Cantores usam a música para divulgar a poesia

Poemas de autores consagrados, como Pablo Neruda, de quem se comemora hoje o centenário, ganham versões musicais em CDs recentes

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Por Agencia Estado
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Desde que se concentrou na empreitada de musicar poemas de Pablo Neruda (1904-1973), a cantora e compositora Luciana Souza passou a procurar coincidências entre eles. Descobrir que ambos nasceram no mesmo dia, 12 de julho, foi o mais surpreendente. Antecipando os 100 anos de nascimento do poeta chileno, brindou os apreciadores da boa poesia (e da boa música) com o sofisticado CD Neruda (Sunnyside Records). Seu projeto coincide com o lançamento de outros criteriosos álbuns de poesia cantada. Os mineiros Renato Motha e Patrícia Lobato acabam de chegar com Dois em Pessoa, CD duplo em que ambos musicaram 24 temas de Fernando Pessoa (1888-1935) e seus três principais heterônimos: Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e Ricardo Reis. Obra de outro mineiro, Thelmo Lins Canta Drummond tem músicas de vários autores. "Quis diversificar para não ficar monótono", justifica Lins. Outros projetos semelhantes, de Edu Lobo e Sueli Costa, estão por vir. "Não sei explicar o fato de tantos discos de poemas musicados saírem ao mesmo tempo. Só sei que poesia é a manifestação mais sublime da palavra escrita. E todos estão muito carentes disso", diz Lins. Toda interpretação de poesia é questionável, mas há de se reconhecer a eficácia da música em sua propagação. Funeral de Um Lavrador (João Cabral de Melo Neto) ganhou popularidade depois de musicado por Chico Buarque. Algo semelhante ocorreu com O Amor, de Maiakovski, pelas mãos de Caetano Veloso. Consumidores de cultura pop só tomaram conhecimento de Go Back (Torquato Neto) depois que os Titãs o transformaram num reggae. Enquanto isso, Edu Lobo aguarda a batida do martelo para gravar um trabalho que tem pronto sobre uma poetisa brasileira. "Só não posso revelar quem é porque ainda está em negociação", esquiva-se o autor. Sueli Costa vem há décadas musicando poemas de Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles (1901-1964). Como Lobo, depende de patrocínio para gravar o disco e de autorização dos herdeiros. A negociação é sempre complicada. "Como cada hora surge um obstáculo, e para cada tipo de registro tem um preço, já estou ficando sem paciência," conta Sueli.

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