Caixa reúne 28 CDs de Gilberto Gil

Com álbuns inéditos e coletâneas de sobras de estúdio, material sedimenta legado do músico baiano, que este ano completou 60 anos de vida, 42 de carreira

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Por Agencia Estado
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São 42 anos de carreira, quase um disco por ano, sete filhos, quatro casamentos, um mandato legislativo na Bahia, participações em ONGs e no conselho do Comunidade Solidária, militância ecológica e política. Os 60 anos de vida de Gilberto Passos Gil Moreira dão um tratado, mas no momento renderam mais uma caixa de discos. Palco (Warner Music), que reúne 28 CDs e uma pequena biografia do cantor baiano chega amanhã às lojas de discos comemorando com certo atraso o aniversário do cantor, celebrado em julho. "Passei dois terços da minha vida no palco", disse o cantor, na terça, logo depois de gravar um especial no Projac com a dupla Sandy & Júnior. A caixa complementa outra lançada há alguns anos pela Universal, com parte da discografia do cantor - dez discos - por outra companhia. A primeira reunião trazia os discos de Gil de 1965 (data de seu primeiro elepê) até 1975, quando mudou de gravadora. Agora, a nova caixa cobre de 1975 a 2002. É um investimento alto (R$ 850,00, segundo informa a gravadora Warner), mas quem é realmente fã de Gilberto Gil deverá tentar arrumar essa caixa Palco. Ela traz dois discos de Gil jamais lançados no Brasil, Nightingale (1979) e Quilombo (1984, este a trilha do filme homônimo de Cacá Diegues). Além desses dois álbuns, é lançada também a trilha que o cantor fez para Z (1995), coreografia do Balé da Cidade de São Paulo; a compilação Salvador, 1962-1963, com os primeiros grandes sucessos de Gil na fase inicial de sua carreira, pela gravadora baiana JS Discos; e dois discos de sobras de gravações To Be Alive Is Good (anos 80) e It´s Good To Be Alive (1990). Estão no pacote também discos que já fizeram história, como Quanta Gente Veio Ver (1998), com o qual o cantor ganhou um Grammy de world music - 20 anos depois de ter tentado conquistar a América, mudando-se para Los Angeles e gravando Nightingale. "Eu adorei o Grammy por causa desse disco ter sido totalmente meu", afirma Gil, no CD. "É uma produção minha, os shows foram gravados em Adat. Eu gostava do show e gostei de ganhar um Grammy com um disco ao vivo, porque me representa mais nitidamente." Há também uma razão extra, segundo informa o texto da minibiografia O Viramundo, que acompanha a caixa. Quando Gil lançou Quanta Gente Veio Ver tinha acabado de passar por um tratamento de saúde - teve problemas nas cordas vocais - e alguns meses de angústia, sem saber se conseguiria voltar a ser o mesmo cantor de antes. A trilha para o balé Z foi feita logo a seguir ao disco O Sol de Oslo (1994). As conexões entre um e outro são muitas. Um é decorrência do outro, porque quando gravou O Sol de Oslo o cantor estava produzindo um trabalho para o grupo Pau Brasil, de Rodolfo Stroeter, com participações também de Marlui Miranda e do percussionista Trilok Gurtu. Um dos discos mais curiosos do pacote é a trilha sonora do filme Quilombo (1984), de Cacá Diegues, composta em parceria com Waly Salomão. No Brasil, ela saiu apenas como um compacto simples, conta o cantor. "Lá na França foi um disco duplo, com a trilha sonora inteira, e ficou em segundo lugar em Cannes", lembra ele. Vários discos marcam momentos-chave da carreira do músico. Dia Dorim Noite Neon (1985) foi lançado para celebrar àquela altura os 20 anos de carreira do artista - Gil estabeleceu como marco inicial o lançamento do primeiro elepê, em 1975. Com Dia Dorim Noite Neon, ele começava a estabelecer um diálogo próspero com uma nova geração do rock brasileiro, como Paralamas do Sucesso, Lulu Santos, Cazuza, Titãs e outros. Logo depois, ele gravaria com Herbert Vianna Alagados, um dos maiores sucessos dos Paralamas, e escreveria a quatro mãos o hit A Novidade. Os anos 80 foram intensos para o cantor. Em 1987, ele passou um ano trabalhando como secretário de Cultura do município de Salvador. Um ano depois, anunciou que era candidato à prefeitura da capital baiana, mas não passa pela convenção do partido. Decidido, candidata-se então a vereador e é eleito, com mais de 11 mil votos. A política convencional deixou Gil um tanto desiludido - ele se considera inapto para exercê-la -, mas nunca deixa de lado a militância. As últimas aparições foram ao lado do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva. Ao contrário de Caetano, que preferiu a neutralidade, Gil apoiou abertamente Lula e foi um dos que mereceram mais deferências do presidente, durante encontro recente no Canecão. Sempre buscando atualizar-se nos temas e na música, Gil fez Quanta (1997) em sintonia com as discussões sobre internet e tecnologia que esquentaram nos estertores do século. Quando lançou Kaya N´Gan Daya, este ano, o disco em homenagem ao ídolo Bob Marley, Gil contou que - no mesmo dia em que o lançou - sua filha, pelo computador, conseguiu baixar o disco inteiro pela internet. Dias depois, atravessou a rua do hotel em que se encontrava, na Rua Augusta, e ficou abismado ao ver que já havia cópia pirata do álbum no comércio ambulante. Longe de mostrar-se indignado, no entanto, ele vê a coisa toda como um sinal dos tempos. Hora de a indústria adaptar-se a essa realidade, diz. Palco - Caixa com 28 CDs de Gilberto Gil. R$ 850,00. Warner Music. Tiragem limitada de 2 mil exemplares. Nas lojas de discos.

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