Cantora Rosalía faz mistura fina de flamenco com pop e hip-hop

Indicada para 5 prêmios Grammy, a cantora sensação da Espanha lança segundo disco, ‘El Mal Querer’, e sonha gravar com Caetano Veloso

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Por Mariane Morisawa
Atualização:
A cantora espanhola Rosália Foto: Vincent West/Reuters

MIAMI - Atende pelo nome de Rosalía e vem da Espanha uma das maiores apostas da música atual. A cantora de 25 anos lançou recentemente seu segundo álbum, El Mal Querer, arrebatou dois prêmios no Grammy Latino (interpretação fusion/urban e canção alternativa), fez uma apresentação concorrida durante a Art Basel Miami Beach e saiu em tudo quanto foi jornal do mundo. No novo disco, Rosalía leva adiante a experimentação com um ritmo tradicional, o flamenco, que já tinha mostrado em seu primeiro trabalho, Los Ángeles

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Aqui, ela mistura o flamenco com pop e hip-hop, além de sons urbanos como o ronco das motocicletas (uma paixão de seus pais) e os efeitos das cenas de kung fu. “O anterior era mais uma reivindicação do material popular, mas tinha uma instrumentação minimalista”, disse a cantora em entrevista exclusiva ao Estado, negando achar que El Mal Querer é menos tradicional que o primeiro. “Neste, há sons novos, talvez seja mais radical. Para mim, são pontos de vista diferentes da inspiração flamenca.” 

Rosalía, nascida na Catalunha, conheceu o flamenco aos 13 anos, com amigos. “Foi como um antes e depois para mim. Descobri uma maneira de expressão visceral e emocionante. A partir daí, comecei a investigar essa música.” Recebeu críticas por ser catalã e se apropriar de um ritmo andaluz, com raízes ciganas. “Há tanto flamenco na Catalunha, a cultura andaluza está presente. E o flamenco não tem fronteiras, até no Japão tem flamenco.” Mas suas influências musicais são ecléticas: Nick Cave, Nina Hagen, Janis Joplin, Kendrick Lamar, Kanye West, James Blake, Björk, Beyoncé, Tomás Luis de Victoria, Caetano Veloso, Gilberto Gil. Com Caetano Veloso, aliás, ela sonha em fazer uma colaboração. “Sua interpretação de Un Vestido y Un Amor mudou minha vida, te juro”, disse. “Ele sempre foi único. Nunca teve medo de ser único e de se arriscar. Por isso o admiro tanto. Você vê que ele dá tudo, coloca o coração em cada palavra.”

Se Los Ángeles falava de morte, El Mal Querer trata do amor sombrio. A estrutura é sofisticada: Rosalía se inspirou num romance do século 13, chamado Flamenco, de autoria desconhecida, e dividiu o álbum em capítulos temáticos, começando por Augúrio, com o hit Malamente, e passando por Casamento (Que No Salga La Luna), Ciúmes (Pienso em Tu Mirá), Liturgia (Bagda, com sample de Cry Me a River, de Justin Timberlake) e terminando com Poder (A Ningún Hombre). As músicas parecem quase cenas de um filme – Rosalía é apaixonada por cinema e fez uma participação no novo longa-metragem de Pedro Almodóvar, estrelado por Penélope Cruz, com previsão de lançamento para 2019. “Mal pude acreditar”, contou. “Foi uma experiência muito boa, ele é um grande líder, com uma visão muito clara. É inspirador vê-lo trabalhar.”

Como uma jovem de seu tempo, Rosalía pensa em palavras como “poder”, “força”, “decisão” e “liberdade” relacionadas às mulheres. Mas ela evita a palavra “feminismo”. “Feminismo significa muitas outras coisas, por isso tenho respeito pela palavra e pelo que ela significa para muitas mulheres”, contou ainda. “Minha mãe é muito independente e forte, ela sempre me inspirou. Sempre me disse que eu tinha de encontrar dentro de mim o que queria fazer e ir atrás até o fim. Se isso é ser feminista, eu sou feminista! E luto muito pelos possíveis papéis que as mulheres podem ter numa indústria, especialmente uma tão masculina quanto a musical.”

Por isso, ela rejeita a competição com a brasileira Anitta, que às vezes tentam provocar. “Música não é competição, isso é absurdo. Sou a favor da colaboração.” E também, docemente, mas decididamente, diz que não é a Beyoncé da Espanha, como gostam de chamá-la. “Beyoncé é Beyoncé. Ela é incrível e poderosa”, garantiu. “Mas Rosalía é Rosalía. Faço minha música com compromisso, com minhas influências, minha cultura, minhas raízes, minhas referências, a forma como vejo as coisas. É como me sinto. As pessoas tentam rotular, mas há todo um trabalho por trás. É algo muito pessoal. Você pode não gostar, mas é único”, acrescentou.

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