Cantora alemã lança álbum de músicas inspiradas nos livros de Paulo Coelho

Ute Lemper vai apresentar 'The 9 Secrets' em maio em um festival na Alemanha

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Por Ubiratan Brasil
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Foi um acaso que resultou em grande parceria – em outubro de 2013, enquanto conversava com o repórter do Estado sobre o show que faria em São Paulo com canções inspiradas na poesia de Pablo Neruda, a atriz, cantora e compositora alemã Ute Lemper confessou ser apaixonada pela obra de Paulo Coelho. “Eu me identifico muito com seus livros, gostaria de realizar um trabalho com ele”, disse ela, para depois ficar surpresa quando o repórter se ofereceu para fazer a ponte entre eles. Feito o contato, a dupla trocou e-mails, telefones até, finalmente, se encontrar no início de dezembro, em Genebra, onde vive o escritor. Lá, Ute apresentou as canções de The 9 Secrets, que serão oficialmente apresentadas em maio, na Alemanha, no Ruhr Festspiele, festival de música e artes cênicas.

“Foi um trabalho que mudou minha vida”, admite Ute, em conversa nesta semana por telefone, desde Nova York, onde vive. “No fim de 2013, minha vida estava conturbada, vivia estressada até que, na Austrália, onde fazia shows, entrei em uma livraria durante uma folga e descobri a versão em inglês de Manuscrito Encontrado em Accra, do Paulo Coelho.”

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Ute já havia lido outras obras do brasileiro, admirava o tom místico da escrita, mas essa a tocou em especial. “Foi uma grande sensação de paz, que acalmou meu coração.” E, além de recomendar o livro para a sua banda, a cantora começou a sublinhar os trechos preferidos e, a cada linha escolhida, sentia mais necessidade de trabalhar com o autor de O Alquimista.

Quando passou a se comunicar com Coelho, Ute descobriu que ele conhecia e admirava sua música, estando disposto a uma viagem criativa. Ute selecionou então as frases mais apaixonantes dos nove capítulos do livro para então iniciar a criação das melodias.

O trabalho não é novidade em sua carreira – além de ser uma das melhores intérpretes das canções de Kurt Weil, Ute musicou versos de amor de Pablo Neruda, que lhe impressionavam pela força poética, e, anos antes, também transformou em canções a escrita ao mesmo tempo bruta e amorosa de Charles Bukowski, um dos grandes nomes da chamada geração beat.

“Se Neruda usou a poesia para falar da realidade e Bukowski foi um vanguardista, Coelho segue por outro caminho, mais intimista, distante do mundo físico”, compara ela, que precisou de seis meses para organizar e encontrar as atmosferas adequadas para as viagens e a sabedoria de cada texto poético do novo projeto.

Nesse período, Ute e Coelho trocaram ideias virtualmente, até se encontrarem pessoalmente. “Confesso ter ficado intimidada pela presença dele, mas logo desatei a fazer tantas perguntas que ele brincou e disse que não sabia que se tratava de uma entrevista”, relembra a cantora. “Não tive nenhuma interferência, ela mesma fez tudo (música, gravação, adaptação da letra, etc) e achei maravilhoso. Pretendo estar presente na estreia”, diz Paulo Coelho. 

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Ute lembra que Coelho lhe contou histórias de sua fase como músico, quando compôs com Raul Seixas. A dupla também conversou sobre Elis Regina e João Gilberto, que são as principais referências da alemã na MPB. “Ao final, agradeci novamente a boa vontade de Coelho em trabalhar comigo. Disse ainda que seu livro é um presente para o mundo e espero ter conseguido manter o mesmo alto nível ao transpor suas palavras a essa terceira dimensão que é a música.”

Em fase de mixagem, o CD contou com os arranjos e a colaboração de dois amigos, Gil Goldstein e Jamshied Sharifi. Ute valeu-se também do carinho de outro colega, o cineasta alemão Volker Schloendorff, que vai criar as imagens que serão projetadas em um telão durante a primeira apresentação do disco. “Pedi que ele se inspirasse em paisagens”, confidencia a cantora, desfrutando agora de uma fase mais tranquila e harmônica. “Não me canso de dizer que esse trabalho mudou profundamente a minha vida.”

Apenas um detalhe ela não comentou com Paulo Coelho, em seu encontro na Suíça: apesar de fã declarada de sua obra, Ute não gostou do mais recente romance do autor, Adultério. “A personagem principal (a jornalista Linda) vive na classe alta, um mundo social que não me atrai, por isso não gostei tanto da trama. Prefiro quando ele trata de temas mais intimistas”, comenta ela. Nada surpreendente para quem se especializou no mundo de cabarés criado por Kurt Weil.

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