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Caetano e Mautner lançam "Eu não Peço Desculpa"

Amigos há 30 anos, Caetano Veloso e Jorge Mautner falam sobre o novo álbum, que tem participação de Gilberto Gil, Moreno Veloso, Paulão 7 Cordas e Nelson Jacobina

Por Agencia Estado
Atualização:

O compositor e escritor Jorge Mautner esteve por perto nos momentos críticos de Caetano Veloso, seu amigo há 30 anos. Eles se conheceram em Londres, quando o baiano vivia agruras do exílio e se reencontraram no último verão, quando Caetano passava por momentos que ele classifica como amargos por misturarem o impacto da destruição das Torres Gêmeas de Nova York com questões pessoais. Das conversas desse período, surgiu o disco Eu não Peço Desculpa, parceria que surpreende pela demora em ocorrer por causa da interferência que um sempre teve na vida e no trabalho do outro. "O disco saiu na época perfeita, porque teve tempo de amadurecer. Não falamos de amarguras, mas das alegrias", explica Caetano. "Comecei a sentir o mundo estranho quando os talibãs destruíram os budas do Afeganistão e estive em Nova York no dia 10 de setembro. Isso e outras questões me trouxeram uma amargura que só se interrompeu no carnaval, quando vi Mautner cantando o Hino do Carnaval Brasileiro num trio elétrico. Daí surgiu o disco", completa Caetano. Os dois juntaram-se no estúdio com alguns músicos da banda do show Noites do Norte, trouxeram Gilberto Gil para cantar uma e letrar outra canção e Nelson Jacobina, eterno parceiro de Mautner, para compor e tocar em algumas faixas. De repente, a angústia motivadora do disco começou a resolver-se. "Tratamos de medo e terror, risos e gargalhadas, mas o assunto central é conciliação e reconciliação", adianta Mautner. "Fomos direto ao conteúdo das coisas. Agora, como há 30 anos, Mautner trouxe novidade ao nosso modo de olhar as coisas, uma avaliação nova, não só na música, mas na política, na vida, em tudo", acrescenta Caetano. Essa sintonia se estende ao disco, desde a primeira faixa, a brega Todo Errado, inspirada no pai de Mautner. "Ele me dizia ´não importa o que você fizer, estará sempre errado´", conta. É uma brincadeira, tal como Tarado, Doidão, ou Morre-se Assim, mas há um travo de angústia. Já as faixas seríssimas ou trágicas são apresentadas com uma leveza que contrasta com as letras. É assim com Homem-Bomba (um samba tradicional, bem brejeiro), Graça Divina, Coisa Assassina ou mesmo Feitiço, que consideram a síntese por ser um samba-exaltação que não esquece nossas mazelas. Já as regravações têm versões tradicionais. O Hino do Carnaval Brasileiro, de Lamartine Babo, ficou igual aos bailes de carnaval de 50 anos atrás. Maracatu Atômico, o maior sucesso de Mautner, ganhou percussão típica desse gênero criado pelos negros pernambucanos. "Mas com um toque baiano", lembra Caetano. E Cajuína veio com violinos que levaram o Piauí de Torquato Neto para a Europa Central, região de origem da família de Mautner. Disco pronto, com direito a clipe superproduzido, estrelado pela Esquadrilha da Fumaça, Caetano promete um show com o companheiro de tantas batalhas. No último domingo, levou 100 mil pessoas à Praia de Copacabana e participa, nesta quarta-feira, do show do grupo O Rappa, no Canecão para garantir o pagamento dos custos hospitalares do percussionista do grupo, Paulo Negueba, internado desde o dia 9 de agosto, quando foi baleado numa invasão de Vigário Geral, favela da zona norte da cidade onde mora. Negueba deve ficar internado por mais duas semanas.

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