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Buena Vista Social Club chega a São Paulo

Por Agencia Estado
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Depois de incendiar Buenos Aires com um show repleto de clássicos do cancioneiro latino, como El Día Que Me Quieras, Dos Gardenias, Candela e Silencio, o centro nervoso do Buena Vista Social Club desembarca em São Paulo para uma única apresentação no Via Funchal. Os ingressos para ver o trio Omara Portuondo, Ibrahim Ferrer e Rubén González, segundo informaram os promotores do show, já estão esgotados há uma semana. "Da última vez tivemos uma calorosa acolhida no Brasil e, desde então, eu espero voltar para cantar para os brasileiros", disse o cantor Ibrahim Ferrer em entrevista na semana passada à Agência Estado, não sem demonstrar uma certa contrariedade por tocar apenas uma noite. "Temos contrato para apenas um show, mas se nos quiserem por mais algumas noites, teremos muito prazer em ficar", disse o músico. Mas não há a menor chance de um show extra, informou a produção do espetáculo. Hoje à tarde, já em São Paulo, os três integrantes dessa representação do Buena Vista Social Club - o time de veteranos cubanos reunido em grupo pelo guitarrista americano Ry Cooder e ganhador de um Grammy, em 1996 - falariam com a imprensa. Mas incluíram uma curiosa proibição no rol de exigências aos jornalistas: "Não poderão ser abordados assuntos relacionados à política". O problema certamente está na insistência da imprensa mundial em saber para quem vai o dinheiro - não pouco - que o grupo tem arrecadado desde que foi ressuscitado para as platéias do mundo. Há quem diga que vai direto para Fidel Castro. Há quem diga que boa parte dele fica retido nos cofres do empresário britânico do grupo, Nick Gold. "Nick é um sobrinho meu, um homem que está levando isso muito bem e não há porque colocar em dúvida sua eficiência e honestidade", disse a cantora Omara Portuondo, atualmente a maior intérprete da música cubana em atividade. Segundo salientou recentemente o maestro Juan de Marcos González, produtor do álbum Buena Vista Social Club, "ninguém está roubando os músicos cubanos" e eles "pagam uma taxa" sobre seus lucros, "como todo mundo". Negócios à parte, o fato é que esse braço itinerante do Buena Vista Social Club - ficam devendo ainda uma visita do grande showman Compay Segundo - traz o brilho da música pré-revolucionária de volta aos palcos do mundo com os sons dos anos 40 e 50. Os músicos do Buena Vista Social Club e os do Afro Cuban All Stars são responsáveis por um renascimento da música da ilha. Mais que isso: eles se ocupam em recolocar em cena ritmos genuínos - como o son, as guajiras, cha-cha-chas, boleros e rumbas - que foram engolfados ao longo dos anos por uma visão pasteurizada da música latina. A salsa hollywoodiana sai de cena para que Cuba possa mostrar sua verdadeira cultura musical - o que inclui a arte da dança e a santeria (espécie de umbanda cubana) de Omara Portuondo. Ela entra em cena bailando, paramentada como nos rituais de santeria, toda de branco. Famosa intérprete de boleros, discípula de Edith Piaf e María Tereza Vera, como explica. "Sou uma flor solitária entre todos esses homens", diverte-se Omara, 70 anos, ex-bailarina do célebre Tropicana de Havana. Na Argentina, pôs fogo no circo quando cantou Veinte Naños. "O jazz também me influenciou, mas principalmente as rumbas, os cha-cha-chas e os boleros e os tangos", ela contou. "Tenho ouvido algumas novas cantoras de Cuba e muitas delas são muito inspiradas, como a belíssima Haydée Milanez, filha de Pablo", afirmou a cantora, que também se declara até hoje uma "cuartetera" - alusão ao famoso Cuarteto de Las Aida, que integrou por muitos anos em Havana. Ibrahim Ferrer, com sua inseparável boina de feltro e sapatos dourados, está vivendo o que ele chama de uma "sobrevida" artística. Ex-engraxate e vendedor de frutas nas ruas de Havana, o cantor diz que está ganhando algum dinheiro, mas que sua principal motivação hoje é renovar-se a cada concerto em lugares que sempre sonhou visitar - e nunca pode. E há o sofisticado pianista Rubén González, de 81 anos e que - segundo Omara - é o ponto de convergência de toda a velha-guarda da música cubana. "Todos, em algum ponto da carreira, tocaram com Rubén", ela diz. Mas, dos três, González é o que não fala com a imprensa, não se sabe exatamente por que motivo. O repertório do grupo Buena Vista, além dos clássicos já citados, poderá incluir Negra Tomasa (Rodriguez Fife), Donde Estabas Tú (Ernesto Duarte), Bruja Manigua (Arsenio Rodriguez) e Que Bueno Baila Usted (Benny Moré), entre outras. A banda Havana Brasil, com a cantora Andréa Marquee, é que terá a incumbência de abrir a noite à cubana. Buena Vista Social Club. Amanhã, às 21h30. De R$ 35,00 a R$ 120,00. Via Funchal. Rua Funchal, 65, São Paulo tel.: (11) 3846-2300. Patrocínio: Ajato.

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