar/ é só alguém batizar”. 

O tema do mar, aparentemente inexorável quando o assunto é a relação Brasil-Portugal, está também em outras faixas. “Pode ser lugar-comum, mas é um fato, não se pode escapar dele. É um movimento que nasceu com as caravelas. Essa energia existe nos povos que estão com o mar a seu pé, que passam por partidas, despedidas, aventuras”, explica também.

Aventurar-se cada vez mais como compositora é um desejo de Carminho que ganha força com a liberdade emprestada pelas experiências além-mar, e o CD tem duas composições suas, Contra a Maré e Andorinha. Tem também poemas musicados, um de Fernando Pessoa, Na Ribeira Desse Rio (por Mário Pacheco) e outro de Reinaldo Ferreira, A Ponte (por Carminho). 

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Ritmos tradicionais portugueses mais alegres suavizam o disco, mas o fado predomina. “A crise econômica e social nos traz à nossa mãe, à nossa referência. Fado é mãe. Essa redescoberta do fado vem de 10, 12 anos para cá e estamos numa fase brilhante. Não acredito em novo fado. O fado é o fado, como o samba é o samba”, avalia. 

“Quando você valoriza o que é seu, os outros nos olham com olhos de admiração”, afirma ela, ao analisar o sucesso de seu canto na Europa, nos EUA e no Brasil. Carminho canta dia 9 de abril no Vivo Rio e dias 10 e 11 no HSBC Brasil, estes shows com participação de Milton Nascimento. 

“Os brasileiros e os portugueses têm maneiras diferentes de estar na vida. Vocês vivem as tristezas em tom maior e nós, as alegrias em tom menor. É tudo muito forte”, acrescenta.

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