PUBLICIDADE

Canadense k.d.lang lança disco com sabor brasuca

Cantora premiada com o quatro Grammys e elogiada por Tony Bennett lança 'Watershed'

Por Jotabê Medeiros
Atualização:

Vencedora de quatro prêmios Grammy, incensada por monumentos da canção americana, como o cantor Tony Bennett, com quem gravou e excursionou durante dois anos, a canadense k.d. lang está de volta com um disco novo, Watershed.   Veja também: Ouça 'Upstream', do álbum 'Watershed', de k.d. lang    É uma coleção de 11 canções inéditas, todas compostas e produzidas por ela, coisa que ela não fazia desde o ano 2000. A palavra watershed significa algo como uma linha divisória de águas, um lugar onde as águas se encontram num rio, uma fronteira móvel. É desse jeito que a cantora, hoje com 46 anos, definiu seu atual espírito, em entrevista ao Estado.   Ela confessa que sofreu "bloqueio criativo" devido a uma série de coisas, que vão desde os atentados de 11 de Setembro de 2001 em Nova York ao fim de um relacionamento amoroso. "Depois do 11 de Setembro, eu achei que não conseguiria mais gravar canções de amor, me parecia algo muito frívolo."   "Nesse período, me dediquei à atividade de intérprete, gravando canções que são um patrimônio da música americana. Foi um grande aprendizado minha relação com Tony Bennett, um mestre incontestável", ela contou. k.d. define da seguinte maneira a diferença entre sua atividade como intérprete e como cantora-compositora de temas originais: "Como intérprete, sou muito objetiva, busco o personagem, encaro suas emoções. Como compositora, não há um personagem, sou eu mesma, estou em minha própria pele. Gosto de fazer as duas coisas. Interpretar uma canção como Crying, por exemplo (composição de Roy Orbison), é algo muito poderoso, tem uma carga de história muito forte naquilo."   Agora, com uma nova namorada, feliz da vida, ela regressa com sua coleção de 11 amorosas canções. Em Watershed, a última música, Jealous Dog, parece ter sido feita sob encomenda para Johnny Cash, tal a evocação que ela causa. A cantora se derrete com o comentário. "Eu adoraria que ele tivesse cantado essa. Mas é só uma pequena canção", afirmou, com infinita modéstia.   "Voltar a produzir a mim mesma é também um jeito de proteger minhas canções", confessa k.d. lang, revelando-se uma artista muito ciosa. Ela contou que também tem escrito letras e canções desde o ano 2000, mas que o processo foi lento e depurado. "As coisas mudaram bastante na minha vida nesses 8 anos, e a música mudou também", disse.   Há uma música no álbum que ela jura que tem um sabor brasileiro, Upstream, com percussão bem marcada. Na verdade, parece que tem um acento mais jazzístico, mas parece que tudo que k.d. toca vira standard. Ela esteve no Brasil em 2003, para cantar no TIM Festival, e disse que carrega as mais fortes impressões do País. "Lembro de tudo, do Posto 9, do fascinante nome do aeroporto do Rio, Tom Jobim, do orgulho que as pessoas têm da música e da sua cultura. Sei que pode parecer banal, mas eu vejo isso não de forma kitsch ou pelo apelo comercial. As pessoas levam a vida numa boa no Rio , e são tão bonitas!"   Ela comentou o calvário de um dos novos nomes mais expressivos do pop mundial, a inglesa Amy Winehouse, que vive sendo internada para tratamento de dependências diversas. "É uma grande cantora. As pessoas a vêem muito mais pelo lado das dificuldades pessoais. É duro separar a imagem do artista, mas pode ser perigoso definir alguém pela imagem, tanto para o artista quanto para seu público. Sei que o culto à celebridade é o novo comércio, e a idolatria é uma armadilha perigosa."   Desde 1983, quando começou sua carreira, a cantora, nascida Kathryn Dawn Lang, sempre brigou para que grafassem seu nome abreviado e todo com letras minúsculas. Não é, como se pode pensar, uma homenagem ao poeta e.e. cummings, mas uma decisão pessoal.   Vegetariana, participa da organização contra o morticínio de animais, a Peta, e também colabora com entidades como Greenpeace e Friends of the Earth. Foi a autora da trilha sonora do filme de Gus Van Sant, Até as Vaqueiras Ficam Tristes (Even Cowgirls Get The Blues). Foi ativa militante dos direitos dos homossexuais, mas hoje não gosta muito da militância. Em 2003, relutou antes de comentar o beijo que Madonna trocou com Britney Spears e Christina Aguilera, na festa dos Video Music Awards: "Elas não fizeram aquilo a sério, mas com um intuito publicitário, e isso não é a vida real."   k.d. lang tem uma carreira prolífica: cantou no disco Duets, com Elton John; dividiu microfones com George Michael e Andy Bell, do Erasure; participou de jornadas beneficentes de Paul McCartney. É uma artista cujas raízes estão muito bem delineadas pelo country (sua maior referência musical é a cantora Peggy Lee), mas que tem uma obra pontuada por outras relações. Foi amiga de Roy Orbison nos seus últimos anos de vida. No seu belo disco Invincible Summer, em 1998, o título citava Albert Camus.   Em entrevista no início desta semana à CNN, ela se definiu como uma "nômade musical", rejeitando rótulos. "Não gosto de ser chamada de cantora country. Sou uma cantora. Eu não me fixo em gêneros, sou uma nômade musical." Bom, essa nômade musical, no entanto, só deve dar as caras por aqui em 2009. "Provavelmente não vai dar este ano, embora eu não esteja 100% certa. Mas quero muito voltar ao seu país, e no ano que vem certamente irei."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.