Canções infantis conquistam mercado

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Por Agencia Estado
Atualização:

Com o sucesso dos programas ?infantis? da televisão ? Xuxa e suas seguidoras ?, a produção de música para criança entrou em declínio ? como entrou em declínio a produção de música para carnaval. Mas se a marchinha carnalesca, ao que parece, perdeu definitivamente a vez, a composição para crianças recuperou a força, ganhando cuidado e sofisticação, movimento crescente a partir dos anos 90. Boa parte dessa produção se concentra em São Paulo. Há mesmo selos especializados, como o Palavra Cantada, coordenado por Sandra Peres e Paulo Tatit, que tem cinco títulos lançados, dois deles vencedores de Prêmio Sharp: Canções Curiosas (com músicas da dupla, de Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown) e Canções de Ninar (a maioria das músicas é de Sandra e Paulo). Os outros títulos do Palavra Cantada são Nação Erê, Cantigas de Roda e o recém-lançado livro-disco Canções do Brasil. Excetuado o último, os outros CDs têm participação de algumas das melhores vozes da música popular contemporânea ? Mônica Salmaso, Ná Ozetti, Suzana Salles, por exemplo. Cantigas de Roda é a mais bela ? bem realizada, bem interpretada, magnificamente arranjada ? coletânea de temas clássicos do repertório infantil já realizada. Não é pouca coisa. As músicas são as que alegram crianças desde sempre (várias vêm do canto popular e folclórico português) ? A Canoa Virou, Sapo Jururu, Pombinha Branca, A Barata, o Cravo e a Rosa, parlendas ancestrais que ressurgem com graça realçada pelo brilhante trabalho de intérpretes, produtores e arranjadores. Canções do Brasil é um trabalho de pesquisa. São cantos de crianças do Brasil inteiro, gravados in loco em Pernambuco, na Bahia, no Rio, no Acre, no Ceará, no Rio Grande do Sul. Os produtores cuidaram de reproduzir os gêneros musicais, as maneiras de cantar mais típicas de cada região ? do Rio, o samba; de Pernambuco, o maracatu; do Maranhão, o boi; de Minas, a congada. Resultou num mapa sonoro que transcende, mesmo, o rótulo de disco infantil, ainda que os artistas sejam crianças. É um retrato do País. Trabalho semelhante foi realizado, anteriormente, por Dércio Marques e sua irmã, Doroty Marques, em dois discos também admiráveis: Monjolear ? cantos ribeirinhos brasileiros ? e Os Cantos da Mata Atlântica, gravado com coro de 500 crianças de colégios paulistas, obras de preocupação ecológica sem cacoetes panfletários. As vozes adultas infantilizadas e o tom por demais didático de O Que É, o Que É diminuem a qualidade do trabalho, que reúne perguntas e respostas, tudo com música, um projeto de Celso Fortes produzido por Ricardo Cardoso e dirigido por Gil Cardoso. Soa melhor o disco Toda Família, canções de Roseli Novak compostas em 12 anos de trabalho com música para crianças. Trabalho inteligente e de bom gosto, lança mão de ritmos brasileiros e universais para falar do cotidiano e mexer com a imaginação infantil: ?Uma só pessoa/ Pode ser uma família toda/ Essa pessoa é uma multidão/ E vai mudando de geração/ Aquele não mais só filho/ É pai/ Aquele não é mais só pai/ É avô?, canta-se na música-título. Plantas, bichos verdadeiros e inventados ? como um gaiato Tiranossauro Fax ? rios, paisagens diversas habitam Toda Família, que tem show de lançamento marcado para os dias de 12 a 14, no Sesc Vila Mariana. A editora Paulinas tem uma preciosa Coleção Lua Nova, já com 15 títulos lançados, interpretados por coros infantis, boa parte, mas também por André Abujamra (Do Contra), Letícia Belo (O Mímico), Renato Lemos (Clave de Lua). Renato Lemos é co-autor da maioria dos trabalhos e as edições são graficamente primorosas, com ilustrações de Eliardo França. Os temas, como deve ser, divertem, ensinam, educam. É só desligar a TV.

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