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"Cancioneiro Jobim" volta revisto e ampliado

Por Agencia Estado
Atualização:

Todo músico sabe que tocar como Tom Jobim é impossível, mas agora ficou mais fácil tentar imitá-lo. Acabam de chegar às livrarias cinco volumes avulsos do Cancioneiro Jobim, reedição revista e aumentadíssima do livro que saiu há dois anos e já vendeu 2.800 mil exemplares, com as partituras de suas principais canções. Agora, toda a obra do compositor lançada em disco ou como trilha sonora de cinema e televisão tem seus arranjos originais publicados, com a revisão do filho de Tom, Paulo Jobim, que tocava com ele e, a partir dos anos 80, foi seu arranjador. "É um trabalho de toda vida, embora no último ano e meio eu tenha feito um esforço para recuperar cada música como ele escreveu. As mais recentes já tinham uma partitura, mas para as mais antigas foi preciso recorrer a seus arquivos, às gravações ou à memória, porque algumas partituras ficaram com os arranjadores que ele teve", conta Paulo Jobim. "O Tom sempre ficava aflito para ver sua música tocada corretamente, ou ao menos registrada como foi escrita originalmente. Dividimos em cinco volumes porque os músicos tinham dificuldade de equilibar aquele livrão da primeira edição em cima do piano. Livros mais finos são mais fáceis de manipular." Nem tão finos assim, já que são mais de 200 músicas, com partituras para voz e piano e as cifras para violão, divididas em ordem cronológica, "mas com uma certa maracutaia", como explica Paulo Jobim. "Algumas foram compostas em época diferente do que aparecem no livro porque se enquadram em um período posterior à vida dele", cita. "Outra Vez, por exemplo, é de 1954, mas entrou no livro da bossa nova, que vai de 1959 a 1965, quando ele trabalhou com o João Gilberto, porque é muito mais desse estilo que do anterior. Por este mesmo motivo, cada livro cobre espaços de tempo diferentes, desde 1947 até 1994, ano de sua morte." História musical - O Cancioneiro Jobim original também ganhou nova edição, com dois volumes. Um tem as partituras das 42 músicas mais conhecidas e o outro, a biografia musical escrita pelo jornalista Sérgio Augusto, que pesquisou seus arquivos e teve acesso aos famosos cadernos em que Tom fazia anotações, rascunhava e corrigia músicas ou registrava suas impressões sobre fatos corriqueiros. "Essa foi minha vantagem sobre outros biógrafos de Tom, embora meu intento fosse contar só a história musical, não sua vida", diz Sérgio Augusto. "Sérgio Cabral, por exemplo, escreveu antes de esses cadernos terem sido encontrados. No mais, foi fácil reconstituir a trajetória, porque o arquivo pessoal de Tom Jobim é organizadíssimo. A primeira mulher dele, Tereza, tinha tudo, até a primeira referência na imprensa. Depois, a Ana, sua segunda mulher retomou esse acervo." Enquanto os músicos, profissionais e amadores, se deleitarão com a genialidade de Tom Jobim, os leigos conhecerão histórias saborosíssimas das músicas e do processo criativo do compositor de Ipanema. Vão conhecer também as diversas fases por que suas músicas passavam, no burilamento que ele lhes dava. "Tem, por exemplo, a primeira letra de ´Garota de Ipanema´, que o Tom escreveu antes de dá-la para Vinícius de Moraes, falando de gaivotas", conta Sérgio Augusto. "Algumas histórias, eu deixei de fora por considerar que não diziam respeito à sua música e outras estão mais bem contadas nos textos que ele mesmo escreveu." O livro tem reproduções desses cadernos e fotos, muitas, do maestro trabalhando, com amigos e a família, da juventude até antes da morte. Assim como seu talento é unaminidade, Tom é considerado um dos homens mais bonitos de sua geração e as imagens justificam essa fama. Há também momentos íntimos, como o do maestro debruçado sobre seu piano, em 1986, ou tomando água de um riacho em Brasília, com Vinícius, em 1959, antes de a cidade tornar-se capital do País. Os dois estavam no canteiro de obras da cidade, para escrever a "Sinfonia da Alvorada" e, quando perguntaram a um candango se a água era potável, ele respondeu que sim, era água de beber, expressão que virou título de um dos maiores sucessos da dupla, gravada inclusive por Frank Sinatra. Sérgio Augusto reconhece que a biografia musical não esgota o acervo sobre Tom Jobim, dada à quantidade de informações disponíveis, mas é pouco provável que se venha a conhecer composições ou gravações inéditas dele. Existe material mas a família é cautelosa. "Se ele deixou de lado é porque achou que não valia a pena ou não gostou. Preferimos ter esse escrúpulo a divulgar algo que ele poderia não aprovar", justifica-se Paulo Jobim. Não que faltem solicitações. Para atendê-las, foi criado o Instituto Tom Jobim, que terá um site biográfico (também escrito por Sérgio Augusto) e as partituras originais disponíveis. "O ´Cancioneiro Jobim´ é o primeiro lançamento do Instituto e responde melhor aos pedidos que vínhamos atendendo informalmente." A divisão dos livros em capítulos também favorece músicos menos abonados. Os cinco volumes com a obra custam de R$ 40,00 a R$ 60,00 e são vendidos separadamente. Já os dois volumes da segunda edição do Cancioneiro Jobim custam R$ 210,00.

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