Buddy Guy traz a SP a magia do blues

Um dos remanescentes do blues mainstream americano, o guitarrista chega ao Brasil em turnê de lançamento de Sweet Tea, em que retorna às raízes do gênero

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Por Agencia Estado
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O guitarrista norte-americano Buddy Guy toca sábado e domingo no Credicard Hall, em São Paulo, fazendo a turnê de lançamento do seu disco Sweet Tea, um dos mais elogiados álbuns de blues da temporada. O álbum foi lançado no Brasil pela Zomba Records. Considerado um dos remanescentes do blues mainstream americano, Guy tem 66 anos e demorou para ser reconhecido como um dos músicos mais importantes do gênero. Ele mesmo não se põe jamais em primeiro lugar. É de uma modéstia ímpar. "B.B. King nos deu tudo. Quando ele chegou e dedilhou as cordas, pôs um mundo inteiro em torno de sua guitarra. Meu pai, antes de morrer, me disse que, se quisesse aprender a tocar uma guitarra, que olhasse para B.B. King. Ele não comete erros. Eu cometo um monte deles; você sabe, às vezes toco uma nota errada. Nunca o vi fazer isso." Em Sweet Tea (nome também do estúdio onde o álbum foi gravado), Buddy Guy toca o blues clássico, tendo como base o repertório dos artistas de um selo mítico do gênero, Fat Possum Records. Toca sua Stratocaster com grande habilidade e senso do espetáculo e da pirotecnia, como sempre - conta o crítico Andy Schwartz que, uma vez, em 1969, ele fraturou o pé durante um show no Central Park de Nova York e ainda assim continuou tocando. Expoente do som de Chicago, cidade que acolheu uma grande leva de imigrantes do blues, Guy tem um currículo muito rico, começando sob influência de Lightnin´ Slim e John Lee Hooker (a primeira coisa que tocou em sua guitarra foi Boogie Chillun, de Hooker) e terminando como um embaixador internacional do blues. Foi um dos responsáveis pela invasão inglesa nos anos 60, influenciando guitarristas como Eric Clapton, Keith Richards e John Mayall, entre outros. E também esteve na conexão com outras peças-chave da música do século 20. Por exemplo: tocou acompanhando o pianista Sun Ra (1914-1993), codinome de Herman "Sonny" Blount, misteriosa figura que clamava ter vindo de Saturno e deu uma abordagem teatral ao jazz, mesclando-o com a música negra americana de raiz. Buddy Guy lembra que costumava vir tocar em São Paulo nos anos 80. Apresentava-se no 150 Night Club do Maksoud Plaza e era tratado como um rei, coisa que não entendia. No seu país, ainda vivia um desconfortável anonimato, a despeito de toda a folha corrida em prol do blues. "Vivemos ainda a mesma situação de sempre; somente algumas rádios tocam o blues, não há artistas do gênero em shows de televisão e as novas gerações não têm contato com nossa música", disse o guitarrista, em entrevista há duas semanas. "O passado do blues não chega às novas gerações também porque o mainstream está morrendo e os novos bluesmen não viram aquilo que nós vimos, e talvez nem queiram saber", pondera. Ele foi um raro bluesmen na gravação do disco beneficente Concert for New York, tocando com Eric Clapton. Vive um momento de badalação, mas não se deixa deslumbrar. "Man, fui dormir ontem e acordei hoje como um cidadão distinto", ele diz, com ironia. "Os garotos olham para mim e agora me chamam de lenda e eu digo: ´Espere um minuto. Ainda ontem eu era empurrado pelo Muddy (Waters)!´" Nascido em 30 de julho de 1936 em Lettsworth, Louisiana, como conta a autobiografia Damn Right, I´ve Got the Blues (Woodford Press, 1994), Buddy Guy está hoje léguas do músico de sessões que subiu com um "empurrãozinho" de Muddy Waters. Possui um dos mais badalados night clubs de Chicago, o Legends. E ganhou quatro prêmios Grammy em sua carreira. Em 1991, 1993 e 1995 ganhou por melhor álbum de blues contemporâneo. Ele diz que "blues contemporâneo" é uma "categoria política", não gosta muito da definição restritiva. "Contemporâneo ou o que quer que seja, para mim é sempre o blues, não tem essa divisão." Em 1996, ele levou outro de melhor performance instrumental de rock pela participação no álbum SRV Shuffle, um tributo all star a Stevie Ray Vaughan, o guitarrista branco que repôs o blues no centro das atenções no começo dos anos 80. Buddy Guy contou que encarou a gravação de Sweet Tea como um desafio para si mesmo. Ele já não se lembrava muito do som do blues do norte do Mississippi, um som mais rústico e cru do que o que se acostumara em suas recentes turnês, cheias de produção e efeito. "Eu cresci na região, mas não tocava aquilo havia muito tempo", disse. "Então, o produtor (Dennis Herring, também dono do estúdio "Sweet Tea") me levou ao estúdio e me disse para esquecer o jeito que estava acostumado a gravar, que não haveria muita tecnologia à disposição, gravaríamos coisas mais acústicas." Mesmo as canções que iria gravar não eram muito familiares. "Disseram que eu ia gravar a música de Junior Kimbrough e eu disse: Junior quem?", afirmou. Veterano músico, Junior Kimbrough tinha 62 anos quando gravou o primeiro disco e morreu em 2000. Só pouco antes disso experimentou algum reconhecimento, quando teve o álbum All Night Long considerado o melhor disco de blues daquele ano pela Rolling Stone. Redescobrir sua música, segundo Guy, foi uma grata surpresa. "O som de Sweet Tea me lembra o som de Smokey Hoggs, de Sonny Boy Williamsons, de Lightnin´ Hopkins todos aqueles caras tocando por um tostão furado no chapéu. O peixe frito no sábado... Você se divertiu, e acordou na manhã seguinte com uma dor de cabeça, bebeu o vinho ou a cerveja, agarrou a guitarra e começa a fazer tudo de novo", ele diz. O álbum novo de Guy, no entanto, também tem ataques de guitarra que podem remeter imediatamente a Jimi Hendrix e aos tempos em que tocava na banda de Alvin Youngblood. É o caso da faixa Baby, Please Don´t Leave Me, de Kimbrough. Torçam para que toque essa. O grupo que o acompanhou era excepcional, contando com músicos das bandas de T-Model Ford, Jelly Roll Kings, Squirrel Nut Zippers e o baterista Pete Thomas, dos Attractions de Elvis Costello. A banda que acompanha Buddy Guy no Brasil, segundo informação da produtora do espetáculo, tem Frank Band (guitarra), Jerry Bling-Bling (bateria), Orlando J. Wright (baixo), Tony Z (teclados) e Jay Moinihan (saxofone). Buddy Guy. Sábado, às 22 horas; e domingo, às 20 horas. De R$ 20,00 a R$ 150,00. Desconto de 25% para clientes Visa. Credicard Hall. Avenida das Nações Unidas, 17.955, São Paulo, tel. 6846-6000. Patrocínio: Visa.

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