PUBLICIDADE

Carlos Lyra: 'Se não for para melhorar a obra de um autor, é melhor respeitá-la'

Convidado do show em que Paula e Jaques Morelembaum farão neste sábado (28), no Blue Note, Lyra fala de como se comporta diante das harmonias de Tom Jobim. Ele sabe o que diz:: "Já ouvi a seguinte frase: ‘Lyra, rearmonizei Minha Namorada’. Eu perguntei se a pessoa conhecia a harmonia original e ela me disse que não. Faz sentido isso?"

Foto do author Julio Maria
Por Julio Maria
Atualização:

Quase 20 anos depois de gravarem o álbum Casa, quando o violoncelista Jaques Morelenbaum, sua mulher, a cantora Paula, e o pianista japonês Ryuichi Sakamoto tomaram o repertório de Tom Jobim em sua própria casa, usando seu próprio piano, para apresentas suas músicas com o lirismo extenso de Sakamoto, as falas doces do violoncelo de Morelembaum e o lindo timbre de Paula, o álbum volta a ser visitado em um show em São Paulo, no Blue Note, apenas neste sábado (28).

Lyra, o convidado especial da noite Foto: UANDERSON FERNANDES / ESTADÃO

PUBLICIDADE

Paula e Jaques estarão no palco sem Sakamoto mas com uma sessão à altura da obra que escolheram. O baterista Paulo Braga, por muitos anos ao lado de Elis Regina e outros tantos com o próprio Jobim; o violonista Lula Galvão, de nomes como Ivan Lins e Claudio Roditi, e o pianista Adriano Souza, de tantos da bossa nova e do samba. E o convidado da noite, nas duas sessões do Blue Note, às 20h e 22h30, será Carlos Lyra, o que deve fazer do show, além de ser a retomada de Casa, uma homenagem a Jobim.

Lyra explica bem como será a sequência. “Jaques e Paula me convidaram para participar desse show que celebra a Bossa Nova através das músicas do Tom e das minhas. Então, o repertório foi escolhido a dedo para as pessoas confraternizarem e cantarem juntas, mas não são óbvias. Jaques faz uma parte instrumental, depois Paulinha entra e canta Tom. Ao final, ela me chama, canta minhas músicas comigo e eu canto algumas sozinho. O roteiro é um apanhado de canções das mais líricas às mais populares, no intuito de mostrar a diversidade de nossa obra.”

E como deve se portar um intérprete diante da obra de Tom? Alguns rearmonizam as canções, outros dizem não se atrever a tocar no naquilo que é sagrado. O que pensa um dos maiores harmonizadores da música moderna? “A harmonia do Tom, assim como a minha, é bastante elaborada. Cada acorde é buscado na intenção de encontrar o que soa melhor dentro da intenção da melodia. São dias, semanas, de trabalho. Você se levanta de madrugada com o que acha ser o acorde certo, vai pra sala tocar. No dia seguinte mexe novamente. É uma busca sem fim. Então, mexer numa harmonia assim seria para melhorá-la e, pra mim, não há sentido em modificar o que já é extraordinário.” E quando o ego é mais forte? “As pessoas tendem a mexer para dar um toque pessoal. Eu entendo, mas acho que se seu toque não for melhor, respeite o autor. Já ouvi a seguinte frase: ‘Lyra, rearmonizei Minha Namorada’. Eu perguntei se ele conhecia a harmonia original e me disse que não. Faz sentido isso?”

Jobim deixou uma carta a Lyra, escrita pouco antes de sua morte, que deverá ser lida no concerto. Os dois haviam se encontrado no bar Garota de Ipanema, em abril de 1994, para gravar uma matéria sobre os 100 anos de Ipanema. “Na sequência, o Almir Chediak pediu que o Tom escrevesse a página de abertura do meu Sonkbook. Nos encontramos novamente, na Plataforma, à convite do Tom. Depois, andando no calçadão, ele estava nostálgico. Só vi o texto após publicado, no Songbook. Fiquei muito emocionado.”

Se o passar dos anos pode modificar em algum sentido a percepção da obra de um artista? Se Lyra ouve em Jobim coisas que não ouvia há 10 ou 20 anos? "Não em relação ao Tom", ele diz. "Nós, tínhamos uma relação musical muito boa e um respeito mútuo. Ele dava palpites na minha música e eu na dele. Sempre conheci a fundo a música dele. Tanto que, quando fui gravar Fotografia, a fiz em ritmo de jazz e o Almir Chediak ainda discutiu comigo, dizendo que a música não era assim. Mas foi exatamente assim que o Tom a concebeu. Depois é que gravaram do jeito que todos conhecem. Faz uma falta danada.”

E o que Lyra pode dizer de Casa ele diz, de novo, com uma pureza de coração que só poderia estar em um criador de sua estatura: “É um álbum lindo, onde Paula e Jaques se unem ao Sakamoto, que é fantástico. A voz cristalina da Paula e o violoncelo doce do Jaquinho me tocam a alma. O repertório do show, da parte do Tom, é todo pinçado desse disco. Às vezes no palco chego a me distrair e perco a minha deixa. Fico viajando no som do violoncelo.”

Publicidade

Serviço: Blue Note São Paulo. Conjunto Nacional – Av. Paulista, 2073 (2° andar) 28 de dezembro (sábado), às 20:00h e 22:30hAbertura da casa: 19:00hInformações/Reservas: https://bluenotesp.com/Ingressos online: https://checkout.tudus.com.br/blue-note-sao-paulo-em-casa-com-tom--e-lyra/selecione-seus-ingressosValor: Premium: R$180 inteira / Lounge:  R$140 inteira

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.