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Cariacica vive 'efeito Paul McCartney'

Produtor que pediu demissão de emprego para cuidar do beatle fala do clima na cidade antes do primeiro grande show de sua história

Foto do author Julio Maria
Por Julio Maria
Atualização:

 Capixaba nenhum, ou quase nenhum, acreditou que era verdade. Paul McCartney, o próprio, não um sósia, estava confirmado para uma apresentação no Estádio Kleber Andrade, em Cariacica, Grande Vitória. O primeiro show de proporções monumentais na história do estado será segunda, dia 10. Mesmo com a notícia oficial, o ceticismo vencia a esperança. “As pessoas não acreditavam”, diz Edu Henning, diretor de operações na produção brasileira do beatle. Ele mesmo, um beatlômano em estágio avançado, tremeu.

Paul exigiu 20 portadores de deficiência visual na plateia Foto: Hans Pennink / Invision / AP

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A porta de entrada da nova turnê de Paul é Cariacica, a quase 30 minutos da capital do Espírito Santo. Como faz dias antes de chegar às cidades, Paul mandou um vídeo falando em gíria local. “Esse show vai ‘pocar’”. Um termo que equivale ao ‘bombar’ do paulista. Ele segue depois para o Rio (HSBC Arena, dia 12), Brasília (Estádio Nacional, dia 23), e São Paulo (Palestra Itália, dias 25 e 26). A turnê 'Out There' é a terceira seguida em menos de três anos que desembarca no Brasil. Vieram antes 'Up And Coming Tour', em 2011, e 'Band on The Run', de 2012.

Na prática, Paul chega com quatro novas vértebras em um mesmo esqueleto. Save Us, New, Queenie Eye e Everybody Out There são do álbum mais recente New, de 2013. Muitos fãs devem torcer pela acústica Early Days, a balada do velho Paul de Blackbird e I’ll Follow the Sun, algo que não está previsto no repertório.

O bloco final e demolidor segue no mesmo espírito. É o segundo bis, quando ele volta para 'Yesterday', 'Helter Skelter', 'Golden Slumbers', 'Carry That Weight' e 'The End'. Até o baterista, o gigante Abe Laboriel Jr, chegou a sair do palco chorando depois de sofrer o impacto da sequência.

Edu Henning personifica a alma de uma cidade que verá Paul pela primeira vez. Quando foi convidado para dirigir a produção da perna capixaba da turnê, ele conta que dirigia 23 rádios e seis emissoras de TV locais. Como cuidar de Paul exigia trabalho exclusivo, pediu demissão nos empregos. “O bonde só passa uma vez”, diz.

O sonho de estar perto de Paul, algo que sua condição de jornalista já havia proporcionado, é precedido por uma realidade de carregador de piano. “Matamos um leão por dia e derrubamos um elefante à tarde”. As frases dos e-mails que chegam em sua tela terminam sempre com uma das três frases: “urgente”, “urgentíssimo” e “se não for assim, não vai ter show”.

Quando desbrava uma terra nova, Paul sabe que a coloca no mundo, mas talvez não tenha conhecimento do terremoto que provoca. Uma praça que nunca recebeu uma atração deste porte tateia pela melhor logística. Segurança pública e mobilidade urbana, além das estruturas de um estádio reformado que estava previsto para ser reinaugurado em sua capacidade total em dezembro, foram tratados em quase uma dezena de reuniões com todos os seguimentos dos poderes públicos. “O nome Paul McCartney ajuda, abre portas, mas tivemos de fazer tudo em um curtíssimo tempo. E conseguimos”, diz Henning. Apesar de a capacidade estar em 39 mil pessoas, a produção resolveu trabalhar com a lotação de 35 mil. Entre nove e onze mil serão fãs de outros estados. Até quinta-feira, ainda havia ingressos à venda.

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E então chegou a lista de exigências de Paul. Uma delas, um piano no quarto do hotel. “Acho que ele vai compor algo aqui na minha cidade”, fala o produtor de 53 anos com a euforia de um garoto de 12. Outra, algo com o qual Henning jamais se deparou em outras produções: a presença de 20 pessoas portadoras de deficiência visual na plateia, devidamente acompanhadas por familiares ou amigos que pudessem dizer a elas tudo o que acontece no palco. “E, a pedido de Paul, tínhamos de pensar em tudo para elas, desde o transporte até a acessibilidade”. Nenhum dos vinte convidados, assim como seus acompanhantes, vai gastar um centavo.

Edu Henning tem como patrão o mesmo homem que deu sentido à sua vida. Desde 1978, ele comanda o programa de rádio 'Clube Big Beatles', algo tão forte na região que rendeu a criação de uma banda com o mesmo nome. Por suas contas, o Big Beatles, em 25 anos de estrada, já fez 55 shows na casa Cavern Club de Londres (a mesma onde os ingleses começaram) e 250 apresentações em festivais de Liverpool. Shows de Paul ele já viu 16 e chegou a levar o baterista Pete Best, o primeiro do grupo, anterior a Ringo Starr, para tocar em Vitória. Na banda de cinco integrantes, em vez dos quatro originais, ele toca gaita, percussão e canta. “Somos em cinco porque é impossível fazer o que eles faziam com quatro”.

Depois que o último caminhão partir de Vitória levando as ferragens de Paul para o Rio, Henning primeiro vai suspirar. “Vou sentir que cumpri a missão”. Depois, cairá das nuvens. “Não sei onde vou trabalhar, depois eu penso nisso”. E, entre uma coisa e outra, quer rever uma das poucas pessoas que ama mais do que Paul McCartney. “Vou passar uma semana abraçado à minha filhinha. Daqui a pouco ela pergunta pra mãe se eu sou a Yoko Ono”.

O Clube Big Beatles em Londres, com Edu Henning à esquerda Foto: Divulgação
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