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Carlinhos Brown lança 3.º CD

A ordem é esquecer a "Noite das Garrafadas", a contundente vaia do Rock in Rio. Chega essa semana às lojas de todo o País, Bahia do Mundo Mito e Verdade (EMI), o terceiro do compositor, percussionista, cantor e agitador cultural baiano

Por Agencia Estado
Atualização:

A ordem é esquecer a "Noite das Garrafadas", a contundente vaia com efeitos especiais do Rock in Rio. Chega essa semana às lojas de todo o País o novo disco de Carlinhos Brown, Bahia do Mundo Mito e Verdade (EMI), o terceiro do compositor, percussionista, cantor e agitador cultural baiano. "Aquela chuva de garrafas foi um figurino que eu nunca mais vou conseguir usar", disse Carlinhos Brown, na noite de sexta-feira, logo após ser estrepitosamente aplaudido no Festival de Verão de Salvador, sua reentrée de palco depois do Rock in Rio. Cerca de 30 mil pessoas assistiram ao show. Bahia do Mundo Mito e Verdade não traz as célebres parcerias de Brown, presentes em seus outros discos, como Arnaldo Antunes e Marisa Monte. Ele produziu e compôs todas as letras, como Cavalo da Simpatia, Shalon, Mil Verões e Lagoinha. A direção artística é de Torcuato Mariano. Duas das novas músicas de Brown já são conhecidas do público, pois têm sido executadas nas rádios, principalmente as baianas: Crendice e Trabalhador de Carnaval. Uma terceira, Hip Hop Roots, ele tocou na sexta-feira em seu show de Salvador, ocasião em que cantou também com o sogro, Chico Buarque, a canção João e Maria, clássico setentista de Buarque. Uma das primeiras pessoas a ouvir o disco de Brown foi a coreógrafa alemã Pina Bausch, que esteve em visita ao Candeal três vezes - a primeira a convite do percussionista, as outras duas por vontade própria. "Ela ficou encantada principalmente com o fato de que um homem como ele, que se tornou uma figura de projeção internacional, uma figura pública, jamais se esqueceu de suas raízes", diz o produtor Emilio Kalil, que acompanhou Pina nas visitas ao Candeal. Kalil disse ter ficado impressionado com o novo trabalho de Brown, que traz canções que homenageiam o candomblé e introduz os jovens do Candeal, com os quais o músico desenvolve um trabalho artístico-social. "São canções extremamente intuitivas, autênticas, porque esse é realmente o lado mais bonito do trabalho dele", afirmou. Convidado - Só há um convidado na produção, o carioca Memê, que produziu a faixa Crendice. Brown já cobiçava uma parceria com ele no disco anterior, mas acabou entregando toda a produção a Marisa Monte. Memê também se mostra fascinado com o resultado. "Brown não é só um percussionista, mas, assim como eu, é um cara de sons", diz Memê. Para o produtor, a eletrônica permite sons que não existem em instrumentos. "Ele foi em busca disso, o que não significa que eu tenha de propor uma sonoridade a ele, mas de melhor traduzi-la". Memê recusa a tese do barroquismo de Brown. "Muitas pessoas pensam que as suas letras não fazem sentido, mas, na verdade, ele preoucupa-se com os sons das palavras", pondera. "Fiquei supercontente e lisonjeado em ter participado desse disco", afirmou. Brown e Memê se conheceram, de fato, quando o produtor mixava percussão para o CD de Julio Iglesias. Memê considera que Brown é um músico bem pouco convencional, com divisões musicais completamente distintas de outros. "Brown ficou enlouquecido com a eletrônica", contou. "Brinquei bastante com os recursos de computadores no seu vocal, dando a impressão que emite vários sons, mais do que palavras". Em Salvador, na sexta, Brown mostrou que não guarda mais mágoas da rejeição que sofreu no Rio. Declarou que estava feliz com o evento "porque é possível cantar em paz". E fez até o geralmente comedido Chico Buarque sair de cena aos pulos, animado com o batuque do genro. Seguro de si, provavelmente por estar em seu quintal e sob as bênçãos de seus protetores, Brown ousou cantar uma música do pai do rock brasileiro, Raul Seixas. Com Mosca na Sopa, ele animou a multidão ao acelerar o ritmo no refrão "e não adianta/ vir me detetizar/ pois nem o DDT pode assim me exterminar/ pois você mata uma e vem outra em meu lugar". Mosca na Sopa é adequada à nova fase de Brown, já que mistura pontos de macumba com rock, um sincretismo que o Maluco Beleza produziu com certo pioneirismo nos anos 70.

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